Resistir: Sebes Vivas
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Resistir: Sebes Vivas

Quando viajo pelo meu querido Alentejo, algo que me parte a alma é ver o horizonte. Neste caso ser capaz de o ver. Não deveria ser possível vê-lo, mas é. Quilómetros de planície monótona estendem-se até se perderem. A ausência de árvores é a chave. Mas como conciliar a cultura de árvores com a produção de culturas arvenses? Como conciliar a plantação de árvores com a mecanização - tão necessária para sermos eficientes? Será que estamos a perder aqui uma grande oportunidade de nos tornarmos mais resilientes contra as alterações climáticas?

São estas perguntas que motivam estes pequeno artigo com o qual espero espicaçar ideias, atitudes, projetos.


Como prometido, falarei então de mais uma ferramenta que me parece fundamental para aumentar a resiliência às Alterações Climáticas. Esta que comporta muitas vantagens entre ações diretas e indiretas.

A minha premissa é a de dedicar alguns momentos à reflexão sobre ferramentas pouco intensas em capital e acessíveis a todos os produtores ou entidades, independente da escala da sua operação. Falei, num artigo passado, das charcas e a forma como podem estabilizar as flutuações do stock hídrico, mas também contribuir para a biodiversidade, recreio e luta contra incêndios.

Hoje falamos de sebes vivas. Uma sebe viva é, no fundo, uma linha de árvores ou arbustos plantados de forma a criar um barreira verde. A sebe em si pode prestar vários serviços e estruturar-se de modos diferentes.

Por exemplo, sebes vivas que delimitam terrenos/parcelas poderão ser constituídas por uma única fila de plantas, enquanto que se poderá também criar um "corredor ecológico" que percorre a extensão necessária para unir dois pontos de interesse para animais e insetos, ou pelo contrário protege um curso de água.

Na definição de sebe viva existe sempre a ideia de separação ou segmentação entre áreas. No passado era frequente que se construíssem estes muros de plantas para demarcar o fim das explorações agrícolas, por exemplo, hábito que ainda persiste em países como Inglaterra que está a realizar um esforço para reabilitar e recuperar as sebes (hedgegrows) que delimitam as parcelas agrícolas, criando a paisagem que tão bem conhecemos.

De forma muito sumária, as sebes podem fornecer os serviços:

  • Demarcação da Propriedade,
  • Proteção do Gado,
  • Quebra ventos (frios e quentes),
  • Produção de lenha e outros produtos,
  • Corredor ecológico - conexão e harmonização de habitats,
  • Aumento da variabilidade de altura da vegetação,
  • Diminuição da erosão hídrica, por escorrência,
  • Diminuição da erosão por ação do vento, pela diminuição da sua intensidade,
  • Previne a disseminação de poeiras em nuvem ou a entrada incauta de produtos tóxicos na exploração,
  • Fonte de alimento para insetos polinizadores, pode servir para diminuir o risco e severidade do ataque de pragas, pelo aumento da diversidade de vegetação e pela barreira física criada,
  • Sumidouro e fixação de Carbono!

Aconselho a leitura do trabalho Sebes e Paisagem uma dissertação muito interessante sobre a importância social, agronómica e histórica das sebes vivas no planalto Mirandês.

As vantagens são claras, mas por vezes não perceptíveis. Uma das vantagens menos perceptíveis é a de quebra de ventos, em especial as geadas negras, mas também os ventos quentes e secos. O vento quente e seco está diretamente relacionado com o aumento das necessidades hídricas das culturas, a sua ocorrência potencia os efeitos nefastos de uma onda de calor especialmente se aliada a uma época de seca. Existem já vários trabalhos científicos que estabelecem a relação entre a diminuição da temperatura (aumento da humidade) na massa de ar após a sua passagem pela copa das árvores.

A árvore tem assim dois papéis fundamentais na sua relação com a temperatura: primeiro protege o solo e as plantas nas suas proximidades com a sua sombra, filtrando a intensidade da radiação solar, em segundo a árvore funciona como um dispositivo de arrefecimento passivo, amenizando o ar nefasto dos meses estivais. Isto pode tornar-se extremamente interessante quando a plantação da sebe é feita de forma racional, em acompanhamento com o estudo da direção dos ventos predominantes.

Outro aspecto que começa a ser relevante é o serviço de cativação de carbono - o que quer dizer que as árvores, durante o seu crescimento e metabolismo retiram CO2 da atmosfera. CO2 é um gás com efeito de estufa. Dessa forma, quanto mais árvores melhor!

As premissas

  • As zonas onde se plantam sebes são improdutivas! - todas as explorações mantém zonas improdutivas entre as parcelas, estas constituem caminhos de acesso ou a delimitação da exploração,
  • Um hectare de terra tem 400 metros de perímetro e por cada hectare ganha-se 200 metros de perímetro. Isto salvaguardando que não exista subparcelamento (por exemplo no caso da horticultura) e os caminhos, podemos fixar este valor como mínimo disponível para instalação,
  • Se existirem linhas de água que atravessam ou limitam a exploração estas estarão seguramente inseridas nas zonas REN (reserva ecológica nacional) e possivelmente em leito de cheias - tornando-se vedada a sua exploração agrícola (com algumas exceções mediante autorização),
  • Mais se acresce que as zonas referidas anteriormente constituem locais que devem ser preservados, com bastantes ações e apoios para a revitalização das galerias ripícolas,
  • Deve existir respeito nos espaçamentos de plantação, estes devem incorporar o risco de perda de árvores, mas também o crescimento da copa das mesmas e equilíbrio de dimensões,
  • A sebe deve ser diversa e completa, com aproveitamento de todos os seus strata. Aqui poderá ser útil a plantação racional de espécies de alto porte, médio e baixo. Também dependente da localização da sebe, nomeadamente se é a delimitação exterior da parcela ou se delimita caminhos - não se quer a perda de funcionalidade.
  • Existem espécies mais adequadas a cada fim. Carvalhos, Azinheiras, Teixos, Buxos, Freixos, Alfarrobeiras, Oliveiras, Pinheiros, Sabugueiros, Vimeiros, Zimbros e Medronheiros necessitam de contextos diferentes para prosperar e funcionar bem como servidores ecossistêmicos. A escolha deve ser feita de acordo com a localização, estudo do impacto ambiental e funcionalidade.

Os cálculos

Considerando uma exploração com 100 hectares, teremos um perímetro exterior de 20 200 metros, naturalmente encontramos alguns caminhos e acessos por isso este número é mínimo. Ainda assim 20 200 metros de plantação em linha reta (com uma largura de 1m) constituem 2,02 hectares que aparentemente são completamente improdutivos! (E isto considerando uma exploração completamente livre de constrangimentos e de dimensão média-baixa).

Ora o que está subjacente aqui é: andamos a falar na importância de arborizar e reflorestar... e desperdiçamos esta área. Uma área que poderá representar a plantação efetiva de mais de 3000-6500 árvores e outros tantos arbustos, mesmo considerando uma perda exorbitante e compassos variáveis.

Em termos de rentabilidade, o investimento já existem apoios, como referido, ao nível da PAC, mas também - E isto é muito importante - existe a possibilidade de rentabilizar o investimento com a emissão de Créditos de Carbono.

A cereja no topo do bolo são as vantagens da instalação da sebe viva, já enunciadas e que muito valor acrescentam ao esquema produtivo das explorações agrícolas.

Vamos então aproveitar esta oportunidade?

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