ESG é paradoxo quanto a ações socioambientais (não pela sua essência, mas por quem aplica)
Como já fazia um tempo que não trazia polêmicas por aqui, creio que dessa vez o tema vai ser um pouco mais dolorido. A contextualização das agendas ESG dentro das organizações e principalmente das mídias sociais tomaram uma proporção tão grande que acredito eu, começaram a beirar o limite da sanidade.
Muito disso, ocorre por conta de um tema que creio eu ser o maior entrave para essa agenda que tem como essência estruturar nas organizações uma governança ambiental, social e corporativa se tornar realidade que é justamente a solidez da ética e da conduta humana (que convenhamos, está em desuso).
Estamos a cada dia nos aproximando mais de um universo de “vale tudo para vencer” (algo um tanto desconexo, já que a temática do ESG nasceu do preceito de que quem se importa vence). Essa questão esta relacionada a uma busca incessante por resultados e entregas que afastam as pessoas da aproximação humana e criam conexões digitais que multiplicam os resultados apenas para alguns sob falsas oportunidades de ofertar sucesso para todos.
Olhando para essa realidade, devemos entender que existem alguns fatores críticos que fazem a agenda ESG estar aplicada na prática em apenas poucas empresas e que o resto normalmente faz muito daquilo que não devem fazer e pouco do que deve ser feito. Explico:
As organizações preferem cumprir o papel dos outros, ao invés do seu: Para iniciar as polêmicas, começamos pela principal. Quem me conhece, sabe o quanto sou um “ferrenho” crítico de como os ODS (Objetivos do desenvolvimento sustentável) são de fato aplicados nas organizações. Não que eu desacredite do tema, até porque tudo o que está ali é base para o desenvolvimento sustentável do mundo como um todo (apesar de já ter nascido atrasado), porém, poucos entendem que as metas do ODS são relacionadas a agendas públicas de governo e que pouco se contribui com ela como organização privada (ou nada). A grande questão é que é muito mais fácil apenas pendurar uma caixinha colorida em algum lugar, colar em todo canto e depois dizer que faz ESG, porém, o papel das organizações não é cumprir as metas dos ODS, mas sim, especular como os governos nos quais ela está inserida avança nesses temas e se alinhar para aproveitar as oportunidades do tema ou mitigar os riscos futuros conforme as agendas avançam.
Quase sempre, ESG no papel: Outra coisa que virou comum dentro desse cenário é o ESG no papel. As organizações criam documentos muito bonitos, procedimentos e regras muito robustos, mas sequer sabem como se aplicam. Em um movimento de tentar “moldar” uma regra única e transversal, a temática passa a se tornar robotizada e com isso, a essência real do ESG que é estruturar uma “GOVERNANÇA PARTICULAR” do negócio passa longe, assim, as organizações passam a montar um almanaque de regras pelo fato de ser “o que todos estão fazendo” e no fim das contas, nem ela mesma cumpre (apesar de cobrar da sua cadeia de valor que o faça a todo custo e culpar o insucesso pelo desinteresse dos stakeholders).
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Na maioria das vezes a essência ESG não está nas pessoas e isso é um problema: Outro ponto que é muito crítico nesse cenário está relacionado às pessoas que disseminam, multiplicam e “se aproveitam” da agenda ESG. Sinceramente, acho muito bacana que a agenda esteja tomando uma proporção tão relevante, principalmente pelo fato de trazer à tona a discussão de temas que antes jogávamos para baixo do tapete. O grande problema é que a base do tema está relacionada a equilíbrio e boa parte das pessoas que levam o tema sequer acreditam em seu resultado ou efetividade, mas aplicam e multiplicam porque creem que é o que lhe levará ao sucesso individual como profissional (confuso não?). A grande questão é que pouco do que se dissemina do tema realmente tem como objetivo fazer os negócios prosperarem, na maioria das vezes o objetivo é fazer prosperar apenas a si mesmo e com isso entramos no maior devaneio que vejo no assunto: As pessoas passam a encontrar meios de vender o assunto e não formas de realmente torná-lo uma prática melhor para as organizações. Não estou trazendo aqui que os profissionais deveriam se voluntariar para que sua implementação fosse realizada (até porque isso é longe daquilo que o tema preconiza) mas que o enfoque principal seja em realmente levar empresas ao resultado e não vender uma agenda apenas para que seu resultado pessoal seja atendido.
