Educação conectada ou desconexa?
Muitas analogias são feitas em relação à educação no Brasil no sentido de apresentá-la como algo que, de certa forma, se mostra estagnado ou marasmático. É claro que tivemos alguns avanços com o decorrer dos anos, mas ainda existe um caminho muito grande a ser percorrido para que possamos alcançar um cenário educacional de excelência. Uma das analogias feitas em relação à nossa educação se desenvolve a partir da alegoria da caverna, de Platão. Se pensarmos nas estruturas de grande parte das escolas em nosso país, e na forma ultrapassada em que diferentes conteúdos são apresentados aos alunos, podemos realmente substituir esse quadro por uma caverna repleta de indivíduos acorrentados a uma estrutura que lhes impede de enxergar a realidade tal como se constitui de fato. A discussão sobre a necessidade de modernização e aperfeiçoamento do ensino voltado ao século XXI se torna impreterível, colocando-se como tema de debates em diferentes países.
Observando a estruturação das disciplinas e a maneira como são abordadas em salas de aula, é visível que, tanto em relação à Educação Básica quanto Superior, o ensino se apresenta bastante desconexo da realidade em que vivemos. Para que possa fazer sentido aos estudantes, a aula deve ser tão dinâmica quanto à vida que a cerca. Em um mundo cada vez mais interdependente, as avaliações individuais necessitam abrir espaços para que os estudantes possam desenvolver ações de cunho colaborativo, desenvolvendo iniciativa, capacidade de comunicação, consciência cultural e engajamento cívico. De acordo com Andreas Schleicher, Diretor de Educação da OCDE, o mundo não está mais segmentado em generalistas ou especialistas de uma determinada área. Ao invés disso, ganha cada vez mais espaço o perfil “versatilista”, que representa o sujeito capaz de aplicar considerável habilidade em um escopo de situações e experiências diversas. Em um mundo tão incerto e complexo, a possibilidade de desenvolver, a partir da educação, indivíduos capazes de lidar com diferentes contextos, não é simplesmente uma preocupação para formação de futuros profissionais aptos ao mercado, mas de sujeitos capazes de atuar da melhor forma possível ante as mais variadas conjunturas que lhes são apresentadas no decorrer de suas vidas.
É exatamente diante desse cenário em que vivemos, de mudanças constantes, que a tecnologia se apresenta como possível aliada para realizarmos saltos no desenvolvimento de diferentes metodologias e práticas em salas de aula, bem como para a construção de habilidades e competências que serão de extrema importância para quando os estudantes se encontrem nas posições de futuros profissionais. De acordo com um estudo encomendado pela Dell Technologies ao IFTF (Institute For The Future), 85% das profissões que existirão em 2030 ainda não foram sequer inventadas. Em outras palavras, é necessário oferecer aos estudantes condições para que possam estar preparados para os desafios que irão encontrar futuramente, em um mundo cada vez mais preenchido pelo setor tecnológico. Faz-se necessário, entretanto, destacar que, mais que utilizar-se das tecnologias em salas de aula, o verdadeiro avanço que pode ser introduzido pelas ferramentas digitais faz-se a partir do momento em que os estudantes compreendem como utilizá-las de maneira crítica e criativa. Para que isso possa acontecer, é essencial que os professores estejam engajados e preparados para utilizar a tecnologia em sala, caso contrário, estaremos apenas “digitalizando” processos e conteúdos que não darão aos estudantes condições de acesso à capacidade plena de desenvolvimento desses recursos. Mais uma vez, vale salientar que, as habilidades que podem ser desenvolvidas através de ferramentas tecnológicas, não dizem respeito apenas à formação do indivíduo como futuro atuante no mercado de trabalho, mas sim como alguém capaz de compreender os desafios que o mundo lhe apresenta, uma vez que a tecnologia pode ser vista não apenas como um fenômeno técnico, mas humano, no sentido de desenvolvimento de um novo “tipo de inteligência” e, consequentemente, de uma nova forma de enxergar o mundo.
