Conversa de Banheiro

Conversa de Banheiro

Recordo-me de uma situação, ocorrida em um banco no qual trabalhei. Havia um Account Officer, muito competente por sinal, porém ainda pouco experiente.

Ele estava chateado e demonstrava sinais de pânico. Ao perguntar sobre o ocorrido, relatou que um cliente havia quebrado um ou mais Covenants em uma dívida e ele, pensando em como este evento poderia impactar a sua carreira, não sabia o que fazer!

Ao ouvir o relato, a minha primeira percepção fora de que aquela seria uma ótima oportunidade, quer para se ganhar mais dinheiro, quer para melhorar a estrutura de garantias da operação. Afinal, Covenants não foram idealizados justamente para isto: reprecificar ativos e ajustar estruturas, dado que ocorreu alguma alteração material na situação econômico-financeira do Emissor?

De fato, e para o alívio de todos, foi o que acabou por acontecer.

Este breve relato descreve uma situação sobre a qual tenho refletido com recorrência: a redução do ciclo de vida dos executivos no segmento bancário e o impacto da "juniorização" sobre a capacidade dos bancos em superar as expectativas dos seus clientes (concentração bancária será assunto para um outro artigo)!

Bancos, acertadamente, sempre apostaram na reciclagem dos seus respectivos times, mesclando jovens talentos com profissionais maduros. Contudo, nos últimos anos este quadro mudou e agora os profissionais maduros estão sendo simplesmente substituídos por jovens promissores, porém inexperientes e, consequentemente, mais baratos.

Nada contra esta opção estratégica. Afinal, todos nós um dia já fomos jovens, inexperientes e, por consequência, mais baratos!

No entanto, levando esta tendência ao limite, pergunto se restará nas equipes alguém sênior o suficiente para apoiar este jovem profissional quando estiver choramingando no banheiro? Quantas oportunidades serão perdidas até que ele esteja preparado? O que é estrategicamente mais eficaz: reduzir o custo da folha ou bancar profissionais capazes de gerar maior valor agregado?

Esta situação fica ainda mais interessante quando realizo que poderemos, em um futuro não tão distante, dobrar a nossa expetativa de vida profissional*.

Ficam no ar estas questões.

(*) Recomendo a leitura de "Homo Deus" (Harari, Yuval Noah). 


Marcelo Gama é economista e tem mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, com foco em operações estruturadas de crédito.

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