Crônica de uma tragédia
O Brasil conseguiu.
Somos a pior experiência de combate ao covid-19 no mundo.
Não tivemos o pico.
Temos um platô com mais de 50 dias.
O Ministério da Saúde não tem Ministro.
Não existe estratégia nacional para combater o vírus.
Mataremos mais cidadãos que qualquer outro lugar do planeta (com menção honrosa aos americanos, que estão dedicados ao genocídio de uma parcela da população, de preferência, pretos e pobres, com pouco acesso à saúde.)
No Brasil, ficaremos em platô por muitas semanas.
O Brasil é gigante em tamanho territorial e população.
Quando um Estado decide flexibilizar, mais gente é infectada e a curva de queda de contágio estabiliza ao invés de cair.
Quando um Estado ainda não atingiu o pico, ele continua subindo até atingir o platô, e lá fica, por semanas.
A crise econômica chegou antes de terminar a crise do vírus.
Já temos milhões de desempregados e serão ainda mais nas próximas semanas.
Comércios fecham as portas em todas as cidades.
Menos empregos, menos faturamento na indústria e no comércio, menos impostos.
Simples assim.
Sem impostos, os Governos não possuem capacidade para manter os serviços básicos para a população.
Saúde, educação e transporte dependem de subsídios dos Governos para continuar funcionando e esse dinheiro começa a faltar.
Na cidade do Rio de Janeiro, trens e ônibus já anunciam que param nos próximos dias.
Estudiosos da educação avaliam um colapso na Educação pública antes mesmo do retorno às aulas.
Sem dinheiro, os Estados e Municípios não terão como pagar professores, água, luz e serviços.
O SUS está focado na pandemia e com isso nunca morreu tanta gente em casa e sem atendimento para outras doenças.
Nós, os cidadãos, estamos paralisados.
Ou morrendo.
São mais de 68 mil mortos e contando.
O barco afunda rápido e somos como a banda do Titanic, que só consegue olhar a tragédia e continuar tocando a valsa.
É uma crise civilizatória de proporções inéditas.
O vírus aumentou a distância entre ricos e pobres.
Não vai passar.
Nunca fomos tão desiguais.
Precisamos salvar todos ou não salvaremos nenhum de nós.
Não podemos desistir do Brasil.