Contratação às cegas ou cortina de fumaça para os preconceitos?
O preconceito inconsciente está relacionado ao porquê de todas as nossas atitudes. Muitas vezes nos dizemos não preconceituosos, nos autodenominamos diversos, até conversamos sobre diversidade como se o assunto fizesse parte da nossa rotina e, quando paramos para analisar, percebemos que, sim, somos preconceituosos. E mais: somos confrontados com o fato de que esses preconceitos inconscientes interferem na forma como nos relacionamos pessoal e profissionalmente.
Na minha disciplina sobre Diversidade em MBAs executivos, sempre pergunto se alguém se considera preconceituoso, e o número de mãos levantadas é ínfimo! No decorrer da reflexão em aula, entretanto, as pessoas conseguem perceber que, muito mais que preconceituosos, somos preconceituosos inconscientes - E aí jaz o grande perigo!
Quando não sabemos que temos preconceito com cor, raça, orientação sexual, cultura, condições especiais de saúde, nacionalidade, estereótipo, status profissional e social, dentre outros, acabamos agindo de forma muito pouco inclusiva. Em inúmeras ocasiões, sentei com pessoas para remodelar comportamento organizacional e me deparei com crenças limitantes, conscientes e inconscientes, que faziam essas pessoas se relacionarem somente com seus iguais.
Para minimizar este nosso comportamento de agir “sem saber” o porquê de fazermos as coisas desta ou daquela maneira, inventaram a contratação às cegas, que nada mais é do que entrevistas ou currículos sem nome, sem idade, sem orientação sexual e somente com competências e habilidades…Ótimo! Muitas empresas têm conseguido melhorar os indicadores de diversidade com esta ferramenta. Isto é, as empresas têm obtido êxito em aumentar a contratação de negros, de mulheres, de muçulmanos e assim por diante. Mas pergunto: será que, ao tirar informações que nos levariam a ter preconceito inconsciente, não estamos deixando de “entender conscientemente” quais são os nossos preconceitos?
Quando vejo as contratações às cegas, se me permitem fazer uma crítica ousada devido ao meu olhar altamente protagonista, questiono se a preguiça mental em nos conscientizarmos sobre como tomamos decisões não estaria nos levando a esconder de nós mesmos os nossos preconceitos. Questiono se isso nos leva a vestirmos a máscara da igualdade, escondendo tudo aquilo que nos afasta da equidade. Note que a equidade acontece quando tratamos todas as pessoas de forma justa.
Ao trabalhar com remodelagem comportamental de executivos sempre me vem à mente o quanto estamos preparados para fazer diferente ou mesmo o quanto nosso discurso tem 100% de coesão com a nossa fala. Recentemente, conheci um grupo de executivos que se dizia altamente diverso, embora dois de seus integrantes fossem altamente hostilizados pelos próprios colegas, um por seu tom de voz mais agudo, e o outro, porque era homossexual e porque se comportava de forma diferente do grupo. Note que este grupo se dizia diverso, mas as brincadeiras internas e a dinâmica do relacionamento entre os membros definiam que as oportunidades de interação não eram iguais para todos.
Desta forma, concluo que fácil, fácil é se autonomear não preconceituoso, fácil, fácil é expor sua conduta na fala. O difícil, mesmo, é eliminar a cortina de fumaça e se autovigiar, trazendo para o consciente todos os preconceitos. Difícil é colocar de lado a preguiça mental que nos faz esconder de nós mesmo os motivos de escolhermos estas ou aquelas pessoas para estarmos perto, para participarem de nossa equipe, para serem parte de nossos relacionamentos.
Contratação às cegas, que nada, o certo é contratação com a lupa da equidade!
Oficial de Chancelaria na Ministério das Realações Exteriores
6 aTexto muito interessante. Posso publicar no facebook?
assistente administrativo na Prefeitura Municipal de Florianopolis
6 aDevemos contratar por competência, por equidade,mas infelizmente isto não ocorre, esta na hora de rever, belo texto!!
Executivo Comercial | Especialista em Energia Solar e Geração Distribuída | Mercado Livre e Autoprodução de Energia | Vendas Técnicas e Soluções Energéticas | Engenharia Elétrica - UFMA
6 a"questiono se a preguiça mental em nos conscientizarmos sobre como tomamos decisões não estaria nos levando a esconder de nos mesmos os nossos preconceitos." Não preciso mais falar nada, somente elogiar o texto, parabéns Livia.
Analista de Processos
6 aE se os candidatos começarem a não colocar os dados que geram preconceitos em seus CV's , forçando empresas e recrutadores á realizarem seus processos seletivos de maneira mais transparente... o que será que aconteceria?