COP29: Resultados e implicações para o Brasil e o setor privado
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Realizada em novembro na cidade de Baku, no Azerbaijão, a COP29 consolidou avanços importantes na agenda climática global, como a regulamentação do mercado de carbono sob o Artigo 6 do Acordo de Paris e a definição de uma nova meta de financiamento climático. No entanto, o valor aprovado de 300 bilhões de dólares por ano ficou aquém das expectativas dos países do Sul Global, ilhas vulneráveis e da sociedade civil, que esperavam compromissos financeiros mais robustos e inclusivos. Esses desdobramentos, apesar de representarem avanços, aumentam a expectativa em torno da COP30, que será realizada em Belém, em 2025.
Conversamos com Danielly Mello Freire , gerente de Clima do Pacto Global - Rede Brasil , sobre os principais destaques da conferência, como o impacto das novas regulamentações no setor privado, as metas de financiamento climático e as perspectivas para a próxima COP.
Confira a entrevista completa:
1. Quais foram os principais avanços e sinalizações da COP29 no enfrentamento da mudança climática?
A COP29 ficou marcada pelo avanço e aprovação do Artigo 6 do Acordo de Paris (em discussão há uma década), especialmente com a definição de mecanismos regulados para créditos de carbono globais, como o Artigo 6.4, que estabelece critérios rigorosos para atividades de remoção de gases de efeito estufa.
Outro progresso crucial foi o estabelecimento da Nova Meta Quantificada Coletiva de Financiamento Climático (NCQG), que visa mobilizar 300 bilhões de dólares por ano até 2035, com a ambição de alcançar 1,3 trilhão de dólares anuais. Esse objetivo será viabilizado por instrumentos de financiamento misto para mitigar emissões e promover adaptação climática. Apesar de não atender completamente às expectativas dos países do Sul Global e das Ilhas, essa meta reflete o possível consenso no atual cenário geopolítico e econômico global. O valor de US$ 300 bilhões anuais será destinado a fluxos do Norte Global para o Sul Global, enquanto a meta de US$ 1,3 trilhão inclui acordos bilaterais entre países do Sul e financiamento privado.
2. Como esses resultados podem influenciar as metas globais de redução de emissões de carbono e o cumprimento dos compromissos climáticos do Acordo de Paris?
Esses resultados reforçam o compromisso global com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). O Brasil, inclusive, foi um dos primeiros países a enviar sua NDC atualizada antes da COP29. A regulamentação do mercado global de carbono sob o Artigo 6.4 cria incentivos econômicos concretos para a redução de emissões, enquanto o financiamento ampliado possibilita que países em desenvolvimento avancem na transição para economias de baixo carbono.
A COP30 será um marco para as NDCs, sendo a data limite para que todos os países apresentem suas atualizações. Isso marca uma década desde o estabelecimento do Acordo de Paris e exige ações concretas para alcançar seus objetivos.
3. Houve algum destaque para tecnologias emergentes ou soluções inovadoras que possam ajudar a mitigar os efeitos das mudanças climáticas?
Sim, a regulamentação do Artigo 6 destacou novas possibilidades para integrar tecnologias emergentes no mercado de carbono. O mecanismo de crédito aprovado pelo Artigo 6.4 incentivará projetos que utilizem tecnologias avançadas, como soluções baseadas na natureza e métodos inovadores de captura e armazenamento de carbono (CCS).
Além disso, o Artigo 6.2 regulamentou as Transações Internacionais de Resultados de Mitigação (ITMOs), criando uma base sólida para o comércio internacional de créditos e estimulando investimentos em tecnologia e inovação, especialmente em países em desenvolvimento.
4. Quais decisões ou acordos da COP29 têm maior potencial de impactar o setor privado? Que tipo de adaptações ou mudanças estratégicas as empresas devem considerar após a conferência?
Com a aprovação do mercado global regulado de carbono, as empresas precisam acelerar a implementação de sistemas robustos para monitoramento de emissões. No Brasil, companhias que emitem mais de 10 mil toneladas de CO₂e por ano deverão participar do mercado regulado de carbono, conforme previsto pelo PL 182/2024, atualmente aguardando sanção presidencial.
Além disso, empresas sem estratégias claras de descarbonização precisarão adotar modelos científicos robustos, como os promovidos pelo Science Based Targets initiative (SBTi), para atingir o Net Zero até 2050. O setor privado brasileiro possui uma oportunidade única de liderar essa transição, especialmente devido ao seu protagonismo no mercado de créditos de carbono.
