Comida de rua? Jura?

Comida de rua? Jura?

No final de 2019, cansado e frustrado com o mercado de comunicação e marketing e minha atuação como consultor, optei por encerrar as atividades da empresa que mantinha desde 2004. Resolvi, então, oficializar e expandir o hobby de serralheria que tenho há 3 anos (Fogo.etc.br), ofertando um serviço de churrasco móvel de pão com linguiça e queijo artesanais feitos na brasa.

Inspirado na empresa indiana BBQ Ride e munido de minha oficina doméstica, tropicalizei o conceito, concebi e executei um conjunto de moto com sidecar adaptado para atender encontros motociclísticos, eventos e festivais na região do Distrito Federal. Dado o ineditismo e falta de referência no Brasil, batizei-o Motogrill e venho operando-o nas ruas da capital desde então.

Inicialmente, cabe dizer que toda vez que alguém me pergunta como está indo o negócio, minha resposta é "não sei" porque, honestamente, eu não sei! Concebi o projeto no fim do ano passado, comecei a executá-lo no início deste ano e, assim como toda a população mundial, tive cronograma e planos afetados pela pandemia, de modo que só iniciei operações em agosto.

Minha proposta original era funcionar somente em eventos motociclísticos mas esse planos foram frustrados com a proibição a aglomerações. Assim, nunca tendo atuado com alimentação de rua, me vi trabalhando e colaborando com os mais diversos food trucks, das mais diversas pessoas, nos mais diversos lugares e situações, a fim de contornar a crise.

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O projeto em si chama muita atenção e desperta olhares, perguntas e elogios da maioria de transeuntes, dentro ou fora do meio. Curiosidade, no entanto, não quer dizer faturamento. Há dias em que vendo muito, dias em que vendo pouco, dias em que esgoto estoque e dias em que zero faturamento. Porém, como não sei o que seria uma atuação normal deste tipo de serviço, não consigo parametrizar uma resposta à malfadada pergunta "como está indo?". 

Consigo, no entanto, tecer algumas impressões dessa fase embrionária, que listo a seguir:

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  1. Se você está concebendo um food truck do zero, escolha três ou quatro pessoas de confiança mas pontos de vista distintos e trate somente com elas. O excesso de informação polui qualquer linha de pensamento. Por mais empolgado que você esteja com sua ideia, abstenha-se de buscar todas as opiniões alheias. Não é uma questão de confidencialidade, é só de filtro mesmo. 
  2. A fiscalização no Brasil tem natureza predatória: ou te mata ou te afasta. Pesquise, muito e sempre! Veja o que está acontecendo no segmento, acompanhe a legislação, saiba o posicionamento e ação dos seus concorrentes e parceiros. É absolutamente imprescindível entender como proceder, se antecipar e nunca depender do bom senso de um fiscal.
  3. Não tem apoio da sua família/amigos/cônjuges? Não faça! Infelizmente, isso vai monopolizar seu tempo, atenção, conversa e recursos. No primeiro momento elas até vão entender mas eventualmente você vai precisar de uma válvula de escape (para xingar o mundo!) e se não houver essa pessoa no seu círculo de convivência, ferrou!
  4. Bons fornecedores são a espinha dorsal do seu negócio. Seja o fabricante, o vendedor, o revendedor ou o despachante. Economia de palito na elaboração do conceito só quer dizer que você não acredita nele ou que aceita um parâmetro ruim só para colocar em funcionamento e investir (ou consertar) depois. O crivo, nessa hora, não pode ser custo e o foco não pode ser retorno imediato. 
  5. Se você só trabalha com três ou quatro ingredientes, garanta que todos sejam excelentes pois não há espaço para erro! Vai ser caro? Sim. Vai ser difícil? Provavelmente. Vai ser diferencial? Completamente! Você não bebe cerveja de milho equiparando com artesanal nem come sushi na churrascaria esperando expertise de restaurante japonês.
  6. Você está no mercado de conveniência, não de alimentação. Parece contrassenso aos tópicos anteriores mas não é. Existe uma prática muito comum no meio de food trucks de “criar o ponto”, ou seja, estar presente com frequência e periodicidade num mesmo lugar a fim de ganhar a clientela. Mas se você não puder estar lá ou um concorrente oferecer um produto similar em um preço compatível, não espere fidelidade. Logo...  
  7. Prefira consumidores a clientes. Por definição, um consumidor é aquela pessoa que vai comprar de você eventualmente e um cliente é a pessoa que vai comprar de você toda vez. Entretanto, problemas ocorrem e, como já estabelecemos no ponto anterior, a fidelidade não é tão ferrenha assim. A natureza do seu negócio é móvel então por que não expandir ao máximo a abrangência de sua atuação e criar reconhecimento de marca ao invés de trabalhar como um PDV fixo travestido de food truck? 
  8. Faça alianças. O meio da alimentação de rua é surpreendentemente hostil. Há grupos, panelas, corporativismo, territorialismo, ciúme, inveja, sabotagem, tudo o que se possa imaginar. Claro que você pode se aventurar sozinho em lugares ermos na esperança deles funcionarem mas se espera trabalhar em lugares movimentados, vista a carapuça.
  9. Estética conta. E muito! Já tratamos aqui que esse negócio é feito de qualidade e efemeridade, certo? Sua janela de oportunidade para impactar consumidores eventuais em ocasiões esparsas é muito estreita então seja o mais bonito e atraente possível (sem mau gosto, por favor) e sirva um produto condizente. A repercussão de um consumidor eventual extasiado tende a ser maior do que a de um cliente regular satisfeito.
  10. E por fim... Existem jeitos melhores de ganhar a vida; mas andar de moto e fazer churrasco é mais divertido.
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Um grande abraço!

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Leandro Henriques é Relações Públicas, especialista em Marketing, atuou como consultor de comunicação integrada e marketing, pesquisas de mercado, trabalhos de campo, treinamentos e organização de eventos por 15 anos e hoje comanda a Fogo.etc.br em Brasília/DF.

Esse e outros casos referente a mídia e gastronomia serão explorados nos cursos Gastronomídia e Marketing e Gastronomia da BMS - Brasília Marketing School

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