A assessoria de imprensa e a construção da imagem na política
No final da década de 2000 aceitei o convite para coordenar a equipe de comunicação de um deputado federal suplente, que herdara a vaga de um colega eleito prefeito de uma cidade gaúcha. O desafio proposto pela coordenação política era de reconstruir a imagem do deputado – que vinha de derrota em uma eleição municipal – e reposicioná-lo como uma liderança regional além das fronteiras de seu município, com o objetivo de garantir sua reeleição.
O ano era 2009 e o Orkut era a rede social preferida dos brasileiros, seguido pelo MSN e o Blogger - com exceção da plataforma de blogs, as demais não eram exploradas pelo marketing político. O Twitter começava a se impor e construir público, mas tudo ainda era ‘mato’. Neste contexto a estratégia escolhida foi de constituir uma equipe para trabalhar, basicamente, em cima de ações de assessoria de imprensa.
O primeiro passo foi mapear os veículos de todos os portes, presentes nos 30 municípios da região da base eleitoral do mandato, estabelecendo relação com pauteiros, produtores, gerentes, apresentadores, repórteres e diretores.
Com o objetivo de buscar uma maior aproximação e, consequentemente, mais espaço decidimos adotar uma estratégia fora do denominador comum das demais assessorias e apostamos em atuar na forma de um híbrido de assessoria de imprensa-agência de notícias-relações públicas.
Assim passamos a oferecer aos jornais, rádios, sites e blogs do interior da região acesso rápido e ágil tanto a notícias, como a fontes do Governo Federal e do Congresso Nacional, sem a necessidade de nosso assessorado ser citado ou incluído nos conteúdos distribuídos.
Paralelamente passamos a oferecer produtos especiais como séries de reportagens e programas de rádio (percursores dos hoje consagrados podcasts), sobre assuntos de interesse geral e nos quais nosso assessorado costumava aparecer como uma das fontes ouvidas.
Esta prática gerou um grande volume de trabalho, mas também possibilitou a construção de um relacionamento íntimo com os veículos, o que consequentemente abriu espaços generosos, de grande alcance e sem custo algum para o mandato.
(...) passamos a dedicar atenção especial aos pequenos jornais semanais ou quinzenais e as emissoras comunitárias, ao invés de desperdiçar energia em disputas cotidianas por espaço nos grandes veículos,
com outros mandatos.
À medida que páginas e microfones eram abertos, começamos a introduzir pautas sobre temas de relevância regional, nas quais nosso assessorado aparecia como fonte especialista no assunto ou o principal interlocutor das comunidades junto ao governo federal, consolidando dessa forma sua imagem como líder regional, capaz de interpretar e solucionar problemas que impactavam na vida de todos.
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O reforço a esta imagem era feito periodicamente com a distribuição de materiais de divulgação das ações do mandato por todas as cidades da região e de materiais pontuais referentes a microrregiões ou pautas específicas.
PRODUÇÃO PRÓPRIA E PEQUENOS VEÍCULOS
A estratégia de atuar na forma ‘agência de notícias’ não apenas garantiu proximidade com os veículos, mas também construiu em nosso time a cultura de nunca esperar pelas demandas externas, mas sim manter uma linha, sempre ativa, de produção e distribuição de materiais institucionais.
Essa prática tornou nossa assessoria uma importante fonte de conteúdo para os pequenos veículos do interior da região, muitos dos quais dependiam de nossos materiais para fechar edições ou manter programações no ar.
A partir da constatação e da repercussão positiva dos materiais da assessoria nas comunidades – apurados pelos agentes políticos locais ou durante as visitas aos municípios - passamos a dedicar atenção especial aos pequenos jornais semanais ou quinzenais e as emissoras comunitárias, ao invés de desperdiçar energia em disputas cotidianas por espaço nos grandes veículos, com outros mandatos.
MENSURAÇÃO DO RESULTADO
Após 18 meses de trabalho passamos pela maior avaliação a qual um trabalho em assessoria política pode ser submetido: uma eleição.
Em 2006 a votação total do deputado foi de 70.411 votos e, em 2010 se atingiu a marca de 87.103 votos em um aumento de 23,7%. Em algumas cidades do interior, sede de veículos locais ou microrregionais com os quais a assessoria manteve intensa parceria, os percentuais de incremento da votação variaram de 54% até 188%.
Apesar do crescimento da votação a reeleição direta não veio. Porém nosso assessorado, ficou colocado como primeiro suplente e voltou à Câmara dos Deputados para mais quatro anos de mandato e o capital eleitoral construído naquela eleição foi mantido garantindo-lhe uma recente eleição para deputado estadual.
Jornalista | Assessora de Comunicação
2 aEstratégia interessantíssima de pautar a imprensa. Esse é o trabalho de um assessor. Gostei muito do texto, me deixou reflexiva.
Especialista em Comunicação – Empresarial (Corporativa e Institucional) | Jornalista
3 aExcelente. Parabéns!