Caminhos do ESG em 2023
Passados alguns anos desde a ascensão do ESG, a agenda se consolidou e, atualmente, está disseminada por corporações dos mais variados setores de atuação. De acordo com estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o ESG já está presente em 85% das indústrias nacionais, e a maior adesão à agenda é um sinal positivo, que se desdobra, ainda, numa análise cada vez mais criteriosa do cumprimento das ações de responsabilidade social, ambiental e de governança corporativa pelas empresas. O cenário exige conhecimento pleno do negócio, e de como o ESG se insere em cada corporação, sempre aliado ao planejamento das medidas que serão adotadas.
Para entender como andam as perspectivas sobre o ESG em 2023, levando em conta os avanços alcançados no período recente, a InPress Porter Novelli convidou alguns dos seus clientes que têm o ESG como pilar relevante dos negócios para compartilhar sua visão sobre o tema. Confira:
"Avalio que 2022 foi um ano positivo para ESG e sustentabilidade no geral, pois, ainda que tivemos notícias que aparentam ser negativas - como a desaceleração de investimentos voltados a ESG, por meio de mecanismos como os Sustainability-Linked Bonds, e muita coisa na mídia internacional contra o ESG, sendo dita até mesmo por empresários e celebridades -, o que vejo é um amadurecimento do tema. Nos últimos três anos, vimos uma explosão de atenção ao ESG e entendo que, passada essa fase de euforia, vemos agora uma consolidação. A adesão ao Pacto Global mostra que as empresas estão buscando esse tema (o ESG). O setor privado brasileiro tem se engajado mais. Apesar do movimento anti-cíclico da economia, apesar da guerra, apesar da pandemia, o tema não foi abalado. Está cada vez mais forte.”
Carlo Linkevieius Pereira , CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, em entrevista à Época Negócios
“Sempre coloco no topo da pauta o tema de ESG e o que podemos fazer para alcançar uma gestão cada vez mais consciente de seu impacto. Mais do que um interesse particular, o compromisso com a sustentabilidade, com a responsabilidade social e com a governança é uma marca da atuação do Sírio-Libanês. Fico muito feliz ao ver a instituição evoluindo como uma referência nessa área. O que mais surpreende é o fato de que as movimentações nessa área não são de hoje: o Sírio-Libanês foi a primeira entidade de saúde carbono neutro do Brasil, em 2019; é certificado com a ISO 14001, que comprova os esforços em seus processos para reduzir o impacto de sua operação no meio ambiente; é signatário do Pacto Global da ONU; adere ao Race to Zero, uma campanha global em busca de zerar as emissões de carbono, entre tantas outras iniciativas e conquistas. Ou seja, quando ainda não se falava em ESG, o Sírio-Libanês já investia com convicção nos três pilares da sustentabilidade. Hoje, também temos reforçado nossa atuação por meio de um Núcleo ESG, que está comprometido em expandir e acelerar ações e desenvolver projetos alinhados às nossas crenças em sustentabilidade como um todo. Afinal, para promovermos saúde e consolidar nosso propósito de uma vida plena e digna precisamos de um mundo cada vez mais saudável e sustentável.”
Paulo Nigro , CEO do Sírio-Libanês
“Estar atento às demandas da sociedade e aos desafios do ESG faz parte do dia a dia de uma companhia que tem como propósito fazer da sustentabilidade algo comum à vida das pessoas. Pessoalmente e sob a ótica de quem acaba de chegar de uma visita a comunidades indígenas na Amazônia, me arrisco a dizer que os temas desmatamento e mudanças climáticas seguirão sob os holofotes do mundo, assim como agricultura regenerativa. Tão relevante quanto estes assuntos é jogar luz para a urgência da transformação energética, do papel dos catadores na economia circular e da responsabilidade de todos os atores sociais rumo a um mundo mais equânime e diverso. Em 2022, avançamos muito no melhor destino do plástico, em encontrarmos soluções inovadoras e criativas para que o material volte a circular na economia, além da agenda de equidade, diversidade e inclusão que nos é tão cara. Para 2023, se conseguirmos debater em profundidade os temas acima, dando alguns bons direcionamentos e passos em cada um deles, o ano já terá valido a pena.”