Embora o fato de se discutir sobre aspectos relacionados à tecnologia seja extremamente relevante nos dias de hoje, deve-se ter em mente que de nada adianta a possibilidade de se trabalhar com ferramentas digitais sem antes desenvolvermos alguns aspectos elementares em relação à educação. Além de melhorias nas infraestruturas de muitas escolas em nosso país, necessitamos da conscientização da sociedade a respeito da importância e papel dos professores nas Instituições de Ensino. A qualidade do ensino oferecido à população está diretamente relacionada à formação de professores, que cada vez mais deixam de atuar apenas como “transmissores” de conhecimento para exercerem o papel de verdadeiros orientadores/mediadores de seus alunos, buscando guia-los em uma vastidão de informações e dados disponíveis através do meio digital.
Outro aspecto fundamental que se deve ressaltar como propulsor para o desenvolvimento de nosso ensino, diz respeito à importância da articulação entre escolas e comunidades. A criação de espaços como comitês de gestão local, que propicie a conexão entre os diferentes stakeholders educacionais e que fomente a discussão e troca de ideias entre gestores, professores, alunos e seus familiares pode ser vista como um elemento chave para encontrarmos novas práticas e diferentes caminhos para alcançarmos o sucesso no setor educacional. É imprescindível que as famílias dos estudantes participem de sua formação e estejam atentas às suas necessidades. A relação entre o background familiar e o desempenho escolar é bastante presente em pesquisas relacionadas ao setor de educação, evidenciando que, embora sejam necessárias ações como reformulação dos currículos e implementação de novos métodos de ensino, ainda se coloca como primordial a discussão sobre o papel da família e a busca por soluções vinculadas à violência que, infelizmente, se faz presente na realidade de muitos jovens. De forma geral, podemos dizer que, quando se estabelece uma conexão entre comunidade e Instituição de Ensino, gera-se um ciclo benéfico, a partir do momento em que anseios e necessidades da população podem ser ouvidos e trabalhados nos projetos pedagógicos, ao mesmo tempo em que as Instituições têm a chance de colaborar na formação de sujeitos capazes de contribuir com as expectativas da comunidade, participando e impactando diferentes setores da sociedade.
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Impulsionando escolas para transformar o amanhã
5 aQue conteúdo fantástico, Cíntia. Agregou muito em meu repertório. Parabéns!!!!!
🆙 Palestrante com mais de 25 anos de Experiência. 🌟🌟🌟🌟🌟Especialista em Google Meu Negócio 🏆com mais de 450 clientes satisfeitos.Yellow Belt, especialista em inovação.
5 aParabéns pelo artigo Cíntia ! Eu sou voluntário no Grupo de Educadores do Google e, junto com Giuliano Paulino Coan e o Rodrigo Fukugauti nos deparamos com esse fatos à cada certificação dos Professores ! #borala fazer a diferença ! abs
Diretor Consultivo de Soluções em AI e GEN AI na Dell Technologies
5 aA educação deveria ser uma obsessão da sociedade atual. Há, de fato, uma inadequação entre o que é oferecido nas escolas e as necessidades dos alunos nos novos tempos. Gostei do artigo, Cíntia Winter.
Scrum Master | Agile Coach | Project Manager
5 aEu adoro essa temática, como profissional da área da Educação Tecnológica, eu escuto com grande frequência de diversos profissionais, principalmente pais, que a presença da tecnologia na escola é útil apenas para a formação de futuros produtores de tecnologias, como engenheiros e programadores. Existe uma deficit enorme em reconhecer que a aproximação da tecnologia é necessária para que as atuais gerações, que nascem envoltas de soluções tecnológicas não sejam alienadas por elas. E que a utilização desses instrumentos em sala de aula são para o desenvolvimento de habilidades cognitivas executivas, a criança que conhecer a origem do funcionamento tecnológico, será um profissional de sucesso, pois essa não será uma mera reprodutora de soluções e sim uma efetiva arquiteta.
Business Development
5 aÉ preciso renovar a educação no Brasil Cíntia Winter estamos ainda muito atrasados e estudando sempre o mesmo. A inovação pede uma mudança cultural que ainda está caminhando a passos lentos. Muito bom artigo.