Coronavírus - Como vai acabar?
Cerca de 4 meses atrás, ninguém sabia que o SARS-CoV-2, conhecido popularmente como Coronavirus, existia. Agora, o vírus já infectou cerca de 550 mil pessoas e causou quase 25 mil mortes (4.53%), que nós sabemos. Ele quebrou economias e sistemas de saúde, esvaziou lugares públicos e encheu hospitais. O Covid-19, como tem sido chamado, causou uma pandemia que a maioria das pessoas vivas nunca presenciou. Logo, todo mundo vai conhecer alguém que foi infectado.
Mas ele não veio sem avisos.
Nos últimos anos, vários experts da área de saúde escreveram livros e pesquisas sobre uma possível pandemia. Até Bill Gates, cofundador da Microsoft, palestrou sobre o assunto em um TED Talks que acumulou mais de 20 milhões de visualizações. Em Outubro de 2019, o Centro de Segurança de Saúde Nacional dos EUA simulou, em uma espécie de jogo, o que aconteceria se um coronavírus (lembrando que existem vários tipos) se espalhasse pelo mundo. E aí, o que era uma conversa hipotética, virou realidade.
O que acontece agora?
De uma certa maneira, o COVID-19 é uma doença lenta. Pessoas que foram infectadas há duas semanas começam a apresentar os sintomas agora, mesmo se elas já tiverem se isolado.
O número exato de infectados no Brasil é praticamente impossível de se descobrir. De acordo com os últimos dados, há cerca de 3 mil casos confirmados que resultaram em 77 mortes. Mas com certeza esse número é muito maior. Os EUA, até semana passada, contabilizavam apenas 17 mil casos. Hoje, são mais de 80 mil e esses números crescem exponencialmente.
Espanha e Itália são, infelizmente, exemplos do que pode vir a acontecer no Brasil. Hospitais sem leitos, suprimentos ou até sem profissionais de saúde o sucifiente. Incapazes de cuidar da saúde de todos, médicos estão sendo obrigados e escolher quem receberá um tratamento adequado. Se considerarmos que a Itália possui 60% a mais de leitos hospitalares que o Brasil para cada mil habitantes é seguro afirmar que o que aconteceu lá, possa acontecer aqui também.
Próximos passos
A primeira e mais importante medida que deve ser tomada, é produzir máscaras, luvas e outros equipamentos de proteção rapidamente e em larga escala. Se os profissionais da saúde não conseguirem se manter saudáveis, a reação contra o vírus irá colapsar. Na România, hospitais foram fechados porque médicos e enfermeiras contraíram o vírus, o que diminuiu a capacidade hospitalar do país.
A produção desses equipamentos de proteção não é nem de perto suficiente. É necessário mais, muito mais para suprir a demanda. A boa notícia é que algumas medidas estão sendo tomadas para tal, como por exemplo os prisioneiros de São Paulo que estão produzindo máscaras, algumas empresas produzindo álcool gel e produtos higienizadores e voluntariados se colocando a disposição.
O segundo passo, é fazer testes do Covid-19 de forma massiva. Estes testes tem sido lentos por diversos motivos; falta de proteção para quem irá realizar os testes (por isso a importância de se produzir mais máscaras antes), falta de respostas rápidas governamentais, de pessoas treinadas para a realização do teste, entre outras. É um problema mais logístico do que financeiro.
Mas nem todos poderão ser testados. Se toda a população quiser se testar, mesmo com os menores ou sem sintomas algum, isso irá sobrecarregar o sistema de saúde. A prioridade é realizar os testes no grupo de risco, ou seja, profissionais de saúde e pessoas que já estão hospitalizadas. Somente depois disso é que o teste deve ser realizado mais largamente ao resto da população.
A terceira ação necessária é o distanciamento social. Não importa se agora você é a favor ou contra o isolamento vertical, o atual momento que vivemos hoje, ainda mais na incerteza do número de infectados, exige esse distanciamento social.
Pense da seguinte forma, existem dois grupos de pessoas no Brasil nesse momento: o Grupo A, que inclui todos aqueles envolvidos na resposta médica contra o vírus, seja tratando pacientes, fazendo testes ou produzindo suprimentos; e o Grupo B, que inclui todo o resto. A principal função do Grupo B, é “achatar a curva” do crescimento de infectados para não sobrecarregar o Grupo A e causar um colapso do sistema.
E a maneira mais eficaz de fazer isso agora, é isolando as pessoas. Somente após conseguirmos achatar parte dessa curva, poderemos de fato conseguir fazer um isolamento vertical bem sucedido.
Porém, não é fácil convencer uma população de 200 milhões de habitantes a ficarem em casa. É aí que entra o quarto passo: coordenação de informação.
