Carta a Adriano Pires sobre a Margem Equatorial
Caro Adriano Pires,
Primeiramente, parabéns por sempre trazer tantos temas importantes para o Brasil, e por seus pontos lúcidos para o melhor entendimento de diversas políticas energéticas e outras, que o Brasil tanto precisa.
Com relação ao seu recente post sobre o Brasil “não perder uma oportunidade de perder uma oportunidade” [1], concordo com você que esse é um hábito demasiadamente comum aqui...
Entretanto, a oportunidade que estamos perdendo se aplica mais à falta de investimentos e atenção ao pré-sal brasileiro, que tanto poderia contribuir para a realização do potencial petrolífero brasileiro.
Sugiro que você assista minha entrevista com Armando Cavanha, no Café com Cavanha de junho [2], para entender por que NÃO devemos nem precisamos dedicar esforços exploratórios na Bacia da Foz do Amazonas, ou até em outras áreas exploratórias que exigirão muito esforço, recursos e tempo, para proporcionar algum retorno.
Nosso pré-sal não é um bilhete premiado, mas não há trend petrolífero tão grande e tão favorável no mundo todo, no momento, nem com tantas vantagens competitivas e geopolíticas como temos no pré-sal brasileiro, à possível exceção do Golfo do México, por conta de sua localização na costa norte-americana.[3]
Há tempos, Prof. Hernani Chaves e eu mostramos que os recursos recuperáveis do pré-sal não estão nem perto de se esgotarem, como equivocadamente nosso ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sugeriu, em audiência na Câmara.[4]
Os recursos RECUPERÁVEIS do pré-sal foram calculados em mais de um estudo, entre 176 e 273 bilhões de barris de petróleo [5], e são extremamente resilientes em relação aos preços do petróleo [6], enquanto em muitos outros plays do mundo, preços mais baixos podem reduzir muito sua atratividade.
As bacias de Campos e Santos, no pré-sal, já bastante mais exploradas que as bacias da Margem Equatorial, apresentam inúmeras vantagens em relação a quaisquer outras. Lá, temos maior conhecimento geológico, menores desafios ambientais e operacionais, e grande experiência nas operações em águas profundas e ultraprofundas. A proximidade da ampla infraestrutura existente e dos grandes mercados consumidores brasileiros também é um atrativo, e importante vantagem competitiva. Todos esses aspectos reduzem os custos e os prazos dos projetos, desde os primeiros esforços exploratórios até iniciarem sua produção.
Também precisamos reconhecer que no mundo, e especialmente no Brasil, os recursos disponíveis para esforços exploratórios são finitos. Isso implica que precisamos priorizar a alocação de investimentos onde eles serão mais produtivos e com menor prazo de retorno, focando regiões com maior conhecimento geológico e menores riscos exploratórios, e próximas de infraestrutura existente e marcados consumidores.
Dada a incapacidade da Petrobras de fazer a totalidade dos grandes investimentos adicionais necessários, precisamos atrair investimentos das majors e de empresas independentes, brasileiras ou não, para assegurar que nosso potencial petrolífero seja alcançado enquanto ainda vivemos na era do petróleo.
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É imprescindível, portanto, como política energética e petrolífera, que o Brasil sinalize aos possíveis investidores que os esforços exploratórios no pré-sal são nossa prioridade estratégica nacional, onde os resultados serão mais prolíficos, mais rápidos, e menos onerosos.
A ANP pode, inclusive, estimular esses investimentos, investindo recursos próprios para ampliar o conhecimento geológico da região, reduzindo os riscos exploratórios e tornando os investimentos mais atrativos. Essa atuação, aliás, está prevista dentro de suas atribuições (“promover estudos”, “estimular a pesquisa e a adoção de novas tecnologias”, etc.).
A natureza colocou os principais recursos petrolíferos do Brasil sem levar aspectos humanos, sociais ou políticos em consideração. Por esse motivo, as necessidades econômicas e sociais das regiões sem a mesma atratividade petrolífera que o pré-sal não devem se sobrepor à realidade petrolífera. Os investimentos petrolíferos devem ser feitos para maximizar o retorno desses investimentos, caso contrário desperdiçaremos recursos escassos.
A melhor forma de atingir os louváveis objetivos para as áreas mais carentes do Brasil é através dos investimentos produtivos, na área do petróleo, que poderão financiar as políticas de desenvolvimento econômico e social que essas regiões necessitam. Essas políticas públicas, desenhadas e implementadas conforme as necessidades de cada região, e respeitando suas vocações específicas e seus limites físicos e ambientais, permitirão que o Brasil se desenvolva com crescimento econômico, justiça social, e sustentabilidade.
Referências