5. Como a COP29 tratou da interseção entre sustentabilidade e inclusão social, especialmente no contexto de empresas?
Embora avanços formais sobre inclusão social tenham sido limitados, a sociedade civil desempenhou um papel ativo nos diálogos. O Pavilhão Brasil e o Moana Pacific Island Pavilion trouxeram histórias de vulnerabilidade climática e destacaram a necessidade de investimentos em adaptação, incluindo a emissão de Green Bonds.
No painel da UNFCCC, representantes de Fiji enfatizaram a urgência de realocar comunidades vulneráveis devido às mudanças climáticas. A criação de empregos verdes em projetos de adaptação foi destacada como uma oportunidade para o setor privado contribuir com justiça climática.
6. De que maneira as decisões da COP29 podem afetar os países em desenvolvimento, especialmente na América Latina?
A "Rota de Baku a Belém" busca mobilizar financiamento climático para atingir 1,3 trilhão de dólares anuais, com foco em acordos bilaterais entre países do Sul Global. Para a América Latina, isso representa uma oportunidade de fortalecer infraestruturas resilientes, estimular parcerias regionais e acelerar a transição para economias de baixo carbono.
7. Há algo específico para o Brasil ou países do hemisfério sul que as empresas devem monitorar?
As empresas precisam acompanhar a definição de "finanças climáticas", garantindo que investimentos sejam rastreados de forma transparente e destinados a ações de mitigação e adaptação. O Brasil tem a chance de liderar esse processo, promovendo soluções inovadoras que reduzam a dependência de combustíveis fósseis.
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8. Como as empresas podem se posicionar como agentes ativos nesse processo?
O setor privado deve criar redes de colaboração para ações de mitigação e adaptação climática. Isso inclui implementar estratégias de descarbonização alinhadas à ciência, estabelecer parcerias com organizações, como o Pacto Global, e promover projetos de justiça climática, que integrem clima e direitos humanos.
9. Estamos a menos de um ano da COP30, que será em Belém (PA). Diante do que aconteceu em Baku, o que esperar da COP no Pará? Quais serão os maiores desafios?
A COP30 celebrará os 10 anos do Acordo de Paris, exigindo atualizações das NDCs alinhadas ao limite de 1,5°C. A Transição Justa e os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) serão pautas centrais. Apesar das incertezas geopolíticas, Belém está preparada para sediar a conferência e fortalecer o papel da Amazônia nas negociações climáticas globais.
Evento Aberje
Avanços e metas para 2025 em ESG
A orientação a dados, a articulação setorial e o letramento contínuo das lideranças são três eixos fundamentais para a comunicação em ESG, em 2025. Esses temas ganharam destaque no encerramento das atividades dos Comitês Temáticos da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), realizado no dia 28 de novembro, na sede da Edenred (Ticket), em São Paulo.
O evento reuniu mais de 100 empresas associadas para discutir os principais aprendizados de 2024 e as contribuições previstas para o próximo ano. Adriano Zanni, diretor de Comunicação Interna e Transformação Organizacional do Grupo In Press, participou do encontro como membro do Comitê de Comunicação em ESG.
Atualmente, a Aberje possui quatro comitês temáticos: Comunicação e Engajamento em ESG; Cultura de Dados e Mensuração de Resultados na Comunicação; Comunicação Interna, Cultura Organizacional e Marca Empregadora; e Gestão da Comunicação e da Reputação Corporativa. As inscrições para os comitês em 2025 serão abertas em janeiro. Basta ficar atento ao site da associação.
_Ambicioso plano do Congo busca explorar seu vasto potencial hidrelétrico e investir em energias renováveis, como solar e eólica, destacando o papel estratégico do país na transição energética africana.
_O “S” do ESG ganha destaque no artigo da economista Iana Barenboim, evidenciando como ações sociais podem transformar comunidades, fortalecer marcas e contribuir para práticas empresariais mais inclusivas.
_Economia circular se apresenta como um caminho para negócios mais sustentáveis e resilientes, reduzindo desperdícios e promovendo a reutilização de recursos.
_Vale anuncia planos de dobrar a produção de cobre até 2035, consolidando seu papel na transição energética global e no fornecimento de materiais para tecnologias limpas.
_ O II Encontro de Sustentabilidade ESG, realizado pelo Ministério das Comunicações entre os dias 3 e 5 de dezembro, promoveu debates sobre inovação, tecnologia e inclusão social, destacando o papel estratégico da gestão pública no avanço da sustentabilidade.
_Mukhtar Babayev, presidente da COP29, em artigo publicado pelo The Guardian, expressa satisfação com o acordo alcançado, mas critica as nações ocidentais por impedirem um avanço mais significativo, destacando a necessidade de maior apoio ao Sul Global.
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