Educação 2.0. Do que estamos falando?

Educação 2.0. Do que estamos falando?

            Educação à distância, Slideshare, Lynda, EDX. Muito tem se falado hoje em dia a respeito da aprendizagem virtual, e sobre as plataformas gratuitas, ou pagas, à disposição para que milhares de estudantes, ao redor do mundo, tenham acesso a conteúdos os mais diversos possíveis.

             Temos já uma web 2.0. Mas será que já superamos o desafio da educação 2.0., de verdade?

               Em uma recente pesquisa que acabo de concluir, analisei os impactos da aprendizagem à distância para a capacitação de mulheres para o empreendedorismo. E, ao estudar sobre educação e aprendizagem virtual, observei que os desafios no Brasil ainda são enormes para podermos expandir a educação para um número maior da população.

                A barreira de acesso ainda é um grande empecilho. Em um país com proporções continentais, ainda encontram-se grandes territórios sem acesso à água, à luz, e principalmente à internet. Regiões como a Amazônica não contam sequer com as estruturas físicas de telecomunicações necessárias para a transmissão do sinal de internet, como bem apresentado pelo documentário Freenet – locais onde as próprias comunidades locais, em conjunto com pequenas empresas da região, se associaram para construir antenas de transmissão de sinal. Tudo isso porque as grandes empresas de telecomunicação não tem interesse comercial em investir em regiões menos populosas.

                Outro grande problema ainda existente, decorrente do despreparo em capacitação, é a exclusão digital. A falta de acesso à computadores e celulares do tipo smartphone, aliadas à ausência da educação digital, reforçam o mapa da exclusão digital, e que afasta milhares de crianças, jovens e mulheres da possibilidade de capacitação à distância e, mais importante, gratuita.

                Entretanto, talvez o desafio que será mais difícil de ser superado será o da mudança do modelo de educação como o conhecemos hoje. No modelo tradicional, que eu chamaria de 1.0, o conhecimento é transmitido do professor para o aluno, em um fluxo unilateral. Este modelo, na grande maioria dos cursos à distância, foi simplesmente transportado para a plataforma digital, assim como havia sido feito com os telecursos nos anos 70 e 80. Nenhuma grande mudança foi realizada: o conteúdo simplesmente foi mudado do papel – ou da sala de aula presencial – para a tela do computador. Se quisermos uma efetiva mudança na aprendizagem, a fim de tornar o aluno mais engajado e participado, a educação deverá dar um próximo passo, para um modelo que eu chamaria de 2.0: um conceito onde o professor e o aluno compartilham juntos o conhecimento, e há uma participação ativa do aluno nas trocas de informações, questionamentos e alimentação dos conteúdos apresentados. O fluxo torna-se multilateral, e há a participação inclusive de novos atores: pais, empresas, instituições governamentais, outros colaboradores da escola, influenciadores no tema tratado pelo curso, entre outros. Além disso, a alimentação do conteúdo é feita também por elementos externos ao curso: com os hiperlinks e o ambiente cibernético, a possibilidade de complementação de assuntos em outros sites e plataformas é infinita. A imaginação e a curiosidade são os únicos limitadores.

                Para superar o desafio da passagem da educação 1.0 para o modelo 2.0, alunos, professores, pais e comunidade educacional precisam estar engajados. Antes de simplesmente implementar um modelo de cima para baixo, é importante que todos os participantes estejam preparados, e sejam capacitados, para a adoção desta mudança, que apenas se tornará realidade a partir de uma real mobilização e comprometimento para que a educação seja, de fato, participativa e colaborativa.

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