DÁ PARA ECONOMIZAR MUITO TROCANDO DE BANCO!

Por Rafael Lucchesi Gomes*

Começo este texto repetindo o óbvio: a indústria 4.0, a Inteligência Artificial e todas as previsões tecnológicas apontam para um futuro que mudará abruptamente a vida de quem tem negócios, trabalhadores e consumidores. Quem não se atentar e caminhar para não perder essa onda correrá sérios riscos de ser substituído por máquinas e negócios muito mais tecnológicos que entregarão mais por muito menos.

Não vai adiantar a grita de que há concorrência desleal, ou que o mundo é ingrato. Somos nós, consumidores, que ditamos quais negócios ficam e quais somem com nossas decisões de compra e uso.

E como ficam os bancos tradicionais e as cooperativas de crédito? O grande problema destes negócios é que o modelo de geração receita se baseia muito na cobrança de tarifas.

Os números são gigantes: de acordo com o economista Eduardo Moreira, só os cinco maiores bancos brasileiros arrecadam mais de R$130 bilhões apenas com tarifas .

Não estamos falando de juros, cheque especial e operações de crédito: são só com tarifas mesmo, como aquelas de pacotes de serviços e renovação de cadastro, além de emissão de boletos e cheques, transferências e DOC, saques em caixas eletrônicos, tarifas de cartão de crédito, etc.

Frente a esses modelos de negócios, vêm surgindo os bancos digitais, que oferecem todos esses serviços gratuitamente. Como conseguem?

Sabe aquelas agências climatizadas, com vários gerentes, atendentes e máquinas, em pontos nobres das cidades, sedes arranha-céus todos em vidro espelhado e mármore, cheias de funcionários, estruturas administrativas caras? (...) nada disso existe!!!

As estruturas são muito enxutas: trabalham com inteligência artificial, dados nas nuvens, aplicativos de celular, sites, atendimento virtual e, em último caso, um call center. Usam e abusam das novas tecnologias para facilitar e capturar mais valor em seus serviços.

A burocracia é mínima, sem filas e saques são gratuitos em qualquer banco 24h.

Com custos operacionais muito menores, os hoje desconhecidos e pequenos bancos digitais têm crescido assustadoramente em número de contas. Quanto mais crescem, mais diluem seus custos fixos e ficam mais viáveis e atraentes ao mercado. Seus clientes ainda são, na maioria, jovens e pessoas conectadas ou envolvidas com mercado financeiro. Imagine quando forem descobertos pela maioria esmagadora da população?!

Como exemplo, a transferência para um banco digital das minhas contas de pessoa física e jurídica, de onde emito boletos, faço transferências e emito cheques, a economia anual ultrapassará R$3.500,00.

Isso mesmo! Serão mais de R$3.500,00 de economia por ano... SÓ COM TARIFAS!! Em 20 anos, aplicando esses valores a 10% a.a., significariam mais de R$2oo mil, dinheiro que perderia sem perceber.

Ainda, conseguiram comprar a dívida imobiliária da CAIXA oferecendo prestações abaixo do que este banco estatal, com juros nominais menores... mas que enche as parcelas com seguros e taxas acessórias. Com a cooperativa de crédito não consegui fazer portabilidade de crédito imobiliário, infelizmente. O Banco do Brasil, da conta PJ então, nem se fala! A cada dia uma taxa nova.

Com relação às cooperativas de crédito, das quais sou fã e defensor, o maior diferencial competitivo está na capacidade de prover serviços financeiros customizados e dinamizar os fluxos econômicos regionais. Além disso, ainda repartem sobras e fazem as cotas dos cooperados valorizarem, conforme o uso dos serviços.

Tudo o que as cooperativas de crédito arrecadam é revestido em crédito para negócios da região. Isso faz um efeito gigante, mas silencioso, na economia local.

Já os bancos tradicionais sugam os lucros das operações financeiras para suas cidades sedes, dinheiro esse que para de circular e gerar negócios e renda na região.

Dentro do SICOOB e SICRED, preocupa-me muito a visão tradicional dos gestores que ainda investem em sedes e agências para “aumentar a credibilidade” perante as comunidades também tradicionais do interior.

Estratégias de patrimonialização e as dificuldades de fusões entre cooperativas que começaram localmente, com estruturas administrativas caras e que se repetem, vão na contramão da necessidade de competir com esses bancos digitais muito mais leves, tecnológicos, baratos e lucrativos.

Confiar no espírito cooperativo dos cidadãos é um perigo! Fiar-se nas ajudas que dão às entidades da região, mais arriscado ainda. Mesmo sabendo da importância regional das cooperativas, a relação custo x benefício tenderá a ficar muito ruim e as necessidades pessoais tenderão a falar mais alto.

Tudo isso, é claro, se nada for mudado rapidamente. O desafio, porém, é a velocidade que os modelos de negócios deverão se adaptar.

Os fatos mudam muito mais rápido que as cabeças das pessoas. Pode ser que, quando perceberem a necessidade de mudar, já era...

De alguma forma, tudo se acomodará. A história de que a tecnologia come empregos é ameaça que escuto desde 1980 com os computadores.

Novos empregos, formas de trabalho, empreendimentos e empresas surgirão. Porém, a sobrevivência do que há hoje precisará de velocidade e capacidade de adaptação e preparação. É a lei de Darwin valendo para a economia.

E vamos com fé, então, de olhos abertos e atitude positiva para lidar com o que vier de melhor com tudo o que a tecnologia nos promete! Eu já decidi migrar para um banco digital, de certa forma, contrariado.

(*) Rafael Lucchesi Gomes é Sócio-Diretor da LUCCHESI Inteligência em Negócios: Graduado em Administração pela UFMG, tem especialização em Consultoria para Pequenos Negócios pela FIA/USP; em Agentes de Desenvolvimento em Cooperativas, pelo UNICENTRO Newton Paiva/MG; Ferramentas de Coaching em Inovação e Empreendedorismo, pela BABSON COLLEGE/EUA; e Modelagem de Negócios Inovadores - Método SPRINT, pela COVENTRY UNIVERSITY/UK. Palestrante e consultor associado ao SEBRAE, FIEMG e OCEMG, é consultor organizacional com experiência em negócios e em estratégias de desenvolvimento setorial/territorial.