Como o idioma que você fala afeta o seu modo de pensar.
No mundo inteiro podemos encontrar por volta de sete mil idiomas diferentes. Se paramos para pensar são sete mil maneiras diferentes de pensar o mundo à sua volta. Parece exagero? Existem idiomas que não tem palavras específicas para se referir a números, expressões de tempo ou que usam coordenadas para falar qualquer direção.
Com o código linguístico alojado em nosso cérebro mais a cultura à qual pertencemos, nos expressamos de um modo específico, mas também comum a todos que usam o mesmo idioma. Como professora de português para estrangeiros, hoje consigo compreender e concordar com alguns dos meus alunos quando eles dizem que não fez sentido mesa ser feminino e caderno ser masculino. Isso é apenas uma instituição linguística.
Como professora de inglês, há momentos nos quais os alunos simplesmente estancam porque não entendem por que determinada construção acontece ao contrário da nossa. Caso genitivo, as horas da maneira inglesa entre outras partes do idioma podem ser um grande desafio. E olha que lidei com partes simples da língua. Imagina se eu fosse entrar na seara do presente perfect?
Curiosamente, em português não há tempo que se assemelhe a ele, mas em espanhol, tal tempo verbal também existe. O preterito perfecto é muito mais simples de aprender para aqueles que já purgaram seus pecados aprendendo inglês antes de dedicar-se ao espanhol. Dia desses um aluno me disse: “tô achando que o espanhol é mais próximo do inglês do que a gente pensa”. Juro que não parei para investigar essa teoria.
Fato é que quando pensamos nos idiomas latinos, inconscientemente esperamos que exista um código que se encontra em algum lugar da fala. Existe, mas tem limites. Uma língua não é a tradução de outras línguas. Por isso fazemos tradução e adaptação. Por isso também muitos alunos gritam que “ISSO NÃO FAZ SENTIDO NENHUM” na tentativa infeliz de aprender um novo idioma a partir das regras e funções estabelecidas para o seu.
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“Aceite, porque dói menos”, sempre digo a eles. E, se em 26 anos de sala de aula eu tivesse ganho R$0,01 para cada vez que respondo: “não faz sentido porque você quer enquadrar outro idioma nas regras e na maneira como falamos português”, estaria Godzilionária como queria Forest Gump.
Quando pensamos também que idiomas são organismos sociais vivos a coisa ainda piora. Estamos sempre incorporando estrangeirismos, criando palavras, gírias, expressões. Hoje temos mais palavras na língua portuguesa do que tínhamos há 50 anos. Só relacionadas à tecnologia, novos trabalhos, habilidades, foram inúmeros os termos incorporados.
E esse blá blá blá quer chegar aonde? No fato de que falar um idioma é também entender como um povo pensa. É soltar as amarras da sua língua e incorporar novas maneiras de pensar e de se expressar. Não é fácil, a jornada é longa, mas é uma delícia quando fazemos desta, uma caminhada leve e compreendemos que leva tempo e muita prática. Erros e acertos. Mas é totalmente possível. Faça suas malas!