DESAFIOS DA RECOLOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO POR PESSOAS 50+
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DESAFIOS DA RECOLOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO POR PESSOAS 50+

De maneira geral, a busca por recolocação em um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo pode ser algo estressante e, por vezes, até frustrante. Mas, para aqueles que têm mais de 50 anos de idade, em particular, pode se tornar uma tarefa extremamente árdua. Eventualmente, as dificuldades são causadas pela própria falta de intimidade que alguns destes candidatos apresentam em lidar com meios digitais. Em outras situações, o desafio é a competição com candidatos mais jovens, mas em alguns casos, é o puro e simples preconceito etário. 

Infelizmente, em nossa cultura ocidental, muitos empregadores ainda cultivam algum tipo de ideia preconcebida em relação às pessoas com mais idade, independentemente de suas reais qualificações. Acreditam que candidatos mais velhos são menos produtivos intelectualmente, menos dispostos ao aprendizado de novos métodos, novas tecnologias e podem ser resistentes à prática de horários flexíveis e não convencionais. Outros evitam a contratação de pessoas mais velhas, argumentando que o custo/benefício é pouco atrativo em razão de maiores gastos decorrentes de problemas com saúde e aposentadoria. 

Em culturas orientais, via de regra, notamos uma valorização da família e da coletividade e os idosos são considerados como fonte de sabedoria, adquirida através da experiência, a ser utilizada para o bem comum. Os membros mais velhos são tidos como líderes e autoridades, sendo tratados com respeito, reverência e consultados em questões relevantes ao núcleo familiar e à comunidade. Não perdem sua credibilidade e não são depreciados em razão de sua idade mais avançada. 

Por outro lado, no ocidente capitalista, verificamos que a ênfase é dada à individualidade e à independência, em detrimento às relações familiares e à coletividade. Na luta pela obtenção da “última palavra” e em um culto à juventude e à beleza, os idosos frequentemente são deixados de lado e subvalorizados. 

De fato, existe uma competição acirrada em relação a candidatos mais novos, pois estes, muitas vezes, chegam ao mercado de trabalho recém-formados e com pouca experiência, sujeitando-se a salários mais baixos e a condições menos favoráveis. Em contrapartida, trabalhadores mais velhos geralmente precisam manter um status quo, possuem contas a médio e longo prazo e têm famílias a sustentar. Empregadores tendem a dispensar mão de obra mais experiente e talvez um pouco mais cara. Como a oferta de mão de obra barata é farta, não se importam com a rotatividade: se o novato não se sai muito bem, dispensa-se e contrata-se outro. 

Ainda em relação ao avanço tecnológico que estamos experimentando vertiginosamente, temos um cenário em que algumas pessoas não passaram por este advento quando eram mais jovens e tiveram dificuldades em acompanhar esta grande expansão ao atingirem uma idade mais avançada e mesmo até os dias de hoje. A pandemia de COVID-19, por sua vez, também veio estimular o trabalho remoto e digital, aumentando sensivelmente a desvantagem de pessoas mais idosas. 

Outro fator que prejudica os mais idosos é que em uma época não muito distante, existia a concepção de que um tempo prolongado de permanência em determinada empresa ajudava no ranking geral do candidato. Pessoas mais velhas tinham esse pensamento como um princípio inquestionável, e era comum que trabalhadores permanecessem décadas em uma mesma instituição, até se aposentarem. No entanto, atualmente isso pode não ser mais válido, dando a impressão aos recrutadores de que houve uma estagnação na carreira. E neste caso, há ainda uma questão agravante: antigamente, não existiam nomenclaturas tão específicas para as diversas ocupações que os funcionários exerciam. Um auxiliar de escritório poderia iniciar em um estabelecimento executando serviços de datilografia, atendimento telefônico, organização de arquivos, etc. Com o decorrer do tempo, iria aprendendo a emitir notas fiscais, faturas, a fazer escrituração fiscal, livro-caixa, cobranças, cotações, compras e assim por diante... Depois, como já tivesse bastante conhecimento, poderia vir a coordenar os serviços de outros funcionários mais novos de casa, mas, ao sair da empresa após três ou cinco anos, seu cargo ainda permaneceria como auxiliar de escritório, conforme quando entrou. 

Pessoas mais velhas podem contar com anos de prática e experiência em seus campos de atuação e possuir soft skills que elementos mais jovens ainda não desenvolveram, mostrando-se úteis para a formação de um grupo equilibrado através de suas habilidades de colaboração, comunicação e inteligência emocional na resolução de eventuais conflitos dentro de uma equipe. Candidatos mais velhos, quando "finalmente" contratados, tendem a demonstrar elevado senso de gratidão e fidelidade à instituição que os acolheu. Felizmente, alguns empregadores já estão percebendo essas vantagens e estão buscando ativamente diversificar sua força de trabalho. 

Se, por um lado, é preciso que haja uma conscientização de empregadores e recrutadores no sentido de gestões para inclusão e diversidade, obviamente que os trabalhadores com idade acima dos 50 anos, por seu lado, devem — sim — se manter atualizados com as demandas atuais do mercado de trabalho, procurando, se não o domínio, pelo menos um conhecimento básico em relação às novas tecnologias digitais. A realização de cursos técnicos, especializações, cursos on-line e treinamentos profissionais, são algumas das maneiras de se manter atualizados com as novidades e demonstrar sua busca por crescimento contínuo. O trabalho voluntário também é uma maneira de adquirir experiência e novas habilidades, podendo ser uma ótima oportunidade para conhecer pessoas e fazer networking, ajudando a obter informações sobre o mercado de trabalho, novas tendências e oportunidades de emprego. 

A grande verdade é que fatores como idade, aparência, raça, cor, etnia, credo, status social, gênero, orientação sexual, facção política e opinião pessoal, não podem continuar a ser vistos como impedimentos para o sucesso no mercado de trabalho. É preciso que todos se conscientizem da importância da diversidade e da inclusão, e trabalhem juntos para criar uma sociedade sem preconceitos, mais equitativa e justa para todos.

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