A Economia em frangalhos. Ou você discorda?
texto da reportagem de capa da edicão 946 da revista IstoÉ DINHEIRO (12/12/2015)
Por Luís Artur NOGUEIRA*
Na segunda metade da década de 1990, em meio às crises asiática e russa, o noticiário econômico era uma ladainha que versava sobre câmbio, juros e inflação. Era comum ouvir, nas reuniões semanais da diretoria da Fiesp, no 15º andar do prédio em forma de pirâmide na avenida Paulista, empresários reclamando da falta de um debate mais robusto, que priorizasse a infraestrutura e a educação. Consolidado o Plano Real, Fernando Henrique Cardoso entregou a Lula, em 2003, um País mais equilibrado e uma moeda forte. O petista teve o mérito de dar prosseguimento à política econômica tucana, enfatizando programas sociais e realizando algumas reformas microeconômicas. Somados, os 16 anos de governos FHC e Lula propiciaram inquestionáveis avanços, que mereceram uma capa otimista da revista britânica The Economist com a imagem do Cristo Redentor decolando. O sonho empresarial virou realidade e o País passou a discutir temas relevantes como gargalos logísticos, investimentos em inovação e a falta de mão de obra qualificada. Agora, no entanto, após cinco anos de gestão Dilma Rousseff, vive-se um perigoso retrocesso. Câmbio, juros e inflação voltaram ao proscênio e, com eles, a retração industrial, a inadimplência e o temido desemprego. São temas do século passado que assombram o presente. E pior: se nada for feito rapidamente, a década de 2010 terá sido perdida.
Não faltam exemplos concretos do esfarelamento econômico. Um deles, a inflação, foi divulgado pelo IBGE na quarta-feira 9. A alta de 1,01% em novembro é preocupante para um País que tem uma meta anual de 4,5%. No acumulado em 12 meses, o filme de terror fica mais claro: 10,48%. “Uma inflação de dois dígitos é muito ruim”, afirma Roberto Macedo, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda. “Cada vez tem uma desculpa diferente, mas, na verdade, é resultado dos erros de política econômica.” Macedo se refere à decisão da presidente Dilma de congelar preços, no ano passado, para ganhar as eleições. Com a nova gestão da economia, sob o comando do ministro Joaquim Levy, os preços de gasolina, energia e transporte público foram corretamente liberados, mas o represamento acabou gerando uma explosão nos itens administrados.
Somem-se a isso o impacto da desvalorização cambial e o efeito das chuvas nos preços dos alimentos para se obter o pior nível de inflação desde 2003. Preços em alta em pleno processo recessivo não apenas contrariam a lógica econômica, que pressupõe inflação em queda em períodos de crise, como trazem à tona uma economia em frangalhos, com contas públicas no vermelho e benefícios sociais indexados à inflação. Para o Banco Central, o guardião da moeda que não zelou pela sua missão nesses cinco anos, uma inflação na casa dos 10% é tão grave que pode requerer um novo aperto monetário. “É melhor trabalhar para reduzir a inflação, porque essa pressão começa a desorganizar de tal maneira a economia que isso tem impacto negativo sobre o próprio crescimento”, afirmou, na terça-feira 8, em Washington, o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC), Tony Volpon, que votou por uma alta dos juros na última reunião do Copom, em novembro. Para o presidente do BC, Alexandre Tombini, que defendeu a manutenção dos juros, os atrasos no ajuste fiscal atrapalham a convergência da inflação para o centro da meta. Num País que lidera o ranking mundial dos juros, a suposta necessidade de elevação da taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano, divide opiniões. Os defensores argumentam que a política fiscal descontrolada obriga o BC a usar o remédio amargo. Quem é contra salienta que o remédio excessivo vai matar o paciente (leia a entrevistas com o economista-chefe da Porto Seguro, José Pena, e o professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda).
