A era do dinheiro

Que título ingênuo!

Sabemos de tudo à nossa volta que gira em torno do dinheiro. A nossa luta por sobrevivência, a nossa capacidade de consumo, nosso lazer, nossas liberdades coletivas e individuais, nosso posicionamento diante dos fatos, nossas relações interpessoais, nosso respeito próprio, satisfações pessoais, nosso sucesso e o que mais você buscar estarão orbitando nas esferas do dinheiro.

Em todos os momentos da história homens se sobressaíram sobre outros homens por alguma forma de poder ou dominação. O uso da força, religião, terras, etc. Sempre houve essa dominação, não poderia dizer das várias relações interpessoais ao longo da história, mas já perceberam como o dinheiro dita todo o nosso comportamento, questionamentos e evoluções? Já viram como isso funciona no nosso dia a dia?

Nós acordamos e vivemos todo o nosso dia na influência do dinheiro, tomamos o café comprado com dinheiro, pegamos nosso carro ou ônibus pagos com dinheiro, vamos ao trabalho e gastamos um terço do nosso dia para ao fim de um determinado período receber dinheiro. Chegamos em casa e fazemos aquilo que é possível fazer com o dinheiro que recebemos da nossa labuta, claro que desde que sobre alguma coisa depois de devolver o dinheiro para quem a princípio forneceu. Essas são as influências diretas, lógicas do dinheiro. Aquilo que acontece diretamente em função da sua existência. Ter, ou não, dinheiro implica em outras mil situações:

Seu sucesso normalmente é medido em quanto dinheiro você acumulou;

As relações amorosas que tão dificilmente suportam à escassez de dinheiro, trazendo tantas frustrações, quando o mesmo falta;

Seu lazer e acesso à cultura é delimitado pela sua capacidade de consumo. Vá a um shopping, aonde não há barreias físicas que delimitem o espaço, ou seja, qualquer um pode entrar, mas é assim que acontece? Há uma barreira invisível que faz com que determinadas pessoas vão a um local e outras com outra capacidade financeira vão a outro;

E as suas decisões do que fazer ao longo da sua vida, suas escolhas? Música? Teatro? Artes? E isso dá dinheiro? Suas escolhas profissionais são direcionadas aquilo que gera uma economia e não para o que poderia trazer evolução para a humanidade. Isso, por si só, é um outro grande tema, uma vez que grande parte do avanço tecnológico é para o deleite individual onde o dinheiro possa circular. Pouco se vê em soluções tecnológicas coletivas para um bem maior.

Comecei a pensar nesse assunto de maneira mais séria após um jogo de futebol onde no fim me perguntaram o porquê de eu me importar tanto com um jogo se eu não ganhava nada com isso, se só os jogadores ganhavam milhões e nós bobos sofríamos e vibrávamos sem nenhuma compensação financeira, que aliás, até gastávamos por isso.

Que loucura, pensei. Primeiro refletindo – “É verdade, sofro aqui e eles não estão nem aí, vou a todo jogo, gasto dinheiro pra isso e aí? ” Depois pensei novamente – “Cara, tantos momentos imensamente felizes, quantas noites de comemoração e angustia, quanta vida envolvida em cada um desses jogos! Como assim eu não ganhei nada? Eu vivi lindamente cada uma dessas emoções! A única coisa que esses jogos não me deram foi dinheiro, no mais ganhei mais que todos os jogadores juntos! ”

Comecei a pensar sobre essas implicações na vida! Podemos ter nosso cantinho, plantar nossa hortinha com umas galinhas, isso vendo de maneira simplista, claro, mas, de fome não morreríamos. Apreciaríamos outros gostos, evoluiríamos de maneiras diferentes. Teríamos alegrias que talvez não dependessem de dinheiro. Seguiríamos em frente e a vida encontraria um meio, com provavelmente outros meios de dominação, mas seria outra discussão.

A luta contra o dinheiro não é simples pois, ele nos dá esperança. O consumo nos dá esperança. Depositamos nossa gana de viver na esperança de conseguirmos nos igualar a quem nos oprime, e quem nos oprime sabe disso. Todo consumo alcançável é uma amostra grátis de um mundo inalcançável e essa mesma amostra nos impede de nos revoltarmos contra o absurdo.

Enfim, podemos viver sem o dinheiro, o dinheiro que não pode viver sem a gente, entende? Clichê, não é? Mas deixa de ser verdade?


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