Diploma
Meu diploma está simplesmente escondido no guarda-roupa, dentro do canudo no qual ele dormia antes de mo ser obrigado, muito eu me sacrifiquei para tê-lo, muitas noites sem dormir, muitos fins-de-semana que se não descansava e muitos feriados abafados pela ânsia e necessidade de terminar a corrosiva faculdade; tinha muita gente lá em situação degradante perante os seus dependentes e os seus donos; por outro lado havia os agraciados pela vida, mas que também labutavam muito para engolir a recompensa doce por seus sacrifícios. Não era uma época de se enamorar, apesar da idade propícia, isto era claudicante, mas se isto acontecesse por ingratidão dos céus, a mente “mancante” teria que, miseravelmente, entrar na fila dos atrasados e o diploma teimaria em ser proibido. Ter aulas junto com os calouros, aulas ministradas por ex-colegas que se tornaram inimigos pelo tempo, vergonhoso, mas isto tinha que ser enfrentado com a bravura dos garotos soldados frente ao sofrimento e à morte sem culpa numa guerra que eles protagonizassem. O diploma deveria ser a chave do cadeado que prende a corrente da liberdade, amarrada nos pés da vida e que não a deixa andar, mas não o é, esta chave é infinitamente pesada e ninguém a consegue carregar; não é imune ao tempo também, que a enferruja e corrói o seu segredo, agora, depois de muitos anos, ela não serve mais para abrir este cadeado; a liberdade não se prende nos bens que um diploma pode trazer, o diploma simplesmente conjuga com ela o verbo “ser”, formando, conjuntamente com ele, o conforto na vida, Ele guarda, dentro do canudo e na sua intimidade, amores desprezados. O passado já é um tempo que se foi no tempo, então estes amores são lembranças guardadas na pasta “sacrifícios”; um diploma não passa de uma coletânea de sacrifícios e merece um lugar de destaque na parede, preso e amordaçado dentro de uma moldura; devido ao seu peso, só uma inerte parede e uma moldura metálica podem suportá-lo.