Do 10 ao 9 com o branco da areia

Do 10 ao 9 com o branco da areia

Manhã de sábado. Acordei com aquela vontade danada de “beijar o português da padaria”, energizado para uma endorfinada no asfalto da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Fui e parei o carro ao lado de uma destas estações de bike, saí de uma viatura para outra e caí nas pedaladas. Minha meta, como de costume, eram três voltas completas!

Planos… Quando completei a segunda volta, me senti pior que um camelo desidratado! A salvação veio por meio de pequenos e prolongados goles de uma água de côco geladona e saborosa que hidratou a carcaça e repôs os sais minerais. Ainda teve bônus com uma garrafinha de água mineral para rebater. Dei uma esfriada, mas decidi esticar por mais 7 km para atingir a meta, só que de outra maneira.

Segui até a orla de Ipanema, devolvi a bike na altura do posto 10 e passei a caminhar pela areia, sentido 10 ao 9, peguei uma reta entre barraqueiros e banhistas. Maçarico no lombo e uma plataforma fofa que enchia meu tênis de grãos.

Lixo branco reluzente e colorido nas areias. Muitas tampinhas, guimbas de cigarro, invólucros de biscoito e picolé, de ketchup, canudinhos, garrafinhas, copinhos, carvão. Comecei a catá-los, pois era muita miudeza sobressaindo no areal e aquilo me incomodava. A esta altura do campeonato, minha meta já não era a quilometragem. O cata-cata e o arremesso do lixo branco nas cestas de barraqueiros ou nos contêineres mais próximos passaram a ser as principais modalidades esportivas. Bateu o espírito daqueles torcedores nipônicos, praticantes do O-souji (grande limpeza), que na Copa de 2014 deram um grande exemplo de consciência ao limparem o estádio Arena das Dunas, em Natal, após o término da partida.

Japoneses dão bons exemplos no Japão e fora dele. Aqui, em muitos casos, impera a falta de bons exemplos e de compromisso com a coletividade. À medida que eu caminhava e catava, barraqueiros ofereciam cadeiras e guarda-sóis. Talvez tenham me achado um ecologista mala (e as ofertas serviriam para eu parar com a coleta) ou estivessem apenas pensando no aluguel dos utensílios mesmo. Um deles, com um sorriso de malandro carioca, gritou: Aí, sim! Show! O gaiato batia palma para minha atitude, que deveria partir dele e de seus clientes. É uma pândega! Achei cômico e continuei.

Pelo jeito, lixo branco nas areias é normalíssimo na cabeça de todos ou quase todos dali. “Os garis resolvem depois”, pensam muitos.

Chegando ao famoso posto 9, findei o percurso areia fofa, no qual acertei todos os arremessos de lixo branco, extraído das areias, nas cestas. Havia vencido aquela partida, mas não o campeonato: o lixo de praia precisa ser tratado de outra maneira. Banhistas e comerciantes devem ser mais responsáveis, mais cuidadosos com a natureza, com seu local de lazer e “escritório de trabalho”.

Há vários anos a companhia de limpeza da cidade executa o Projeto Praia Limpa, que destina grande atenção às faixas de areia das praias oceânicas. Durante o Verão e o período de férias escolares, a empresa imprime esforço ainda maior por saber que o aumento na frequência de banhistas, que inclui turistas nacionais e estrangeiros. Uma verdadeira maratona!

Se não fosse necessário o emprego de recursos extras para o Projeto, a Companhia Municipal economizaria milhares de reais e otimizaria sua gestão, apoiada pela boa educação dos cidadãos. Os recursos a mais poderiam ser empregados na ampliação da qualidade em outros atendimentos da rotina urbana.

Na praia, “na rua, na chuva, na fazenda ou uma casinha de sapê”, o lixo é para ser descartado no lugar certo. O lixo que produzimos demonstra quem somos. 


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