CINEMA
( ESCRITO EM 2004)
WILLIAN FAGIOLO
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A VILA
FICHA TÉCNICA
Gênero: Suspense
Ano de Lançamento (EUA): 2004
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Produção: Sam Mercer, Scott Rudin e M. Night Shyamalan
Música: James Newton Howard
Fotografia: Roger Deakins
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Desenho de Produção: Tom Foden
Direção de Arte: Michael Manson e Chris Shriver
Figurino: Ann Roth
Efeitos Especiais: Illusion Arts Inc. / Industrial Light & Magic
ELENCO
Bryce Dallas Howard (Ivy Walker)
Joaquin Phoenix (Lucius Hunt)
Adrien Brody (Noah Percy)
William Hurt (Edward Walker)
Sigourney Weaver (Alice Hunt)
O filme A Vila, título original The Village, é “daqueles que não podemos falar” do seu final. Sendo assim, ninguém deve saber do final do filme antes de assisti-lo. Se não, babau. A invenção de não deixar as pessoas entrarem no cinema depois de iniciada a sessão foi de Hitchcock, "mago do suspense". Por falar em Hitch, na sua obra-prima “Psicose” (Psycho, 1960), Hitchcock quebrou todas as barreiras imagináveis do Cinema. Além de rodá-lo propositalmente com um baixo orçamento (600.000 dólares) mostrou pela primeira vez na história do Cinema um vaso sanitário (até então proibido pela censura)! Filmou “Psicose” todo em preto e branco (ignorando a tecnologia das cores para não criar um contraste com o sangue em seu filme), escondeu uma forte sexualidade (a cena em que Norman vai atender o balcão e diz que estava comendo, quando na verdade estava transando com a protagonista), enfim, quebrou todas as barreiras possíveis e inimagináveis de tudo o que já havia criado antes. Claro, isso sem falar na maravilhosa história com uma surpreendente (e quase única) troca de protagonistas no meio da produção, executada perfeitamente por sua maravilhosa história. A cena do chuveiro é uma das mais clássicas já vistas, com o gênio utilizando calda de chocolate para representar todo o sangue visto em tela. Embora o ídolo máximo de Shyamalan seja Steven Spielberg, Shyamalan sempre imita “um de seus diretores favoritos” Hitchcock, fazendo aparições em seus próprios filmes. Porém, ao contrário do lendário Hitchcock, ele não apenas serve de figurante em segundo plano, como atua em pequenos papéis coadjuvantes, como o de médico em O Sexto Sentido; o de traficante em Corpo Fechado; e o da pessoa que atropelou a esposa de Gibson em Sinais (note-se: as suas aparições são cada vez maiores). Inclusive em A Vila. Nessa Vila construída numa clareira no bosque de Covington, Pennsylvania, uma lápide de um funeral logo no início do filme data do fim do século XIX, assim como as vestimentas de seus habitantes. Em 1897 uma vila parece ser o local ideal para se viver: tranqüila, isolada e com os moradores vivendo em harmonia. Porém este local perfeito passa por mudanças quando os habitantes descobrem que o bosque que o cerca esconde uma raça de misteriosas e perigosas criaturas, por eles chamados de "Aquelas de Quem Não Falamos". O medo de ser a próxima vítima destas criaturas faz com que nenhum habitante da vila se arrisque a entrar no bosque. Apesar dos constantes avisos de Edward Walker (William Hurt), o líder local, e de sua mãe (Sigourney Weaver), o jovem Lucius Hunt (Joaquin Phoenix) tem um grande desejo de ultrapassar os limites da Vila, rumo ao desconhecido. Lucius é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howard), uma jovem cega (uma das mais lindas cegas do cinema, creio que mais bela do que Audrey Hepburn em “Um Clarão nas Trevas”, excelente filme de suspense, lembram-se?) que também atrai a atenção do desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody). O amor de Noah termina por colocar a vida de Ivy em perigo, fazendo com que verdades sejam reveladas e o caos tome conta da Vila.
O que ninguém esperava do novo filme de M. Night Shyamalan é que ele fosse o que é: uma obra-prima das mais perturbadoras e esquisitas dos últimos anos, um filme pleno de virtuosismo em suas imagens. Tão “esquisito” que muitos acharam o filme chato. Na verdade, o filme incomoda. Como em seus outros trabalhos M. Night Shyamalan faz com perfeição o que mais sabe fazer: nos arrebatar. Você fica atento ao filme o tempo inteiro. Muita tensão, onde predomina o medo e que revela em forma de parábola o progressivo isolacionismo americano diante do resto do mundo e da violência. A paranóia isolacionista, infelizmente, não é só dos americanos do norte, não. O filme é isso, um novo tratado sobre uma impressionante ação contra a cultura dominante, engendrado por “pacatos e comportados” cidadãos intelectuais, mas que não conseguem escapar e que são irremediavelmente inoculados com os venenos mais letais do sistema que negaram. Ego trip ao contrário. Falando nisso, à Contracultura acusam de ter sucumbido aos pecados mais graves que ela acusou no sistema: neurose, sadismo, violência e um egoísmo irreparável e desesperado. A rebordosa não está mais no horizonte distante, suas formas já conhecidas de badtrips, egotrips, pirações generalizadas, angústia e covardia, fuga e irresponsabilidade, e outras, aportaram por aqui. O filme é isso. Imperdível!
O mais espetacular dos mecanismos ficcionais de "A Vila" é seu requintado clímax de suspense. O amigão e a amigona podem não acreditar, mas teve crítico achando que o filme era infantil. “Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria quero ser menino”, citando Fernando Sabino, e em sua homenagem.