Desafio do Burnout para pequenas e médias empresas.
No finalzinho de 2020, o Great Place To Work (GPW) realizou a terceira edição da pesquisa Tendências de Gestão de Pessoas. Já na época saúde mental, comunicação interna e experiência do colaborador (employee experience) estavam entre os oito temas mais citados como prioritários para 2021.
Nas últimas semanas, a maioria das projeções sobre tendências de RH para 2022 enfatiza a experiência do colaborador e a saúde mental como pontos importantes. É claro que a recente mudança da Organização Mundial da Saúde (OMS) na classificação para a Síndrome de Burnout teve um papel potencializador. A partir do dia 1 de janeiro de 2022, entra em vigor a nova classificação para esse transtorno, a CID 11. Ela passará a ser considerada doença decorrente do trabalho.
Recentemente, a Zenklub – empresa que usa tecnologia e dados para conectar empresas e colaboradores aos melhores especialistas em terapia, coaching e programas de desenvolvimento – , criou o Índice de Bem-Estar Corporativo (IBC). Esse índice traz um panorama geral de saúde mental, levantado em 335 empresas participantes e seus mais de 1,6 mil colaboradores. O índice geral no mercado brasileiro recebeu a nota de 49,25, numa escala de 0 a 100, abaixo do ideal que é 78. Entre os vilões, burnout e excesso de trabalho.
Diante desse cenário é preciso olhar com atenção para as pequenas e médias empresas, responsáveis pela maioria dos empregos no país. Para se ter uma noção, de acordo com o SEBRAE, só as pequenas companhias já são as que mais geram emprego no Brasil com carteira assinada, somando 54% dos empregos formais do país.
Há muitos anos o conceito “fazer mais com menos” se instaurou nas empresas.
As grandes, geralmente, por necessidade e/ou vontade de maximização dos lucros e as pequenas e médias por sobrevivência. É comum encontramos dentro das organizações funcionários com longas jornadas de trabalho e muitas atividades para desempenhar. Muita coisa para fazer e pouco tempo e recursos para desempenhar.
Ingressaremos em 2022 com muitos exemplos de grandes empresas mais abertas ao diálogo, querendo ouvir mais os funcionários, seus desafios, sonhos e dores. Veremos muitas iniciativas de programas estruturados de apoio à saúde mental, além de áreas dedicadas à experiência do colaborador e ainda com profissionais encarregados pela felicidade – Chief Happiness Officer (CHO). Quando se tem recursos, quando se tem lastro financeiro, a mudança depende apenas do “querer fazer diferente”.
E como ficam as pequenas e médias? Como abrir espaços ao diálogo quando falta tempo inclusive para realizar todas as tarefas e atividades estipuladas? Como abrir mão do tempo e aumentar equipe quando se faltam recursos?
Na minha experiência em comunicação interna, endomarketing e gestão de pessoas (sim já fui sócio de empresa com quase 100 funcionários), percebi como é necessário e possível repensar os negócios, revendo inclusive processos e atividades.
Separei 4 insights provocativos que podem contribuir:
# Insight 1 – Elimine tarefas pouco necessárias. É preciso abrir espaço na agenda diária. Se não podemos aumentar as horas do dia, temos apenas duas variáveis para mexer: quantidade e qualidade das atividades. É preciso revisitar todas as atividades de trabalho em todas as áreas e verificar o que pode ser feito diferente. Buscando mais eficiência e eficácia, adotando novas ferramentas e descartando ou modificando o que não agrega tanto valor assim.
Em comunicação interna e endomarketing isso é muito comum. Empresas menores copiando o que as grandes fazem, sem enxergar o que realmente é necessário e faz sentido para o seu negócio. Como gestor tenho convicção que o mesmo acontece em todas as outras áreas.
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# Insight 2 – Priorize. Quem quer fazer tudo acaba não fazendo nada bem feito. As atividades não devem ser feitas apenas para cumprir tabela, mas sim porque agregam valor. Clientes externos e internos devem estar no centro e os processos e atividades devem estar a serviço de gerar a melhor experiência para esses públicos. Com menos recursos e tempo escasso, priorizar é uma solução imperativa.
Depois de eliminar as tarefas pouco necessárias, coloque as demais em ordem de prioridade e faça uma adequação dos recursos disponíveis para cada uma delas: verba, equipe e tempo.
# Insight 3 – Foque no que essencial. Os livros Essencialismo (Greg McKeown) e A Única Coisa (Gary Keller e Jay Papasan) trazem várias provocações e insights.
A clareza do que é essencial ser feito em cada área e atividade ajuda a diminuir a ansiedade e redistribuir as atenções e os esforços. Tenho convicção que muitas empresas e profissionais teriam desempenhos bem melhores, se focassem naquilo que é essencial. Isso é foco. Isso é posicionamento. Serve para negócios e pessoas.
# Insights 4 – Se tiver recurso e fizer sentido, avance fazendo o facultativo. Não é porque as outras empresas fazem que necessariamente a nossa precisa fazer. Não é porque sempre foi feito que precisa continuar sendo feito da mesma forma. Empresas têm contextos e culturas completamente diferentes.
Ao eliminar, priorizar e focar no essencial construímos uma jornada de possibilidades de avanço. Ou seja, passando a fazer coisas facultativas que agreguem conforme a evolução, a necessidade real e a disponibilidade de recursos.
Agora, o que isso tudo tem a ver com burnout, experiência do colaborador e comunicação interna? Tudo e mais um pouco.
• É ilusão acreditarmos que nas empresas, especialmente as pequenas e médias, basta conversar sobre o tema e oferecer algum programa que resolvemos o burnout.
• É ilusão achar que é possível construir uma boa experiência para o colaborador, com ações legais de endomarketing, sem olhar para a jornada de trabalho.
A Comunicação Interna e o Endomarketing podem ser aliados, desde que mudanças sejam feitas. 2022 está aí e cada um tem que se perguntar:
Vamos seguir nos iludindo, fingindo que está tudo bem, ou vamos efetivamente construir empresas e ambientes de trabalho melhores para todos?
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3 aFico feliz pela referência Carlos! De fato, precisamos agir sobre o assunto e reconhecê-lo como uma questão coletiva é um bom primeiro passo. Depois vem dicas muito boas, recomendo a questão do foco, devemos tratar nossa agenda como algo sagrado rs e ter um objetivo bem claro do que se quer alcançar. Acredito que poderemos seguir num caminho de construção finalmente.
Estrategista em Cultura Organizacional e Endomarketing / Cofounder na Qore.me / Fundador da Guru do Endomarketing / Professor na Pós ESPM SUL / Membro do Conselho Consultivo na Sqed
3 aLuis Fernando Saraiva, um pouco do que volta e meia debatemos: os excessos, inclusive de informação.