A priorização socioambiental está longe de ser o objetivo da agenda: Mais uma vez, reforço isso que precisa ser claramente falado. A agenda ESG não tem como objetivo gerar melhorias no mundo socioambientais. Por mais que automaticamente, as empresas que se importam em criar uma governança para lidar com as questões ambientais, sociais e corporativas sejam as que conseguem resultados mais eficientes (por isso “quem se importa vence”) o objetivo real dessa agenda é proteger a reputação e o resultado financeiro das organizações. Quando a priorização é fazer ações, implementar práticas e se encher de orgulho por melhorar algo que não era responsabilidade sua, você ganha como resultado aplausos, porém, deixa de fazer aquilo que realmente era sua responsabilidade (não estou dizendo que as empresas não devam ajudar em campanhas e movimentos importantes em prol da sociedade, até porque isso faz parte de um processo natural da cidadania) porém, isso é uma coisa e fazer ESG é totalmente diferente, principalmente pelo pragmatismo necessário para que essa agenda entre na estratégia dos negócios (apesar de sempre que falam de ESG conectarem com esse tipo de atividade).
Com tudo isso, podemos ver que estamos sendo bombardeados de conteúdos e construções que se relacionam ou intitulam ESG sem nem mesmo saber se essa é a real essência e o problema maior é que as empresas já começaram a não enxergar resultados (e nunca encontrarão, caminhando por essa seara) e passam a colocar em xeque se realmente a agenda ESG é importante. O grande problema é que a base necessária para as empresas que querem de fato implementar essa agenda está nos profissionais responsáveis por esse papel que por vezes não tem em si a principal ferramenta que faz esse processo acontecer: A ética. A ética não está apenas relacionada à graves situações que envolvem problemas grotescos como propina, corrupção severa e suborno, mas por vezes, os profissionais que se desviam de seu ideal “para vender uma agenda mais atrativa” se afastaram do principal fator necessário: ética.
Além disso, se sua empresa já faz práticas, ações e atividades socioambientais e já lhe trazem com muita alegria “a sua empresa já faz ESG” sugiro que reveja esse conceito, porque é muito provável que você faça ações de proatividade socioambiental e o ESG vai lhe ajudar a não mais fazer isso por fazer, mas sim aquilo que estiver relacionado ao seu propósito, protegendo sua imagem, seu resultado financeiro e em contrapartida, gerando impacto positivo às suas partes interessadas, porque no fim das contas vence quem se importa e não quem faz aquilo que não é sua responsabilidade.
#ESG #gestao #sustentabilidade
Biólogo, PCD, Consultor ambiental na Íntegra consultoria QSMS-RS \ESG, Yellow Belt Lean Six Sigma
4 mO texto é bem articulado e faz críticas relevantes A mensagem central é clara, o ESG está sendo mal aplicado em muitas organizações, desviando-se de sua verdadeira essência devido à falta de ética, superficialidade das ações e desconexão entre as intenções e práticas reais. Para fortalecer o impacto, poderíamos incluir exemplos de boas práticas e destacar casos onde ESG é realmente aplicado de maneira eficaz, equilibrando a crítica com soluções práticas e inspiradoras. excelente Luiz Goi!
ESPAÇO DE INOVAÇÃO EMPRESARIAL [ X ] NeXialista ConeXões - Gestão Comercial-RH-Mentoria-Conciliação - ESTRATÉGIA EM MODELAGEM DE NEGÓCIOS - Compliance
4 mTexto muito esclarecedor! Na minha visão, a aplicação da agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) nas empresas, embora tenha uma essência válida, muitas vezes é tratada de forma superficial e até contraditória. Acredito que, sem uma governança sólida (o "G" do ESG), as demais áreas ficam comprometidas ou esquecidas, gerando desequilíbrios e até levando a empresa ao fracasso. Infelizmente, muitas organizações encaram o ESG como mera formalidade, criando regras que não são efetivamente aplicadas. E, como bem sabemos, há casos em que profissionais focam mais em benefícios pessoais do que nos resultados empresariais. Olho vivo, gestores! O verdadeiro foco do ESG deveria ser proteger a reputação e os resultados financeiros, não simplesmente realizar ações socioambientais "porque está na moda". A ética, que é o pilar da governança, se torna ainda mais crucial no contexto atual, onde grandes corporações e fundos de investimento controlam a maior parte dos recursos. Portanto, destaco que a ética é o maior desafio para uma implementação eficaz dessa agenda. Precisamos estar atentos para não transformar o ESG em mais um modismo controlador