A IGREJA CATÓLICA E A CARNE DE CRISTO

Ontem aconteceu algo inusitado para nós, que frequentamos a Igreja Nsa Sra do Rosário de Pompéia, na Av Pompéia, São Paulo. Na missa das 17:00, entrou um morador de rua logo no início da celebração, munido de seus pertences (um cobertor e uma bolsa de lona à tiracolo) e com uma vestimenta muito simples, que se resumia em um capote (que parecia ser impermeável), um par de sandálias nos pés, sem meias e uma bermuda. Para surpresa nossa, antes das preces dos fiéis, ele se apossou do microfone e, muito articuladamente, apresentou-se com o nome Laércio e nos expôs parte de suas dificuldades em sobreviver na rua ao relento e a saudade imorredoura de sua mãe que ele sentia, por fim pediu-nos, quando saíssemos da missa, um abraço e, é lógico, algum dinheiro. Mas o que me chamou muito a atenção foram os fatos de ele não estar embriagado (pelo menos assim me pareceu), comportar-se muito respeitosamente (ao povo e ao local) e, com toda a humildade, ele passou o tempo todo com a cabeça curvada. Eu o ajudei com algum dinheiro e o toquei no ombro, afinal, ele, na sua desaventurança, no seu sofrimento e humildade representa a carne de Cristo, aquele templo católico é a casa de Cristo e é de suma importância tocar-se a carne de Cristo, faz bem para alma. O que calou muitíssimo fundo em meu coração foi ele dizer, quando se apossou do microfone, que, acabada a missa, todos os presentes iriam para casa e ele não, já que ele não tinha uma casa. Diante disto, não se pode teologar, a miséria requer uma resposta rápida, não se pode conjecturar à sombra dos ensinamentos e das revelações de Deus sobre os miseráveis enquanto se toma o chá, confortavelmente instalado em uma aconchegante poltrona, à meia luz e abrigado do sol, da chuva, do frio e do calor. não é uma questão de se utilizar a miséria dos outros como motivo de discussão, nem de se utilizar dela como auto-propaganda numa insincera proposta de seu combate, como é tão comum fazer os políticos nos dias de hoje. Que Deus olhe por você Laércio.