A comunicação do casal
A alma do relacionamento de um casal se encontra na comunicação. Não só a de contato físico e sexual, como a verbal -- relatos sobre fatos diários, sentimentos, confidências, lembranças, emoções. Significa dizer o que precisa dizer mas sentir que foi compreendido. É indispensável, para tanto, que ambos se ouçam com boa intenção, paciência e amorosidade.
Fala-se tanto nisso, e no entanto existe o risco de não sabermos como deve ser a comunicação ideal dentro da relação conjugal, embora intensa e ininterrupta.
Para começar, deve explicitamente transmitir desejos, sentimentos e pensamentos, evitando expressar-se de forma indireta com medo de reações negativas. Essa condição liga-se à consciência de si. Por exemplo, se você é inseguro ou insegura, e teme a reação do parceiro, ou seu ciúme, talvez prefira dizer: “Puxa, faz tempo que não vemos meus amigos”. Mas se adquirirem consciência de si -- no caso, da própria insegurança -- dirão: “Gostaria de convidar meus amigos, tenho saudade deles. Vamos conversar sobre isso.” A abordagem indireta é um tipo de compulsão, hábito que com frequência trava a comunicação.
Outra compulsão comum é a que nos impede de ouvir o parceiro; então ele se coloca na defensiva e talvez reaja com mau-humor e até fantasias persecutórias.
Igualmente compulsivo é o hábito de dar conselhos ou tentar tranquilizar o parceiro, enquanto ele só quer contar o que aconteceu, o que sente e como vive certa situação. Conselhos e tranquilizações serão bem-vindos, sim, mas depois do necessário desabafo e das confidências. Muitos sentimentos de rejeição e desamor são evitados se cada um se preocupar em ouvir, só ouvir, o que o outro conta. Tal exercício, que se esforça por compreender os sentimentos de quem fala, e olha a situação sob o ângulo do outro, é mais útil do que se apressar em dar soluções, mostrar enganos ou minimizar preocupações.
Falar sobre o outro em vez de falar sobre si é mais uma compulsão que atrapalha. Por exemplo, dizer: “Fiquei magoada porque você não chegou na hora combinada para irmos ao supermercado” é mais útil do que dizer: “Você é irresponsável, só pensa em si e nunca chega na hora.” As afirmações sobre o que ele ou ela fez ou pensa são uma avaliação externa do que ocorreu. Já, expor os próprios sentimentos revelam uma realidade que engloba as reações que o parceiro provoca.
Ainda compulsão é o hábito de interromper o parceiro. Há pessoas que o justificam: já sabiam o que o outro ia falar; o que dizia não estava correto, era irreal, e ele tinha de ouvir isso. São explicações que não evitam o mal-estar da interrupção e contêm a mensagem de que o parceiro não deve falar isso ou aquilo -- o que diz e o seu sentimento não têm importância. Ler a mente do outro é especulação sobre o que ele sente, pensa ou tenta fazer, e um dos hábitos prejudiciais à comunicação e à relação.
Compulsões na comunicação levam os casais a desenvolver defesas para não sofrer. Diminuem as conversas que constroem a relação amorosa, ambos especializam-se em queixas e explicações sobre as causas de seu silêncio e sentem-se incompreendidos. Perdem ainda a capacidade de clarear seu interior, e o que querem dizer. O que sentiam fica embutido e gera comunicações não-verbais negativas: reações ressentidas, sem amor.
É o momento em que se torna imprescindível conversar sobre a comunicação: quando alguém fala, além do conteúdo e da informação, compartilha sua visão do mundo e o modo de sentir o que vive e ocorre.
A qualidade da comunicação depende do treino dos envolvidos em dizer ao outro, de forma clara, o que desejam e precisam. Também depende do exercício de escutar com lucidez, freando o impulso de interromper o parceiro. É assim que podemos descobrir novas facetas do outro e a conhecer ângulos diferentes da realidade.
Que o casal desenvolva boa intenção, paciência, humildade e generosidade. O prêmio é a preciosa e insubstituível comunicação amorosa.