Suelma Rosa , Head de Reputação e Assuntos Corporativos para América Latina e Brasil da Unilever
“O ano de 2022 seguiu em alta velocidade quanto aos temas relacionados ao ESG. As empresas e o mercado financeiro perceberam que, muito mais do que velocidade, é necessário ter consistência e transparência nesta jornada que não tem uma linha de chegada, o que mais importa é o caminho, ou seja, o ‘COMO’ tantos compromissos, especialmente o Net Zero, serão alcançados. Na CCR, o ano de 2022 seguiu com a evolução e implementação de compromissos relacionados ao tema de Mudanças Climáticas. A partir de dados consistentes, mensurados ao longo dos últimos dez anos com relação às nossas emissões, por meio da metodologia GHG Protocol (CCR é Selo Ouro), efetuamos o projeto de descarbonização para subsidiar estrategicamente a submissão das Metas SBTi (Science Based Targets Initiative), realizada em julho. Também atualizamos a Política de Mudanças Climáticas e a construção do projeto de análise de riscos físicos e de transição associados à mudança do clima, baseados nas recomendações da TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosure). Seguimos pela 11ª vez consecutiva no Índice de Carbono Eficiente (ICO2) da B3, e aderimos ao Movimento Ambição Net Zero, uma iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil. Além disso, estabelecemos uma nova governança ESG, o que fortalece nossa estratégia de forma transversal; o Conselho de Administração aprovou o Plano Diretor ESG, que realizou a revisão da Matriz de Materialidade; e definimos 11 indicadores ESG que, em 2022, passaram a fazer parte da composição da remuneração variável dos executivos e foram desdobrados para toda a companhia. Para 2023, acredito que Mudanças Climáticas seguirá como um tema latente e será necessário considerar o risco e os desafios para a produção de alimentos em um mundo com menos previsibilidade climática. A necessidade de padronização dos standards ESG também deve ser um tema central, junto à ampliação do escopo de divulgação de fatores ESG. Esse é o caminho necessário sendo construído e seguiremos na jornada evolutiva, a qual só se consolidará com o compromisso da Alta Liderança.”
Onara Lima , superintendente de Sustentabilidade na CCR
“A Siemens Energy completou dois anos de existência com protagonismo consolidado no setor de energia, em um período singular globalmente, marcado pela guerra na Europa e grandes variações dos mercados globais de Petróleo e Gás. E, como parceiros e fornecedores de soluções tecnológicas integradas, acompanhamos um 2022 de intensa movimentação nos mercados brasileiro e latino-americano, com clientes optando por investir em nossas soluções. Entendendo que o ESG é o tom não apenas do presente, mas também do futuro, seguimos firmes em nosso propósito de alcançar a neutralidade climática em nossas próprias operações até 2030 e investir no progresso da diversidade social no setor de energia. No aspecto ambiental, vale salientar que reduzimos nossas emissões absolutas (escopo 1 e 2) em 69,2% no Brasil, com uma meta clara de atingir 100% até o ano de 2030. Em 2023, como resultado do avanço da transição energética e da urgência de aceleração nas iniciativas de descarbonização da indústria, esperamos na Siemens Energy ter uma forte demanda por nossas soluções, com aumento significativo nos serviços e produtos feitos a partir do Brasil para atender mercados próximos e desenvolver progressivamente fornecedores na região. Vemos também para o próximo ciclo a continuidade da forte expansão das renováveis no país, eólica e solar, o que fará a rede ser cada vez mais o foco de investimentos. Nessa direção, a mudança de pensamento no próximo ano deve ser catalisada pelo nascimento já anunciado dos mercados globais de hidrogênio verde, nos quais o Brasil deve ter enorme competitividade, caso adote uma posição para além do atendimento da demanda interna de geração e tenha uma política industrial verde, inovadora e voltada para o planeta.”
Henrique Petersen Paiva , Head de GA e ESG Siemens Energy América Latina
"O ano de 2022 foi muito importante para a AES Brasil. Lançamos os Compromissos ESG 2030, que representam nosso plano com metas voltadas à agenda de desenvolvimento sustentável, estabelecendo as prioridades relacionadas aos aspectos Ambiental, Social e de Governança: Mudanças Climáticas (ambiental); Diversidade, Equidade e Inclusão (social); e Ética e Transparência (governança). Essas metas estão relacionadas a seis Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Neutralizamos todas as emissões de gases de efeito estufa desde o início das operações no país (1999), antecipando em três anos essa meta, além de concluirmos a venda de mais de 465 mil créditos de carbono, pela primeira vez, oriundos dos complexos eólicos Mandacaru e Salinas. Registramos o aumento do número de mulheres na liderança da empresa, tendo alcançado a representatividade de 25% na alta liderança. E recebemos, pelo segundo ano consecutivo, a classificação máxima “AAA” no MSCI ESG Rating, um dos principais índices que avalia a resiliência de uma empresa aos riscos Ambientais, Sociais e de Governança (ESG), nos mantendo como a única empresa de energia na América Latina com esse score. Para 2023, a AES Brasil irá acelerar ações que foram iniciadas no final desse último ano. Uma delas será a formação exclusiva de mulheres para operação e manutenção de parques eólicos junto ao Senai RN, prevista para começar em fevereiro, cuja preparação de mulheres possibilitará contratações para o Complexo Eólico Cajuína. Outra frente de trabalho será as ações de desenvolvimento das comunidades do semiárido potiguar (RN) na região desse mesmo complexo eólico, por meio de ações de inclusão produtiva e segurança hídrica".
