Burger King, Kid Bengala e o "já-tão-antigo-e-saturado-apelo-sexual" na publicidade.
Anúncio de 1960 para Mr. Legg's

Burger King, Kid Bengala e o "já-tão-antigo-e-saturado-apelo-sexual" na publicidade.

De material já utilizado até mesmo pela Embratur para promover o Brasil no exterior (BIGNAMI, 2005) a anúncios de cerveja e comerciais que tratam homens e mulheres (sobretudo!) como objetos sexuais, certas marcas continuam achando - infelizmente - que a publicidade é a vitrine do obsceno.

Não durou nem uma semana a campanha veiculada pela Burger King, idealizada pela agência Jotacom, com o ator e influenciador Kid Bengala. Nela, o conceito de "exagerado" recebeu uma solução criativa que compara um produto ao suposto tamanho avantajado do órgão sexual masculino do ator. Sim, se você achou que isso não passa de um remake bem sem graça de inúmeras campanhas já vistas no passado...acertou. É mais do mesmo: a velha campanha que utiliza a conotação sexual para ver se emplaca um viral ou vende um produto.

E, quando você pensa que é somente um erro de marketing ou simplesmente uma estratégia mal-entendida percebe que, na verdade, a marca investe nessa ideia há muito tempo. Em 2009, uma campanha por tempo limitado de Burger King, idealizada por uma agência em Singapura (segundo a própria empresa afirmou na época), utilizou o mesmo conceito de "tamanho" para promover o seu produto “Super Seven Incher”. Na publicidade, a imagem de uma moça que olha para um enorme hambúrguer foi associada ao título: “Você vai ficar de boca aberta. Satisfaça o seu desejo por algo longo, suculento e grelhado na brasa com o Novo BK Super Seven Incher.

Campanha BK Super Sevem Incher, 2009

Antes disso, Burger King já havia sido criticada por outras campanhas com apelo sexual e pelo uso de conceitos apelativos em campanhas para crianças. Desse modo, é fácil concluir que não se trata de erro ou de falta de clareza: trata-se, obviamente, da utilização de uma estratégia da marca.

O que não fica claro é a quem se destinam essas campanhas da marca, afinal o consumo de fast food no Brasil tem uma vastidão de consumidores: de criancinhas ao consumidor 50+ e, certamente, parte desse público deveria ser tutelado de certos tipos de publicidade, pelo menos é o que se espera e está previsto pelo CONAR.

Mas, aparentemente, é mais vantajoso para essa turma lançar campanhas com conotação sexual do que investir em publicidade ética. O próprio ator, e, na época, candidato a deputado federal (UNIÃO BRASIL), Kid Bengala, já havia sido alvo de críticas por um vídeo em algumas redes sociais em que sugeria que iria "entrar com tudo" no Congresso, em alusão explícita ao ato sexual, reiterada, inclusive, pelos gestos presentes no vídeo de sua campanha eleitoral. Por determinação judicial, teve que retirar também a campanha do ar, mas, como se sabe, o que cai na Internet é bem difícil de deletar e os vídeos podem ser encontrados facilmente em várias redes sociais.

Por fim, o uso do apelo sexual como estratégia de marketing, além de antiético, é, com certeza, bem ultrapassado e obsoleto e só deve seduzir as camadas mais torpes da sociedade. Resta saber se essa estratégia aponta para uma total falta de noção da marca com relação ao novo consumidor ou reflete as suas perdas financeiras e a sua frágil posição no mercado de ações?


BIGNAMI, Rosana. A imagem do Brasil no turismo. 2ª Edição. São Paulo: Ed. Aleph, 2005.

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