Dia 20/11 dia da Consciência Negra.
Convido vocês a uma reflexão.Vamos nessa?
Como é viver em um país com 54% da população afrodescendentes e ser sub representado?
Parece incoerente, existir uma data, cuja a proposta é a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Entretanto, ainda nos dias de hoje, esse dia é importante para discutir os efeitos sociais da desigualdade no Brasil e de como, nós negros, temos que ter orgulho de nossa resistência fé e coragem que nos acompanharam, enquanto não tinhamos vozes.
Brasil, foi um dos últimos paises ocidentais e da américa a abolir a escravidão. Nestes 131 anos, evoluímos em alguns aspectos, mas ainda o que se vê muito forte, é o tal do racismo estrutural, que ao meu ver, não pode ser definido apenas por um fato, mas acredito veemente que a ausência de mecanismos que pudessem criar melhores condições de vida, lê-se, direito a educação, oportunidades igualitárias, inserção no mercado de trabalho entre outros, são fortes candidatos a estarem na lista de fatos que ajudaram a lenta evolução da integração social.
Não é de se orgulhar, quando se vai aos melhores restaurantes e apenas é possível ver um negro, você! ou até mesmo em uma viagem internacional, que no avião você só encontra você, quando você causa espanto ao se depararem com você, quando você não vê um professor na melhor universidade de negócio negro, ou até mesmo quando no universo de 100, você só encontra você. Fica a pergunta: onde vivem e onde estão os outros? A solidão é o sentimento da ascensão social. Quando seremos mais? Quando poderemos ter mais oportunidades e escolher qual caminho seguir? E de fato sermos livres.
Fico pensando, como entendeu-se na época da abolição a escravatura, ser possível libertar um povo, sem haver uma forma de integrá-los? Era minimamente uma forma de pedido de desculpas dar oportunidade a aqueles que foram impedidos em vários aspectos de viver suas próprias escolhas. Realmente essa era a intenção?
Ou oprimimos ou damos vozes. E temos visto tantos movimentos positivos, na musica, na arte, na televisão, em posições publicas, privadas, na filosofia entre outros. Mas, não imaginem que foi fácil criar esse espaço dentro de uma sociedade que tornou coadjuvante o negro de sua própria historia, dando lhe pouco espaço para ascender.
A esses resistentes, é um orgulho, fazer parte dessa história.
Sobre os efeitos deste abandono em políticas reais de inclusão social, ao contrário do que era necessário, demos continuidade ao abismo, radicalizamos o racismo estrutural, e a vulnerabilidade são descritas em pesquisas da sociedade afro no Brasil:
· Piores condições de moradia;
· Alto nível de Desemprego;
· Alto nível de Violência;
· Menos acesso a educação e saúde;
No entanto, segundo o IBGE, este ano pela primeira vez, numero de estudantes no ensino superior aumentou e é isso é algo para comemorar, em 2018 apenas 35% da população conseguia chegar ao ensino superior. No entanto, é preciso pensar na permanência e dar condições de posições no ambiente de trabalho, politicas que complementam esses avanços e que os tornem definitivos.
E as corporações, como o negro é representado:
· 29% em cargos gerencias são negros;
· Brancos ganham 45% a mais que negros;
· Mulheres negras, recebem, em media, menos da metade dos salaries dos homens brancos.
E os números acham razoáveis? Ou acha que não tiveram força de vontade?
Não estou defendendo que todos precisamos ter cadeiras cativas, mas é insano acreditar que não houve vontade (vide história de superação e coragem deste povo) que pelo menos metade da população sonhou em conseguir um bom emprego, sonhou com uma boa educacao, saúde, moradia, mas que não tiveram condições de manter seus sonhos e, isso eu acho a pior violência, não pode ser quem você quiser, pois não enxerga espaço, caminhos e, acima de tudo, não tem a tal confiança que pode dar certo.
Infelizmente, não nos foi contada uma historia que envergonhasse o país ou que fizesse os negros conhecidos como prejudicados pelo sistema, simplesmente viramos a página e assim foi o nosso simplório plano de pós emancipação. Nunca vi nossa historia em museus, muito menos a conscientização da sociedade, apenas vejo uma torcida direto da arquibancada e bola para frente!
Mas hoje é dia de celebrar também, portanto, quero aproveitar essa reflexão para comemorar a existência de grandes lideres, o Quilombo que lutou pelo direito do povo afrodescendente, que lutou contra a opressão e discriminação, não aceitou libertar o povo parcialmente, como lhe foi proposto e sim pela liberdade de todos os negros que habitavam o quilombo. Quilombo, é em Pernambuco, e chegou a acomodar mais de 20 mil habitantes.
Quero aproveitar e citar alguns pessoas importantes nesta história na luta pela liberdade, claro que não serei capaz de escrever a todos os guerreiros importantes nessa historia de luta, resistência, coragem, mas deixo o meu profundo obrigada a todos.
Rosa Parks, corajosa mulher, que se recusou a levantar do ônibus e ceder o lugar a um homem branco no US (após 100 anos da abolição). Ao claro “buddy”, Martin Luther King, um dos mais importantes lideres do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e que inspirou tantos outros.
A Maria, ao Jose, ao Paulo, aos desconhecidos e, conhecidos. A todos que ultrapassam a linha e não se curvaram ao sistema limitador que define onde podemos estar, trabalhar, passear, estudar. E, claro, não podia faltar meu muito obrigada a todos que lutaram para que eu e você estivéssemos aqui, hoje livres, falando sobre isso.
A minha família, quem sempre ampliou meu espaço, minha gratidao eterna!
E você? Vamos continuar esta caminhada juntos?
Talita Silva Braga
Mulher Negra, casada, 33 anos.