IDEOLOGIA
WILLIAN FAGIOLO
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“Você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina.
Você precisa saber de mim, baby, eu sei que é assim.
Você precisa tomar um sorvete na lanchonete, andar com a gente, me ver de perto;
Ouvir aquela canção do Roberto, baby, há quanto tempo.
Você precisa aprender inglês, precisa aprender o que eu sei e o que não sei mais.
Não sei, comigo vai tudo azul, contigo vai tudo em paz.
Vivemos na melhor cidade da América do Sul, da América do Sul...
Você precisa... Você precisa...”
(Caetano Veloso)
WILLIAN FAGIOLO
Direita ou Esquerda?
Um doce pra quem souber.
Esquerda ou Direita?
Nem uma alternativa, nem outra.
Ou ambas.
De fato, ninguém mais põe em dúvida a constatação de que muita coisa vai mudar, porque é o caminho “natural” das coisas responderem, ou melhor, acompanharem toda e qualquer mudança.
Direita e Esquerda são como o ovo e a galinha, não foi um que apareceu primeiro, e vice-versa. Ambos foram criados ao mesmo tempo a partir de uma origem comum: a Sociedade e sua eterna luta do Bem contra o Mal.
Podemos também tentar entender o imbróglio a partir de alguns fatores sócio-históricos (entre tantos outros): o fim das utopias modernas, a crise histórica da modernidade, a crise de valores iluministas gerada pelas guerras mundiais, o totalitarismo do Socialismo real, a falta de crescimento econômico, o desemprego em massa e crônico, a multiplicação cada vez mais de pobres e miseráveis, o crescimento da violência e do crime organizado. Os novos movimentos sociais e culturais dos nos 60 (no Brasil, Caetano Veloso e o Tropicalismo, por exemplo). As reestruturações dos espaços públicos, privados e políticos. A crise das representações filosófico-científicas para dar conta de uma realidade cada vez mais complexa, numa sociedade cada vez mais flexível, multicultural, global e de massa. O surgimento da indústria cultural e da mídia televisiva (via satélite principalmente e hoje conectada pela Internet) como fonte primordial de informação e um certo ficcionalismo da realidade a partir da vinculação diária de situações reais “descontextualizadas” e em narrativa “jornalística”, banalizando a violência, a miséria, a morte e exaltando o sucesso fácil (basta mostrar o bundão na TV, por exemplo); a dificuldade em estabelecer parâmetros entre o real e o ficcional. A generalização da insegurança do mundo do trabalho e da pobreza mundial, estrutural, para vastas áreas e continentes (como, por exemplo, a África, continente “fantasma”, “indigno” até de ser explorado pelo capitalismo, assim como o crescimento incontrolável do crime organizado flexível, que gera uma sensação de desordem civil e pessimismo moral). No exemplo anterior pode ser o Brasil, mesmo. E tantos outros.
No urbanismo e na arquitetura das cidades, o processo de reprodução do espaço é ao mesmo tempo contínuo e descontínuo, próximo e distante, belo e horrível. Representam, assim, as profundas rupturas provocadas pela intervenção predatória do capital, dos entraves de um Estado altamente burocratizado, a exclusão, a ignorância, em decorrência da falência e das contradições decorrentes dos próprios modelos adotados (neoliberalismo, inépcia do Plano Diretor etc.). O prefeito(a) precisa se dar conta disso senão a cidade estará fadada ao atraso, ao fracasso. Ninguém cresce por inércia.
No campo da política, vemos uma democracia de massa, baseada num direito formal abstrato, mostrando sua dificuldade em representar a população, que opta por movimentos não-governamentais, numa clara expressão da despolitização e do descrédito da política tradicional. A política virou pura retórica , blá blá blá, às vezes nem isso, com intrincados jogos de táticas parlamentares e, ainda, portadora de um vasto repertório de teatralidades e aparências. Também as questões da imagem pela imagem tomam o primeiro plano da cena política, tornando-se o privado e as características de “marketing” o diferencial da escolha dos candidatos e de sua figura política. A política se estetiza: a escolha tende a ser pela imagem, pela inserção da mídia. Quem vier com o penteado da hora, o terno azul , a gravata vermelha e o melhor lero-lero, leva.
Na verdade, meu caros amigo e amigas, as grandes concepções teóricas, as grandes ideologias, as grandes estratégias, sempre foram concebidas sob a égide de que existe uma sociedade altamente alfabetizada, como um todo. Lamentavelmente uma premissa falsa pois vivemos ainda, até hoje, na era das trevas do conhecimento. Os heroicos e persistentes professores primários, secundários, universitários, não me deixarão mentir. O povo, enquanto dócil rebanho, não tem culpa. Perplexos, assistimos o fim do mito do bom pastor, aquele que dá a sua vida pelas ovelhas, e que não existe mais. Quer dizer, existe, mas cobra uns bons trocos para tanto. Sem generalizações, é lógico, entendam-me.
A reação do sistema à crise (dos anos 70) produziu o quadro dos anos 80 (que perdura): a derrota do movimento operário, a transferência de unidades fabris para países periféricos de baixos salários, o deslocamento dos investimentos para setores de serviços e comunicações, a ampliação dos gastos militares nos países desenvolvidos e agora nos mequetrefes, a exploração do trabalho infantil, a supressão das liberdades individuais, a corrupção universalizada, e, sobretudo, o aumento vertiginoso do peso relativo da especulação financeira às custas da produção.
Entretanto, tenho muitas esperanças pois o Brasil tem a maior biodiversidade do mundo e uma reserva folgada de terras cultiváveis, sem precisar derrubar uma só árvore da Amazônia, sim, uma utopia..... Tem clima favorável à alta produtividade primária de biomassa, uma enorme variedade de ecossistemas e uma considerável quantidade de recursos hídricos. Somando-se a isso tudo, devemos ressaltar nossas importantíssimas pesquisas na área agronômica e biológica de categoria e reconhecimento internacional.
Norberto Bobbio, de forma definitiva, escreveu um genial ensaio sobre a eternidade da dicotomia entre Bem e Mal, Luz e Sombra, Deus e o Diabo. Mas isso existe “Desde que o mundo é mundo”, costumava dizer-me, impaciente, meu pai, acrescentando: “Você parece tonto, rapaz”, referindo-se à minha ignorância.
Ei ! Ei paisano, falar mais o quê?