A desvalorização abrupta de 50% do câmbio em 2015 é outra forma de avaliar como os investidores nacionais e estrangeiros enxergam a bagunça institucional. Embora a expectativa de alta nos juros nos Estados Unidos tenha valorizado a moeda americana no mundo inteiro, foi a crise política local a principal responsável pela perda de valor do real. Recentemente, o câmbio se transformou em termômetro do “risco Dilma” pelo mercado, com a moeda americana subindo e descendo ao sabor das notícias sobre o processo de impeachment. A fragilidade da moeda brasileira escancara ainda o elevado grau de deterioração das contas públicas, que fecharão no vermelho pelo segundo ano consecutivo. Na avaliação do senador José Serra (PSDB-SP), um dos nomes cotados para compor um eventual governo Michel Temer, houve uma farra nos gastos públicos e na concessão de incentivos. “Um erro antológico foi a desoneração previdenciária das folhas de salário, empinando o déficit fiscal sem aumentar os investimentos desses setores”, escreveu Serra, em artigo. O ajuste fiscal proposto por Levy não avançou, a reforma ministerial da presidente Dilma foi tardia e inócua e a dívida bruta brasileira caminha rapidamente para o patamar de 70% do PIB, considerado preocupante pelas agências de classificação de risco.
Como não há, por enquanto, nenhuma perspectiva de uma reviravolta fiscal – o governo limita-se a defender a recriação da CPMF –, a perda do grau de investimento se tornou uma realidade. “É uma fotografia desagradável”, afirmou Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, na quinta-feira 10. “Ficará mais custoso rolar dívidas e isso nunca é bom porque precisamos de bilhões para infraestrutura.” No dia anterior, a agência Moody’s colocou a nota de risco de crédito do Brasil em observação para possível corte, o que deve ocorrer em 90 dias. “Todos os indicadores econômicos estão indo na direção errada”, afirma Mauro Leos, vice-presidente da Moody’s. Para o mercado, não houve nenhuma surpresa. “Na prática, o Brasil já é tratado como grau especulativo”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Basta olhar o Credit Default Swap (CDS), um instrumento financeiro que serve como um seguro contra o calote dos países, para constatar que o Brasil está em maus lençóis. O CDS do País está em 430 pontos, contra 260 pontos da Rússia, sendo que a pontuação é diretamente proporcional ao tamanho do risco. Detalhe: os russos perderam o grau de investimento pela S&P e pela Moody’s no começo do ano. Resignado, o ministro da Fazenda reconheceu, na quinta-feira 10, após almoço com banqueiros em São Paulo, que “a questão do rebaixamento reflete a realidade”. “Se você não se organiza, não tem união. E o resultado é sério”, disse Levy, uma das poucas vozes de bom senso do governo, que ameaça deixar o cargo se não for mantida a meta de superávit primário de 0,7% do PIB em 2016.
FALTA DE CONFIANÇA A política econômica fracassada e a incapacidade do governo de virar o jogo estão derretendo os principais indicadores. Dois dos maiores bancos do País, o Itaú e o Bradesco, acabaram de revisar as suas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB). Acumulada, a queda em 2015 e 2016 chegará a 6,5%, o pior resultado desde o início do século passado, quando as primeiras estatísticas foram elaboradas. “A incerteza política e econômica deve prosseguir em 2016”, afirma Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú. “A recuperação da economia depende, em grande parte, da aprovação de medidas de ajuste, o que requer consenso político.” Para o Bradesco, as incertezas sobre a inflação e as contas públicas permanecerão no ano que vem. “Quanto mais rápido forem superados os problemas fiscais e mais rapidamente houver convergência da inflação à meta, mais rapidamente veremos o retorno da confiança e do crescimento”, diz Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco.
A falta de confiança de empresários e consumidores ajuda a explicar a rápida deterioração da indústria e do comércio. No ano, os investimentos registram um tombo de 12,7%, após uma queda de 4,4% em 2014. O setor industrial encolhe 7,8% em 2015, após retração de 3,2% no ano passado. Em apenas 10 anos, a participação da indústria de transformação no PIB caiu de 20% para 10%, retornando aos níveis pré-industrialização, na década de 1940. “Nenhum país do mundo passou por essa situação”, afirma Paulo Francini, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. “Um país sem indústria é um país destinado à pobreza.” Nem mesmo o comércio, que viveu anos dourados com a expansão do crédito e da renda, escapa incólume da atual crise, com uma redução de 8% em 2015, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). A situação é tão difícil que os descontos atraentes da Black Friday, em novembro, não foram capazes de animar os consumidores, que evitam contrair novos financiamentos diante de um quadro de piora no desemprego. “Teremos o pior Natal em 12 anos”, prevê Fabio Bentes, economista da CNC.
