Jornalismo 360
As revelações pelo The Intercept Brasil das conversas entre o então juiz federal Sérgio Moro e um grupo de procuradores da Lava-jato, têm potencial para se tornar um marco na história do jornalismo brasileiro.
O plano de uma cobertura 360, no melhor estilo comunicação integrada de marketing, tem dado certo. Como se fosse uma série da Netflix, o Intercept tem dosado a curiosidade do público de forma a evitar que o interesse pelo tema se extinga. Tem sido ajudado, reconheça-se, por jornalões como Folha e Estadão, bem como por diários regionais, que repercutem com destaque suas revelações. Idem para revistas semanais e portais da internet. Isolado na defesa do ex-juiz, o grupo Globo, com suas TVs, rádios, jornais impressos e revista, acaba também repercutindo, embora dando ênfase ao viés do ataque hacker.
Merece destaque a estratégia de publicar as denúncias a conta-gotas, sob o pretexto do processamento das informações. Descritas como volumosas, complexas e sensíveis, é compreensível que os editores precisem de tempo para cruzar dados e checar o conteúdo das gravações. O efeito prático junto aos leitores, contudo, é que estes, gostem ou não dos conteúdos, permanecem em suspenso aguardando as novas revelações. Ante a ameaça de retaliação por parte dos acusados, com investigações iniciadas pela Polícia Federal em busca do suposto hacker que teria extraído os diálogos dos celulares, Greenwald deu acesso ao material a outros jornalistas, como Reinaldo Azevedo, que em 20/06 apresentou novas denúncias. “Será que vão querer prender vários jornalistas?”, questionou o editor do Intercept.
Desta forma, um site pouco conhecido, com uma estrutura enxuta de profissionais, conseguiu trazer para a agenda pública uma denúncia política numa época em que o público demonstrava cansaço desse tipo de conteúdo. Tudo indica que estamos inaugurando um novo formato de jornalismo, ao qual, na falta de nome melhor, sugiro chamar de “Jornalismo 360”.