Cultura não é tudo: 2 fatos sobre inovação que você precisa repensar

Cultura não é tudo: 2 fatos sobre inovação que você precisa repensar

Você provavelmente já deve ter escutado antes a frase 'Culture eats strategy for breakfast' (Peter Drucker). Quando falamos de inovação, cultura é certamente um dos maiores desafios que empresas enfrentam para mudar a forma que trabalham.


Mas mudar a cultura não é o único desafio, e definitivamente não deve ser a primeira batalha a ser enfrentada quando empresas desejam ser mais inovadoras.


Segundo Eric Ries em seu novo livro, The Startup Way, empresas deveriam operar como startups: com uma visão client-centric, testando e validando hipóteses antes de escalar a solução para o mercado, e estimulando um ambiente de aprendizado constante onde 'falhar' é mais do que aceitável, é necessário. Cultura seria o resultado desses hábitos e formas de trabalhar, seria como um músculo da memória que trabalha e opera com base nas experiências passadas de times. Sendo assim, a cultura seria a consequência da forma que times e empresas trabalham e interagem.


Estimular uma cultura de inovação não é o suficiente. Líderes e empresas precisam criar os mecanismos certos de accountability (responsabilidade) e processos que permitam que seus colaboradores inovem e transformem seu trabalho constantemente. Esses dois pontos seriam a base da pirâmide, antes da cultura.


Diagrama 'The StartupWay', Eric Ries

Accountability

'Accountability' seriam os sistemas, recompensas, e incentivos que guiam os colaboradores a focarem sua atenção nas coisas certas. Por quais motivos se celebra sucesso ou se demite pessoas na sua empresa? Quais os objetivos realmente importam para que seus funcionários sejam promovidos e dêem o próximo passo de carreira?


Empresas criam programas de aceleração de ideias, labs de inovação, promovem cursos de design thinking e agile, mas negligenciam como todos os comportamentos gerados a partir dessas iniciativas se encaixam nos ritos de avaliação e performance. Enquanto líderes querem ouvir dos seus colaboradores 'I eat failure for breakfast', bônus e méritos são calculados com base em 'Failure is not an option'. O gap entre o espírito empreendedor que é incentivado para que funcionários tragam inovação e a forma tradicional que a maioria dos programas de avaliação possuem é um dos primeiros sinais que seu programa de inovação pode não funcionar.


As táticas de inovação de uma empresa devem ser refletidas nos OKRs (Objetivos e principais resultados) de líderes e suas equipes. Os objetivos devem ser traçados com uma outra ótica, trocando velhas e tradicionais métricas como ROI e redução de custos, para outras como innovation accounting (IDEO).  Por exemplo, o Google usa seu sistema de OKRs não só para avaliar se os resultados foram atingidos ou não, mas identificar quais foram os aprendizados dos projetos que deram certo e falharam também. Isso reflete a cultura de tolerância ao erro da empresa e a valorização do processo de aprendizado de cada colaborador.

Fora isso, líderes precisam criar mecanismos para que pessoas tomem essa responsabilidade/accountability para si. Não adianta somente criar as OKRs certos, mas também ter certeza que os times possuem o ambiente certo para atingir isso.

Pesquisas mostram que dar autonomia para que as pessoas definam seu próprio trabalho e tomem ação com suas decisões está positivamente relacionado à comportamentos que guiam inovação.

Chefes que micro gerenciam seus times estão criando um ambiente averso à inovação e mudança.

Segundo o ReWork do Google, estas são 4 dicas para encorajar ownership e curiosidade, dois mecanismos essenciais para sua estratégia de inovação:

  • Arme seu time com o máximo de informação. Informação é poder.
  • Encoraje curiosidade e questionamento. Um time que faz perguntas é um bom sinal.
  • Crie um canal para que as pessoas possam explorar suas ideias.
  • Foque em criar uma cultura de aprendizado constante que acontece de fora para dentro, mas também com a troca de conhecimento entre times e indivíduos.

Processos

Vamos tomar como processos ferramentas e táticas que funcionários podem usar todos os dias para ter seu trabalho feito, assim como planejamento de projetos, gerenciamento, coordenação de times, e colaboração. Os processos certos precisam existir para que as accountabilities/ responsabilidades possam funcionar. Tomemos como exemplo uma empresa que avalia seus times por número de projetos inovadores que ele implementaram no último ano. Porém, a mesma empresa possui processos de aprovação de budget e contratos lentos e ineficientes, que desaceleram a velocidade de implementação de qualquer nova ideia. Por mais que a responsabilidade em inovar exista, ela nunca poderá acontecer pois os mecanismos certos não existem.


Empresas inovadoras possuem processos altamente flexíveis; constroem, mensuram, e aprendem com seus projetos, e possuem um portfólio de rápida experimentação em contrapartida a processos de controle rígidos.

Assim como a cultura será única para cada empresa, os processos escolhidos para que a inovação aconteça também serão. Spotify criou a cultura de trabalho em squads para criar eficiência no desenvolvimento de novas features. Transferwise estabeleceu mecanismos que permitem times trabalharem de modo autônomo, sem chefes e em times multidisciplinares. GE aprendeu com seu programa FastWorks como reduzir o tempo de desenvolvimento de um produto de 5 anos para poucos meses colocando conceitos como MVP e sprints, usados geralmente por startups. Ebay na Alemanha conseguiu escalar globalmente a iniciativa de microprojetos, onde times locais podem criar e testar em seus mercados ideias e conceitos sem ter que esperar decisões globais lentas. No Brasil, Magazine Luiza criou o LuizaLabs que conta com mais de 200 colaboradores trabalhando de maneira ágil e com o colocando o cliente no centro para lançar projetos com foco no crescimento da marca.


Diferença por pilar entre empresas tradicionais e empreendedoras:


Existem diversos exemplos de como pequenas e grandes empresas mudaram seus processos para que a cultura que desejavam estabelecer pudesse, enfim, ganhar pernas. Sabendo quais os comportamentos que sua empresa espera, o próximo passo é definir quais serão as formas de trabalhar e ferramentas que seus times terão para tornar isso real.


Abaixo você encontra alguns processos que você já pode usar na sua empresa para cultivar um ambiente de inovação.


  1. Feedback: 5 passos para dar um feedback construtivo.
  2. Premortem: aprenda a aprender com as falhas antes delas acontecerem com este framework do Google.
  3. Squads: como spotify começou a trabalhar em squads (e fez eles funcionarem na prática)
  4. Metered Funding: como saber investir em ideias inovadoras sem comprometer seu budget.
  5. MVP (Minimum Viable Product): teste suas hipóteses antes de escalar suas ideias para o mercado.
  6. Design Thinking: coloque o problema do cliente no centro da equação e crie soluções mais relevantes.

E você? Como está liderando inovação na sua empresa?

GLAUCO SCHEFFEL

Diretor de Engenharia de Software @ Becomex | Engenharia de Software, Inovação

4 a

Adorei o conteúdo e a forma como o abordou! Parabéns!

Ana Leão

Managing Director. Business and Operations. Client Services. Growth. Account Management. ESG Especialist. Marketing Management. DE&I. Career Mentoring.

6 a

Que bacana, Duda! Amei. Vc ta trabalhando na Elo?!!

Humberto Mendes

Software Engineer | Java | Spring boot | AWS | Backend

6 a

Parabéns Eduarda, muito bom!👏👏👏👏👏

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