A mídia, o governo e as instituições de saúde e segurança pública devem informar e comunicar a situação atual do país quanto ao vírus de forma coordenada. O mais importante é informar a população, e essa informação deve ser feita de forma confiável, sem contradições entre as partes. Sem essa conscientização em massa, o isolamento social não terá efeito.
Se a conscientização for eficaz, se a população aderir ao distanciamento social, se vários testes forem realizados, e se houver números suficientes de equipamentos de proteção, há uma chance do país controlar a pandemia e acabar com o mínimo de dano possível. Ninguém sabe quanto tempo levará, mas não vai ser rápido.
E depois de um possível controle da pandemia?
Mesmo com estes três passos perfeitamente coordenados e com o vírus eventualmente sob controle, existe a chance de uma pessoa infectada reiniciar a pandemia caso viaje para algum lugar. Alguns países asiáticos que conseguiram conter a pandemia já sofrem com esse problema.
Há três possibilidades de como isso vai acabar.
A primeira, e a menos provável, é que todos os países infectados ajam com sincronia em controlar o vírus, enfraquecendo-o simultaneamente, como foi com o SARS em 2003. Visto que o Covid-19 é altamente contagioso, que vários países estão atrasados nos testes, e que a resposta têm sido lenta, dificilmente será este o fim que ocorrerá.
A segunda é o que historicamente as últimas pandemias tem feito: se espalham pelo mundo rapidamente e deixam para trás uma quantidade de pessoas imunes o suficiente para que o vírus tenha dificuldade de encontrar um hospedeiro. Porém, essa é a opção mais perigosa, pois viria com o custo inevitável de muitas vidas, visto que o SARS-CoV-2 é mais contagioso e fatal que a gripe. Infelizmente, vários experts concordam que essa possa ser a opção mais provável de acontecer.
A terceira e última opção, é que o mundo “brinque de pega pega” com o vírus, agindo pontualmente quando houver surtos para estancá-los o mais rápido possível e tentando evitar que se espalhe até que uma vacina seja produzida.
Está é a melhor opção, mas mais complicada. Primeiramente, ela depende de que uma vacina seja de fato produzida. Vacinas contra gripes são mais fáceis de serem feitas, pois o mundo já está acostumado com elas e as fazem todo ano. Mas não existem vacinas contra os coronavírus ainda, então os pesquisadores devem começar do início.
Apesar dos passos iniciais para a produção dessa vacina terem sido extremamente rápidos, ainda são necessários muitos testes, dosagens, e produção em massa. Não se sabe ao certo quanto tempo isso levará, mas estima-se que a primeira vacina só saia daqui a 12–18 meses.
Tudo isso sem contar as sazonalidades e quão imunes nós seríamos.
O impacto de qualquer uma dessas alternativas vai ser enorme. Após o início da normalização dos países, uma pandemia secundária de problemas de saúde mental se seguirá. Em um momento de profundo medo e incerteza, as pessoas estão sendo impedidas de manter o contato humano. Abraços, apertos de mão e outros rituais sociais estão agora cheios de perigo. Pessoas com ansiedade ou transtorno obsessivo-compulsivo estão sofrendo. As pessoas idosas, que já são excluídas de grande parte da vida pública, estão sendo obrigadas a se distanciar ainda mais, aprofundando sua solidão. O povo asiático está sofrendo insultos racistas. Incidentes de violência doméstica e abuso infantil provavelmente aumentarão, pois as pessoas são forçadas a ficar em lares inseguros. As crianças, cujos corpos são principalmente poupados pelo vírus, podem sofrer trauma mental que irá permanecer com elas na idade adulta.
Mas também existem chances de um mundo melhor, mais unido depois dessa pandemia. As pessoas já tem mostrado quão gentis podem ser, mostrando gratidão aos profissionais de saúde, se unindo com o propósito de ficar em casa, sendo voluntários para fazer compras nos mercados para os idosos. Serviços de videocalls tem sido mais largamente usados também entre pessoas para manter contato. Algumas empresas tentam ajudar, disponibilizando conteúdos gratuitos ou doações. Tudo isso pode, no futuro, ser visto com uma grande união dos humanos para tentar combater esse vírus.
Sem falar no know-how adquirido também. Os países que haviam sofrido com o SARS em 2003 tinham uma consciência pública sobre uma possível pandemia, o que lhes permitiu entrar em ação mais rapidamente e evitar desastres maiores.
Talvez haverá uma nova geração de crianças que sonhem em ser epidemiologistas.
Talvez a saúde pública seja, de fato, um tema central e realmente valorizada no país.
Se tirarmos os aprendizados dessa lição dolorosa que estamos passando, talvez, da próxima vez que um coronavírus surgir, estejamos preparados para contê-lo rapidamente.