“DO YOU SPEAK ENGLISH?”
No final dos anos 1980 a vida conectada ainda engatinhava e a regra nas empresas era, mesmo, a máquina de escrever. Os computadores começavam a ser realidade em algumas companhias, notadamente as maiores, frequentemente as multinacionais. Quem estava inserido nesse meio tinha a oportunidade de interagir com colegas estrangeiros, e a língua do Tio Sam despontava como indispensável para quem aspirasse um lugar ao sol, sendo exigida, inclusive, para operar os “micros”.
Acredito que nada acontece por acaso, cabendo a cada pessoa entregar o melhor de si onde estiver, como forma segura de se posicionar perante a vida, inclusive profissionalmente. Levei certo tempo para sedimentar essa convicção e, com ela, assegurar a tranquilidade íntima num mundo tão turbulento. Talvez o acontecimento mais doloroso – e decisivo! – para a assimilação desse conceito foi ter visto escapar por entre os dedos a melhor oportunidade profissional que tivera até então: estagiava numa grande montadora e participei de um processo seletivo interno para uma vaga de finance trainee, com perspectivas reais de passar certo período no exterior, em endereços diversos e, depois, assumir uma posição gerencial no Brasil. O processo tinha cinco etapas e fui aprovado nas quatro primeiras, caindo, todavia, na última tendo em vista que fui colocado diante de um jovem executivo americano – que, inclusive, parecia um bom sujeito – e não sabia nada do Inglês.... Encarei o acontecimento como preciosa experiência que me incentivou a estudar o idioma com afinco e a burilar minha resiliência, que tantas vezes seria exigida nos anos seguintes.
“Muitas vezes a oportunidade bate à porta uma única vez e é preciso estar preparado”, me consolou meu gestor após a derrocada, quase me oferecendo um lenço, acreditando que estava prestes a me debulhar em lágrimas.
A famigerada zona de conforto é lugar pantanoso, que leva o profissional à estagnação intelectual e o induz a acreditar que ainda é portador de um perfil exuberante, não percebendo que o viço se apaga com o passar do tempo. Atualizar-se, estudar, ler, devem ser hábitos prazerosos na vida da pessoa, mesmo que já tenha atingido o topo da carreira, haja vista não ser conduta a serviço dos outros, mas de si mesmo, constatação, inclusive, corroborada pela Ciência, que aponta a ebulição intelectual como medida de saúde mental na inevitável velhice. Observem-se os intelectuais mais experientes e ver-se-á que não se entretêm com banalidades!
O saudoso Raul Seixas já dizia que o homem só usa “10% de sua cabeça animal”. Não sei se ele tinha razão, mas sei que nunca soube de alguém que tivesse qualquer prejuízo à saúde por exercitar o cérebro. Muito pelo contrário!