A desmaterialização do mundo do trabalho e as relações profissionais e afetivas no “novo normal” — um bate-papo com Andrea Bisker

A desmaterialização do mundo do trabalho e as relações profissionais e afetivas no “novo normal” — um bate-papo com Andrea Bisker

Tenho certeza de que você, assim como eu, tem ouvido e lido muito sobre o tal do “novo normal”. Diante de incontáveis perguntas e dilemas sem resposta, convidei a Andrea Bisker para um bate-papo sobre esse mundo novo que se impõe à nossa realidade. Entre tantos outros predicados, Andrea é empresária, especialista em tendências e referência em inovação e comportamento de consumo.

A maioria das pessoas está vivendo hoje uma destas duas situações: o convívio familiar de forma intensa e contínua; ou o isolamento, que determina o distanciamento físico de entes e amigos queridos. As duas circunstâncias são igualmente extremas, totalmente fora do comum e sem perspectivas para acabar. Junto com elas, temos também uma mudança importante nas relações de trabalho, já que este agora é 100% remoto e entremeado por questões domésticas.

Empatia e propósito

Por este motivo, entre muitos assuntos possíveis dentro deste “novo normal”, resolvi trazer para o debate com a Andrea as relações humanas e afetivas. Comecei o bate-papo perguntando sobre empatia, palavra usada com grande frequência nos últimos tempos. “A empatia é revolucionária”, defende Andrea, ao falar sobre a “capacidade de enxergar o outro em todas as suas particularidades e seguir fazendo a diferença, só que coletivamente”. Ela afirma que o papel de uma empresa empática no mundo é amar as pessoas e transformar suas vidas para melhor.

Ao comparar empatia a propósito, Andrea esclarece que o segundo termo diz respeito “ao que dá sentido para nossas vidas e nos move adiante”. Para Andrea, em um viés corporativo, propósito é a declaração de como uma empresa pretende contribuir para o mundo. É o que define seu caminho, seus produtos, seu lugar no mercado e na sociedade.

Acrescento que, para a Governança, ter um propósito claro e definido significa conhecer o próprio impacto socioambiental, deixar um footprint positivo e fazer com que os valores da empresa de fato permeiem o negócio. Portanto, esse “novo normal” imposto pela crise pode muito bem e deve ser guiado pela Governança e pelas valiosas ferramentas que ela traz.

O futuro das relações de trabalho

Com a crise do coronavírus, muitas empresas tiveram que se adaptar às pressas ao trabalho remoto e a outras situações muitas vezes desafiadoras para os negócios. De acordo com Andrea, a flexibilidade e o mercado hiper-fragmentado já eram uma realidade, e a cultura atual — com a gig economy, ou economia dos freelancers — favorecia o desejo de passar tempo fora de ambientes de trabalho tradicionais.

A pandemia veio então, conforme ela explica, para acelerar essa desmaterialização do mundo do trabalho. A confiança adquirida na capacidade de autogestão dos colaboradores será um bônus que vai alterar os padrões de trabalho. Ela acredita que, no futuro, a maioria dos profissionais serão o que ela chamou de “PJF’s: Pessoas Jurídicas/Físicas, ou freelancers, que trabalharão por projeto”.

Sem uma jornada típica do trabalhador, serão necessários produtos e serviços fluidos construídos para atender aos novos ritmos de atuação profissional. Andrea atribui às marcas e cidades a função de dar suporte a este novo estilo de vida, formalizando uma estrutura de fluxo livre, com “espaços de trabalho maleáveis, transportes centrados na tarefa, modelos residenciais flexíveis e mentoria virtual”.

O mundo físico depois do coronavírus

Pessoas de todos os perfis estão se adaptando aos encontros, festas e reuniões virtuais. Será que as relações humanas ficarão marcadas pelo virtual depois que o isolamento social cessar? Andrea enfatiza que “não somos seres feitos para ficar em casa, precisamos de tato, do sensorial, do abraço, do beijo, do sentimento”. Ela pensa que as pessoas vão, sim, querer se encontrar fisicamente. Otimista, Andrea acredita que há a grande possibilidade de voltarmos a vivenciar o que ela chamou de “presença presente”, deixando o celular de lado e focando em usufruir o momento.

Senso de comunidade e de coletividade

Andrea menciona um estudo da ONU que mostra que no país o investimento social privado na filantropia chegou a R$ 2,9 bilhões em 2016. “O montante impressiona, mas está muito abaixo do necessário”, afirma. Ela destaca, no entanto, que “já se pode observar um grande aumento do engajamento de todos aqui no Brasil”.

Andrea menciona, como exemplos, os grupos de redes sociais para oferecer ajuda a vizinhos até então desconhecidos, além das mobilizações para arrecadar doações para compras de cestas básicas e de higiene para grupos em situação de vulnerabilidade social.

Ela encerra essa parte de nosso bate-papo com uma mensagem positiva e cheia de esperança. Para ela, todo esse movimento já nos trouxe “um senso de comunidade e do coletivo espetacular”, com “a humanidade aflorada”.

A conversa com a Andrea jogou luz sobre diversos questionamentos e levantou muitas reflexões. Talvez a crise ocasionada pelo coronavírus seja, de fato, uma oportunidade para exercitarmos a empatia e revivermos os nossos propósitos como pessoas e empresas. Podemos ter a chance de repensar a maneira como trabalhamos e conduzimos nossos negócios, abrindo espaço para o novo e para a inovação. Afinal, como a própria Andrea costuma dizer, “as certezas envelhecem” .

 



Mary Resende

Diretora de criação e de operações - Lumear Iluminação e Decoração Ltda.

4 a

Muito pertinente as observações quanto ao "novo normal". Muitas mudanças vieram para ficar. As videoconferências devem se tornar rotineiras no meio corporativo. Fora o desgaste físico e emocional, quanto tempo no trânsito desperdiçamos? Riscos de acidentes, poluição, quanto dinheiro já foi gasto em hotéis e viagens, e tantos outros gastos desnecessários? ... Temos que usufruir da tecnologia tudo que ela nos oferece. Quantas reuniões já fizemos, viajando muitas vezes mais de 1000 km para discutir assuntos que poderiam ter sido discutidos durante uma videoconferência? Ou para apresentar projetos que também poderiam ter sido apresentados a distância. As vezes até mesmo com uma simples ligação podemos eliminar tantas etapas desnecessárias. Espero que esse " novo normal " venha desmistificar velhos hábitos sem sentido.

Helio Gelinski

Gerente Geral | Gerente de Hotel | Gerente de Hotelelaria | Gestão Hoteleira | Diretor Geral | Diretor de Operações

4 a

👏👏👏👏

Maria Clélia Silva - CEM

Gerente de Vendas - Apoio o crescimento das empresas identificando novos clientes e mantendo a base atual

4 a

Muito rica as observações da Andrea Bisker, principalmente no que se refere as mudanças de como podemos produzir e trabalhar por Jobs, sendo sim CPF e CNPJ ao mesmo tempo e para mais de uma empresa e diferentes produtos. Interessante também as relações com os vizinhos, que hoje por conta do isolamento já é possível comprar de tudo, inclusive serviços. Pensando Global e agindo local!

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