Andrea Santoro , gerente de Sustentabilidade da AES Brasil
“A PepsiCo tem uma agenda sólida de iniciativas em ESG, denominada PepsiCo Positive, e em 2022 conquistamos diversos avanços nos pilares em que atuamos. Em Agricultura, atuamos por uma agricultura positiva e, com esse objetivo, lançamos o projeto de consórcio entre as culturas de coco e cacau em nossa fazenda própria de produção de coco-verde, em Petrolina (PE), por meio da qual teremos novas práticas regenerativas no cultivo do coco e um aumento de rentabilidade aos produtores rurais. Em nossa operação, promovemos a redução do uso de água e chegamos a autonomia hídrica na nossa planta de Itu (SP), e também iniciamos obras para ter a mesma tecnologia nas fábricas de Sete Lagoas (MG) e de Curitiba (PR). Assim, deveremos reduzir em 60% o consumo de água em cada uma dessas operações. No âmbito de energias renováveis, implantamos uma Usina Termossolar na fábrica de Sete Lagoas, que resultou na redução das emissões de GEEs ao equivalente ao plantio de 48 mil árvores. Contratamos a mesma tecnologia para a operação de Feira de Santana (BA), em 2023, onde deveremos reduzir as emissões de GEEs ao equivalente ao plantio de 80 mil árvores. Também temos nossa frota própria de veículos sustentáveis, com mais de 120 caminhões elétricos e a GNV, além de mais de 100 caminhões rodando com nossa exclusiva carroceria sustentável - baú feito a partir de plástico oriundo de embalagens dos nossos snacks e garrafas PET e que deverá ser expandido para toda a nossa frota. Por fim, destaco nossas iniciativas pela equidade de gênero e racial, por meio das quais já alcançamos a marca de 26% de pessoas negras em cargos de liderança na PepsiCo e temos a meta de ter 30% até 2025. Também conquistamos novos benefícios para mulheres e o público LGBTQI+, com coparticipação da PepsiCo no custeio de fertilização in vitro e na mudança de documentação para o novo nome social para pessoas trans. São mudanças que irradiam para toda a sociedade e que nos dão a certeza de que caminhamos para termos uma sociedade e uma empresa mais inclusiva e igualitária.”
Maria Teresa Orlandi , Gerente Sênior de Comunicação Corporativa da PepsiCo Brasil
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“O entendimento e a aplicabilidade de critérios ESG pelas empresas brasileiras é, cada vez mais, uma realidade. No entanto, algumas barreiras ainda existem, como a ausência de uma área dedicada ao tema e a falta de profissionais qualificados e especialistas no assunto.”
Guia Salarial Robert Half
XP: Relatório reúne as principais tendências ESG em 2023
Época Negócios: Carlo Pereira analisa os pontos positivos do ano que passou e conta qual foi o principal gargalo deixado pelas empresas brasileiras
Diário do Comércio: Meio ambiente e pessoas são dois dos mais relevantes entre eles
EXAME: Novo Guia Salarial da Robert Half aponta que mais da metade das organizações do país sofre para encontrar especialista em setor estratégico que já vale trilhões de dólares
Uma nova análise global da Bain & Company ressalta a importância de que o varejo não interrompa as ações e estratégias ESG, mesmo durante o momento de alta inflação, quando há um aumento dos desafios para atender os quesitos em sustentabilidade dos consumidores, investidores e outras partes interessadas. O levantamento considera seis temas prioritários da agenda ESG, incluindo emissões de gases de efeito estufa, desperdício e circularidade e abastecimento sustentável, e destaca que uma das soluções para superar o desafio é aproveitar o interesse dos consumidores em produtos mais sustentáveis, visto que, segundo dados da própria Bain, 70% dos clientes dizem estar dispostos a pagar por produtos com impacto ambiental positivo ou benefícios à saúde.
Segundo a pesquisa Tech Compass 2023, divulgada pela Bosch, no Brasil, 82% das pessoas entrevistadas acreditam que quanto mais uma empresa se comprometer com tecnologias sustentáveis, mais sucesso econômico ela terá no futuro. A pesquisa enfatiza a necessidade de melhorar e aprimorar o compromisso do setor empresarial com sustentabilidade, além de ressaltar o desafio que cada país enfrenta frente às inovações e tecnologias promissoras que podem ser a chave para combater as mudanças climáticas.