Brasil possível no pódio da Olimpíadas

O time Brasil que brilhou na Olimpíadas de Tóquio, trazendo o maior número de medalhas até agora, é um retrato da nossa população. O sobrenome mais comum entre os 309 atletas é Silva (o primeiro é Ana), 41 fizeram vaquinhas para ir ao Japão, 33 têm outras profissões (5, a maioria, é motorista de aplicativo). Não é por menos: 42,4% não tinham nenhum patrocínio e 46,7% recebiam bolsas de até R$ 3,1 mil. 

 

Este perfil, feito pelo Globo Esporte, reafirma o brilho dos brasileiros nos Jogos Olímpicos mais por conta do esforço pessoal. Do surfista que começou treinando em uma tampa de isopor emprestada pelo pai vendedor de peixe, da ginasta que encantou o mundo e do velocista beneficiados por programas sociais, do canoeiro remador desde criança, único meio de transporte para se locomover no interior da Bahia... Sobram histórias de heroínas e heróis. 

 

Os Silva, quase desconhecidos dos próprios brasileiros, foram responsáveis por boa parte das 21 medalhas, superando o total de 19 conquistado no Rio, em 2016. Foram 7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze, levando o Brasil do 13º para o 12º posto no ranking geral.

 

A escolaridade é outro indicativo da trajetória solitária de boa parte dos atletas, apoiados muitas vezes só pelos parcos recursos das famílias. Ou da ascensão pessoal e social obtida por desvios dos caminhos formais. 

 

Em um país onde apenas cerca de 35% dos jovens chegam às universidades e 40% dos formados não têm emprego qualificado, não é de estranhar que a grande maioria dos 309 competidores em Tóquio não tenham alcançado o terceiro grau. Do total, 179 completaram o ensino médio, contra 32 desistentes. Outros 42 ingressaram no terceiro grau, mas ficaram no meio do caminho. Somente 42 atletas têm diploma de nível superior, dos quais nove são pós-graduados, de acordo com levantamento feito pelo Nexo. 

 

As atividades de complemento de renda enfatizam as disparidades sociais. Logo abaixo dos 5 motoristas de aplicativos vêm 4 empresários – dentre eles as estrelas do futebol, como Daniel Alves e Marta –, 4 educadores físicos, 3 gestores de marketing, 3 administradores e igual número de professores, 2 vendedoras e 2 fisioterapeutas. 

 

A discrepância entre a realidade dos atletas se reflete igualmente na origem. A maioria é do Sudeste (190) e Sul (47), mas o Nordeste marcou presença maior em relação aos Jogos anteriores, com 45 deles, alguns dos quais medalhistas. Centro-Oeste participou com 15 e o Norte com apenas três, ainda segundo o Nexo. 

 

Avanços aconteceram na participação das mulheres (46,5% do total) e no combate ao preconceito – 5,9% do time se declarou parte da comunidade LGBTQIA+. Completam o perfil a idade média de 27,4 anos entre as mulheres e 27,9 anos entre os homens. A medalhista Rayssa Leal (13 anos) foi a mais jovem, enquanto o mais velho foi Marcelo Tosi (51 anos).

 

Esses levantamentos ajudam a traduzir a persistência de nossos atletas para chegar a uma Olimpíada e sair dela maiores ainda, com ou sem medalhas. Mas sobretudo reafirmam a dependência de circunstâncias pontuais para chegar ao pódio, em um país de quem corre, rema, luta, salta e surfa nas ondas nem sempre favoráveis de um projeto olímpico pontuado por muitas omissões. Mais do que atletas, os Silva e as Anas são o que são – gigantes pela própria natureza.

  

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