Está tudo tão interessante, que nada mais me interessa...

Não bastassem as expressões absurdas que se tornaram virais, como a praticamente falecida "A nível de"; e a que ainda continua a nos atormentar, "Por conta de" (usada como panaceia para substituir as corretas "Em função de", ou simplesmente "Por causa de"), tudo se tornou "interessante".

Observe como o emprego dessa palavra se tornou frequente. Tudo é adjetivado como "interessante". Na mídia oral ou impressa, sua ocorrência é impressionante (para não dizer "interessante"). Comenta-se que determinada situação é "interessante", que um novo filme é "interessante", que o comentário proferido por alguém numa aula ou reunião é "interessante". Parece que não existe outro adjetivo para qualificar as coisas.

Pessoalmente, cansei-me de situações "interessantes". Quero situações desafiadoras, instigantes, algo que me desperte, mais do que interesse, algo que me motive verdadeiramente.

Filmes, séries, livros, artigos "interessantes"? Chega! Se é para investir tempo em alguma obra, que ela seja fantástica, imperdível e sensacional.

Estudantes que fazem comentários "interessantes" em sala de aula? Deveriam tentar algo maior - a não ser que tenha sido uma participação realmente ímpar, diferencial, mas à qual o(a) professor(a) não tenha atribuído a devida qualificação, chamando-a de "interessante".

"Eu nunca fui um cara interessante", diz o pagode de Ferrugem, lançado em 2023. Se as pessoas continuarem tratando tudo como "interessante", vão se transformar o mundo em algo desinteressante, isso sim.

Interessante, não?