Como fechei minha primeira empresa
Esta é a quinta parte de uma série de artigos que conta um pouco da minha história através de fatos que considero relevantes. Leia aqui a primeira, segunda, terceira e quarta parte.
Nos meses seguintes ao evento para microempresas, as coisas não saíram exatamente como o planejado. Precisamos lidar com coisas de gente grande como inadimplência, desistências de última hora e inúmeras modificações da arte dos cartões por conta de critérios bastante subjetivos de alguns clientes.
Nossa receita já ultrapassava os $600 por mês, mas se pensarmos que neste momento três pessoas estavam envolvidas, em tempo integral, o negócio não era o que imaginávamos no início.
A grande pancada veio quando o Brasileiro recebeu uma proposta da Sony: salário garantido de $500. Era tudo o que ele queria ouvir, especialmente depois dos meses que passamos desenhando cartões personalizados sem uma perspectiva de futuro. Quando ele decidiu sair da empresa, desliguei o telefone e, olhando pela janela do quarto, comecei a pensar num plano B.
Estava cansado de ser um faz tudo sem uma renda que me permitisse conquistar as coisas que queria na vida, enquanto meus amigos conseguiam empregos em empresas bacanas.
No último dia de aula, já era noite quando fiquei olhando pela janela do segundo andar em que conseguia ver uma estátua iluminada e ouvia o barulho do ar condicionado. Olhava ao meu redor e pensava: não tenho nada garantido, não sei para onde vai essa empresa e como vou fazer para arrumar um emprego se ficar longe do mercado por mais tempo.
O dia da formatura chegou e foi embora. Não paguei pela festa, então o dia que me formei se resumiu a ir até a secretaria buscar meu diploma (que era entregue através de uma janela com um buraco redondo). Neste mesmo dia fui apresentado a algumas oportunidades de estágio e me inscrevi como trainee para desenvolvedor de uma empresa onde um professor trabalhava.
Depois do fiasco da empresa, estava sem motivação para seguir carreira de desenvolvedor, mas era o que tinha para fazer e fui empurrando com a barriga. Passei na vaga, pois, apesar de desmotivado, já havia feito uma tonelada de trabalhos das matérias de programação para vender aos amigos preguiçosos.
Meu professor, que tanto gostava de mim, me dava esporro no corredor dizendo que eu estava desmotivado e que já não era a pessoa que ele recomendou. Eu prestava atenção nele e no café em sua mão, que se mexia para frente e para trás no copo, enquanto gritava comigo.
Disse que não queria ser desenvolvedor. Queria ser DBA (administrador de banco de dados). Reclamando da vida, ele disse que tinha uma vaga de estágio nessa equipe, mas que o chefe já estava implicando comigo. O sujeito me chamava por diversos apelidos, todos preconceituosos, como se isso fizesse alguma diferença para mim.
Sempre adorei quando alguém diz que não consigo/posso fazer alguma coisa. Uma teimosia que está comigo desde criança e que me colocou em diversas encrencas.
Aceitei a proposta logo de cara. No primeiro dia de trabalho, fui designado a um companheiro de equipe que seria meu tutor. Fui colocado nesta equipe e, três semanas depois, descobri que as vagas de estágio seriam canceladas. Os contratos durariam, no máximo, 6 meses por conta de redução de custos.
História longa curta, entrei no emprego como estagiário, mas cancelaram as vagas de estágio. Uma pessoa da equipe pediu demissão e abriram uma vaga de DBA júnior. Decidi aplicar para a vaga, mas esta exigia um certificado que eu não tinha. Meu tutor se dispôs a ajudar, mas o prazo era curto e eu teria que estudar noite e dia para conseguir.
Um dia depois, liguei para o Boliviano e pedi que ele seguisse com os contratos da Catálogos Panamá, pois eu também havia arrumado algo para fazer na vida. Ele agiu de forma indiferente, pois já estávamos desacelerando o negócio.
Decidimos, juntos, fechar a empresa e seguir a vida. Eu estava animado com a possibilidade de ser contratado e deixar meus dias de empresário para trás. Não havia ganhado dinheiro com a empresa, mas naquele momento acreditava que tudo tinha sido uma grande perda de tempo. Mal sabia que essa vivência viria a calhar no futuro.
Passei por todas as etapas da empresa: abertura, crescimento, problemas, rescisões e fechamento. Vendi, fiz contabilidade, declarei impostos, produzi software e vivi todas as incertezas do empreendedorismo; tudo numa época em que tinha o conforto de poder falhar, afinal ainda tinha uma cama para dormir e comida para comer.
Depois de tudo o que passei, só um pensamento permanecia na cabeça: fazer a tal prova, passar, conseguir a vaga, sobreviver ao chefe desgraçado e me mudar da casa do meu tio. O plano era simples, agora era só seguir!
Como sempre, havia "supersimplificado" as coisas e subestimado a capacidade humana do meu chefe de fazer da minha vida um inferno.
Conto mais sobre isso no próximo artigo!
Desenvolvedor C# Back-End
5 aEssa série de artigos falando da sua história daria um ótimo livro, é uma leitura cativante e com um ótimo enredo, faz querer continuar lendo os próximos artigos e com certeza representa a vida de muitas pessoas, pois não foi uma realidade muito diferente da maioria dos jovens. Parabéns pela iniciativa, os artigos são ótimos!