Pós-democracia

É cada vez mais forte a percepção de que ingressamos em uma nova era, a partir da qual o bem-estar parece uma utopia inalcançável. O pacto social proposto pela Constituição de 1988 se esvai rapidamente, enquanto no horizonte se delineiam crises e conflitos. A classe trabalhadora, já fragilizada pela perda de direitos, vê sua segurança ainda mais ameaçada com o PIB negativo registrado no primeiro trimestre de 2019. Especialistas alertam para o risco de “reprimarização” da economia pela ausência de uma política industrial para o país. A existência de cerca de 14 milhões de desempregados reduz ainda mais as chances de recuperação da economia no curto prazo.

Sobre a parcela da população que dispõe de reservas financeiras, paira a ameaça da explosão da violência na forma de assaltos, furtos e roubos, que podem evoluir para saques em estabelecimentos comerciais e transportadores de mercadorias. Neste sentido, as notícias recentes vindas da Argentina são didáticas.

A instabilidade da nova era não é fenômeno natural e inevitável, mas resulta de uma diretriz econômica que procura anular políticas de distribuição de renda e de redução da desigualdade para garantir ainda mais concentração da riqueza nas mãos de poucos. Na pós-democracia, ensina Rubens Casara, juiz de direito e professor, o Estado se mostra violento no trato com as parcelas mais pobres da população, e ao mesmo tempo solícito às exigências dos donos do capital por mais acumulação. Na nova era, os recursos públicos são deslocados das políticas sociais para o lucro privado. O fato é bem ilustrado pelo projeto do governo federal de desmantelar a previdência pública, ao mesmo tempo que assume o papel de despachante dos interesses empresariais e faz vista grossa às dívidas bilionárias de grandes empresas para com a Previdência Social.

A era pós-democracia chegou para ficar, mas pode ser rechaçada. Basta que o povo se conscientize de que o governo deve visar o bem-estar de todos, e não de uma pequena parcela de privilegiados.