De todos os indicadores, o desemprego é o mais preocupante devido ao seu impacto social e ao efeito cascata que gera na economia. Durante as eleições do ano passado, Dilma apresentava um baixo índice, inferior a 5%, como fruto do êxito de sua política econômica. Na verdade, a deterioração do mercado de trabalho já estava contratada e as demissões seriam a parte final, e mais cruel, desse quadro. Desde janeiro, o País fechou 819 mil postos de trabalho com carteira assinada e, atualmente, há nove milhões de desempregados. “A construção civil brasileira fechará 557 mil vagas neste ano”, diz José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP. “O PIB do setor está encolhendo 8% neste ano e mais 5% em 2016.” A crise tem gerado também uma forte migração de trabalhadores para o mercado informal, num movimento que normalmente resulta em salários menores. “Melancolia é a palavra que resume a situação da economia brasileira”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.
Dado que a crise política inviabiliza uma correção de rumo, até mesmo setores que ainda conseguem ter um leve crescimento em meio à crise, como o de locação de carros, torcem por uma definição rápida do Congresso Nacional. “Pior do que está não tem como ficar, pois nas ruas, a gente só vê placas de ‘vende-se’ nos imóveis”, afirma Paulo Nemer, presidente do Conselho Nacional da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla). “Se o impeachment não passar, será um banho de água fria na população que quer mudança.” Há um consenso entre os especialistas de que, independentemente do desfecho no Congresso, será preciso aprovar urgentemente reformas estruturais, nem sempre populares, como a adoção de idade mínima para a aposentadoria, e criar uma agenda de crescimento (conheça os pleitos dos empresários aqui). Ainda assim, dado o estrago já feito, não haverá milagre no curto prazo. “Se a Dilma sair, teremos um fim horroroso, mas o País volta a crescer em 2017”, afirma Tharcisio Souza Santos, diretor de MBA da FAAP. “Se a Dilma não sair, teremos um horror sem fim, com o PIB se recuperando apenas em 2020.
*Luís Artur Nogueira, jornalista e economista, é editor da revista IstoÉ DINHEIRO e palestrante de cenário econômico e político
Analista administrativo na PACTO - Programa de Auxilio Comunitário Terapêutico de Porto Alegre
8 aSe conseguirmos separar a crise política das decisões necessárias a serem tomadas na área econômica teremos uma esperança de começo de recuperação.
Prof. Química EM e Graduação; Dr. Eng. Materiais PUCRS; Mestre Quím. Analítica Ambiental UFRGS; Graduação em Química PUCRS; Perita @tjrjoficial @tjrsoficial - Patentes e DI - Engenharia Ciência dos Materiais - Química.
8 aSr. Luís Artur Nogueira. Obrigada pelo texto! Eu Concordo. Se me permite .. Na minha humilde opinião: O problema não é só a Dilma, mas o PT. Com uma visão socialista e pretendendo eternizar-se no poder, não mediu esforços, no sentido de distribuir riquezas através de seus programas sociais, que se por um lado, tirou parte da população da pobreza, por outro lado, destruiu riqueza e gerou o sentimento daqueles menos assistidos, de que não é preciso trabalhar, gerar riqueza .. e Que esta seria Infinita. Pois era, FINITA! Os recursos são limitados e o Mau uso do dinheiro, visando sucessivas reeleições, acompanhado de escândalos, de desvios de recursos .. (Mensalão, LAVA JATO ...) quebrou a confiança da sociedade, investidores e empresários, reduzindo o nível de atividade econômica, gerando desemprego e demais consequências que estamos vendo (queda PIB,, dólar em alta...). Finalizando, o Governo Lula e Dilma foram longe demais na política de assistencialismo, Reeleição A qualquer preço e até mesmo no incentivo da desunião entre as classes sociais. E, o preço a pagar é caro. Pois perdemos aquilo pelo qual sempre lutamos para adquirir: CONFIANÇA E CREDIBILIDADE. Atenciosamente, Adriana Lopes Barros.