Contingenciamento lucrativo
Foto: Norte Notícias

Contingenciamento lucrativo

A essa altura, todo mundo parece já ter percebido que o contingenciamento no orçamento das universidades e institutos federais, bem como nos investimentos no ensino básico, anunciado pelo ministro da Educação, não passa de eufemismo barato que deve ser entendido pelo que é: corte puro e simples. Sim, porque quando o valor contingenciado voltar a ficar disponível para as instituições, se voltar, algumas delas provavelmente já terão deixado de existir.

A partir desse ponto, portanto, assumimos o contingenciamento como corte. Dois fatos recentes, quando considerados em perspectiva, lançam luz sobre a decisão do ministro, tomada com apoio explícito do presidente na notória live dos chocolates.

1) A publicação na quinta-feira (16) da V Pesquisa de Perfil Socioeconômico dos Estudantes das Universidades Federais, realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), revela que 51,2% dos estudantes de graduação em universidades federais são negros, boa parte oriunda de famílias cuja renda não passa de um salário mínimo e meio. A pesquisa também revela que a presença de indígenas e quilombolas nas universidades mais que dobrou desde 2014, ano da edição anterior da pesquisa. Também é possível saber, através da pesquisa, que 64,7% desses estudantes são provenientes de escolas públicas.

Os dados mostram um acelerado processo de mudança de perfil nas universidades públicas, ambiente habitado, até pouco mais de uma década atrás, pelos filhos da classe média e da elite rica do país. É necessário observar que a chegada dos filhos dos trabalhadores à universidade não significou perda de espaço para seus ocupantes históricos, pois ocorreu no contexto da expansão da oferta de vagas. A maioria dos novos universitários estuda em universidades também novas, inauguradas depois de 2002.

2) Na quarta-feira, dia 15/05, enquanto perto de um milhão de pessoas marchava nas cidades contra o corte na Educação, a feira de negócios Bett Educar, em São Paulo, dedicada aos negócios da educação, despertou 50% mais interesse dos investidores que nos anos anteriores. No mesmo dia, a empresa Kroton Educacional, a maior do setor, dona de marcas como Anhanguera e Pitágoras, anunciou investimentos da ordem de R$ 240 milhões na expansão da rede. Na Bolsa de Valores, as ações das corporações da área do ensino subiram de forma atípica.

O corte no orçamento revela que o compromisso de Bolsonaro e do ministro não é com a universidade pública, gratuita e acessível, mas com os grupos empresariais.

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