CÚSPIDE NELES!
BY WILLIAN FAGIOLO
Nem tudo é o que parece. Não acreditem em tudo que leem. Não acreditem em algo simplesmente porque ouviram, ou porque todos falam a respeito. Corram ao dicionário sempre que puderem. Dicionário faz bem à saúde.
De verdade absoluta mesmo, eu sei que tudo que entra sai, e tudo que sobe desce.
Sigo conselho médico de que sempre que possível deve-se desopilar o fígado e deixar fluir o excesso de bile negra, que supostamente causa mau humor e doenças como a melancolia. Só com risadas mesmo.
Sabe como é que é, ainda sou arquiteto e, portanto, o meu dia-a-dia é tecido nas tramas das grandes paixões, e, somente assim, vou talhando minha vida.
Não sei se vocês sabem, mas mal sei ler ou escrever. Até um tempo atrás não sabia escrever a palavra “prazerosamente”. Só estudava para passar de ano com algumas notas boas para impressionar as menininhas lindas da minha classe. Naquela época parece que funcionava.
Não tem guereguere, é tamanco holandês sem couro, isto é, pau puro!
É publico e notório o meu arrebatado caso com a voluptuosa senhora Arquitetura, apesar de ter namorado firme por algum tempo com a música e a pintura. Não sou fiel, reconheço, ainda dou meus pulos e morro de paixão pelas vetustas senhoras das artes, fêmeas doces, gentis e saborosas, mas brasas ardentes, citadas acima. Que fique em segredo, entre nós.
A cada artigo, ensaio, crônica, uma nova aventura no incrível mundo das letras, vírgulas, pontos, parágrafos e muitos sinônimos, verbos, cercado de emoção, mistério e medo, graça, ora beirando o grotesco ou a farsa e, quem sabe, algo poético. Tento inventar, ora ficção, ora verdade, ou as duas coisas ao mesmo tempo, tendo como base as experiências que vivenciei, num cenário que é uma cidade com nome, que é, mas não é, com personagens que correspondam a pessoas reais, vivas ou mortas. Tudo para agradar a quem gosta de uma boa leitura em todos os seus detalhes.
Pelo que acho que sei, a ideia é sempre garantir a vocês o prazer de extrair o máximo das qualidades de uma crônica, de uma reportagem. Com todo cuidado, assegurando boa gramática, qualidade literária, autenticidade dos sabores, aromas e longevidade, com muita classe e beleza. Sendo extravirgem, melhor.
É pensando em você que tento estar em constante evolução, pois acreditamos que a literatura, a política, a liberdade de expressão, a informação e o compromisso com a verdade são verdadeiras obras de arte que devem ser bem conservadas para que você possa apreciá-las em todo o seu esplendor.
Apesar dos meus parcos conhecimentos, exige-se que o meu repertório seja vasto, original, provocativo, contemporâneo etc.
Em meus arquivos de textos, de histórias, de causos, guardo uma lista interminável de estilos, anote aí: roman à clèf, roman à tiroirs , roman-fleuve, roman noir, aberto , acadêmico, cor-de-rosa, de aventuras, de salteadores, de tese, romance-diário, diary novel, epistolar , fechado, formativo, gótico, histórico, picaresco, policial, polifônico, psicológico, social. Tudo devidamente psicografado.
Vez ou outra, a bile jorra por causa da acidez e por causa do alimento mal ingerido e do chiclete.
É claro, também, que nem todo leitor conseguirá descobrir os verdadeiros personagens que se escondem por trás dos artifícios, das artimanhas, dos pseudônimos, das pegadinhas, propositalmente pitorescos, picarescos, muitas vezes sutis. Essa a graça, o charme.
“Roman à clèf” quer dizer romance ou novela com uma chave, ou seja, os personagens reais aparecem sob nomes fictícios. O artigo sobre o
“Imarcescível José” é um exemplo típico deste estilo literário. Maiores explicações deixo-as para os especialistas que frequentam essas páginas.
No mais, quero aliviar o teu e o meu rancor do fatigável dia-a-dia. Olvide-se o passado, quando perpétuos ódios quereis nutrir. Não me condenes na minha ausência, que me é desdouro. São dissertações de Homero, sim senhores, que para mim é grego e se chamava Oμηρóς.
Aos tremebundos de sempre, aos malferidos pela ignorância, que tetérrimos disputam o nada, o vazio, o tédio, a insignificância, que o dom celeste os arrebate, pois procuro não agourar o destino de ninguém.
Saúde e paz.