Como entender de filosofia LEAN pode ajudar na redação do ENEM – e na vida
Hoje o pessoal já está no segundo dia do ENEM, com as provas da área de Exatas.
Na segunda-feira da semana que passou, todavia, como professor do Ensino Técnico Integrado ao Médio do Hospital Israelita Albert Einstein, o assunto foi a redação do exame.
Semana intensa, não deu tempo de comentar: então, comento agora.
Os(As) estudantes conversavam sobre a dificuldade do tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", até que uma aluna me perguntou: “Professor, qual seria sua proposta de intervenção para esse problema?”
Desenhei no quadro branco um esquema que demonstrava que qualquer solução só seria efetiva após o diagnóstico das verdadeiras causas-raiz do problema.
Como sei que eles(as) haviam estudado “Toyotismo” com outro professor, fiz a referência a esse fato e prossegui na explanação.
Disse-lhes que as pessoas costumam desenhar soluções, concluindo suas análises dos problemas [em inglês, jumping to conclusions] sem defini-los claramente e sem estratificá-los – o que faz com que muitas soluções sejam paliativas, ou mesmo inócuas. Igual a trocar o fusível sem saber a origem da pane elétrica, ou tomar um antitérmico sem saber a causa da febre.
No caso específico do tema da redação, a metodologia de solução de problemas fundamentada no LEAN tomaria a quantidade total de pessoas invisíveis na sociedade brasileira [cerca de 3 milhões] e a estratificaria por região, sexo, escolaridade, local de nascimento etc., para se decompor o problema e priorizá-lo.
Recomendados pelo LinkedIn
Por exemplo, a análise estratificada de dados poderia informar que a maior parte dos(as) invisíveis mora na região Norte, é do sexo feminino, não possui nem o primeiro grau completo, nasceu em casa [não num hospital ou maternidade], e assim por diante.
Para esse problema menor, seria feita a análise de causas-raiz, perguntando-se: “Por que esse grupo, assim caracterizado, é invisível?”. E se aplicando, na sequência, tantos “por quês?” quantos necessários, a fim de se descobrir a origem efetiva do problema.
Desvendadas as causas-raiz, aí sim se poderia pensar nas intervenções.
Implementadas as soluções e se verificando sua efetividade, passar-se-ia ao próximo problema, em ordem de prioridade.
Identificadas a mesma lógica por trás desse segundo problema, poder-se-ia pensar na possibilidade de aplicar a mesma solução anterior, fazendo aquilo que o jargão administrativo denomina roll-out e que, no LEAN, é yokoten.
Muitas soluções carecem de eficiência [uso parcimonioso de recursos] e eficácia [alcance verdadeiro de resultados] por serem pretensiosas demais: o pensamento ocidental, muito influenciado pela cultura norte-americana, adora heróis que salvam o mundo inteiro, de uma só vez.
Por esse e por outros motivos é que digo que a filosofia LEAN se aplica a tudo, e que fazer uso dela melhora as nossas vidas em tantos aspectos, que é quase impossível delimitar suas fronteiras de atuação.