COMO A POLITIZAÇÃO MINA E DIRECIONA A TEMÁTICA ESG
O tema ESG que contextualiza basicamente a estrutura de governança de uma organização quanto as questões ambientais, sociais e corporativas, chegou a um ponto alto de discussão onde o tema passou a se tornar agenda política diante de visões ideológicas que inserem ativismo para potencializar o tema e em contrapartida, que criticam sua importância visando a liberdade do mercado.
Por mais que existam diversas visões, especialidades, contextos e realidades, na minha humilde opinião, os maiores motivos para isso estão no oportunismo do mercado em aproveitar-se de “trends” para surfar ondes sem ter nem mesmo “prancha”.
Faço aqui um adendo importante para evitar mal-entendido: O oportunismo que trago aqui se difere consideravelmente de aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado, já que a diferença entre ambos está justamente na ética, onde quem aproveita as oportunidades unicamente, enxergam um cenário vantajoso e dentro das limitações da ética, usam isso como forma de obter retornos. Já o oportunista, ao contrário desenvolve contextos, cenários e realidades (independente da barreira da ética) para que tal cenário se crie propício para sua geração de valor. Basicamente é como se um fosse a velórios vender lenços e o outro provocasse mortes para que com isso tenha onde os vender.
Contextualizado a temática, trago aqui uma visão que tenho percebido estar muito aquém do que realmente essa agenda gera de valor, por conta da superficialidade de informações compartilhadas e até mesmo por buscas oportunistas de tentar puxar a agenda ESG para seu negócio, fugindo do seu principal preceito.
A agenda socioambiental do ESG: Para aqueles que enxergam o ESG como uma forma de tornar as organizações do Brasil e do mundo mais responsáveis, já que com a tentativa de fazê-lo através do apelo da sustentabilidade no passado não funcionou, sinto dizer que mais uma vez suas esperanças serão destruídas. As empresas e organizações raramente construirão um cenário propício com o intuito do benefício socioambiental pelo fato desse tema ser importante. Esse também é um dos grandes causadores da confusão sobre o tema, visto que quando levamos uma visão romântica do tema para dentro das pautas das empresas, o objetivo é claramente conectado com a possibilidade de obter mais engajamento social e com isso o tema é desenvolvido unicamente com o objetivo de gerar mídia e não de estruturar estratégia.
A agenda ESG como “manipulação do mercado”: Assim como há pessoas puxando a agenda para o lado romântico, também existem aqueles que querem tentar criar um fantasma por sobre a sigla. Com um viés de que a agenda ESG foi criada como uma espécie de manipulação corporativa visando apenas obrigar empresas a cumprir pautas específicas ambientais, sociais e de boa governança, temos um outro erro que só atrapalha o desenvolvimento organizacional. Com essa visão deturpada, passamos a enxergar organizações com uma gestão alinhada a um viés liberal que tendem a criar um estigma de que o tema ESG é político e manipulador e por isso, sequer avaliam sua importância para seus negócios.
Nesse contexto todo, tenho que trazer que o mal do ESG é que a sociedade tem o “dom” de dificultar tudo aquilo que é para ser simples. O tema ESG não tem lado político, não tem intuito de manipular ou sequer de estruturar uma agenda ativista para que empresas passem a hastear bandeiras de diversidade, inclusão ou causas ambientais. O tema ESG está estruturado em entender aquilo que é importante para os negócios olhando para o mercado do lado de fora e do lado de dentro. É basicamente, uma forma das organizações olharem para tudo aquilo que foi escondido abaixo do tapete por anos e passar a resolver tais situações visando minimizar seus riscos que podem no futuro, derreter seu valor.
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E onde entra o socioambiental então? Na agenda ESG os temas ambientais, sociais e corporativos entram na temática como forma de riscos críticos ao negócio pensando no futuro. Com isso, a organização não escolhe pautas que irá desenvolver, mas detecta através de ferramentas de análises “quais riscos nestas searas” requerem um esforço para mitigação evitando que em um futuro possam impactar sua reputação e resultado financeiro. Essa governança está relacionada diretamente a gerir e estruturar uma estratégia para lidar com riscos, fomentando um esforço corporativo para conhecer sua estrutura e decidir de forma clara e transparente quais riscos a organização quer ou não correr.
Com essa perspectiva, vemos que a agenda socioambiental não entra na estratégia ESG, mas sim na análise do mercado de como a organização pode se proteger e blindar suas estruturas visando manter a sustentabilidade do negócio.
Os maiores erros que tenho visto nesse sentido, tem sido organizações que enxergam apenas o “topo do iceberg” em concorrentes ou até mesmo em outras empresas de setores variados, “copiando” suas ações e estratégias como forma de implementar uma agenda ESG. Esse processo é totalmente nocivo e contrário à boa governança, que fica solidificada principalmente no claro entendimento da individualidade organizacional.
Devemos entender que ESG não tem qualquer relação com práticas. Se você acredita que são “práticas” que vão estruturar sua base ESG, além de equivocado, você está destinando recurso para o lugar errado. Práticas só podem ser consideradas estratégicas, quando diretamente conectadas com a base de materialidade de uma organização. Quando inserimos práticas no negócio apenas relacionados ao que o mercado “gosta” para chegarmos ao cenário do oportunismo, basta um passo.
Se um profissional ou organização desejam realmente implementar essa agenda de forma perene e estratégica, deve-se entender que tudo inicia em conhecer a organização e sua aplicação verdadeira está em conhecer seus riscos individuais, estruturar uma governança por sobre eles e assim, desempenhar esforço para que tudo isso se torne oportunidade de negócio.
Para quem ainda acredita que o tema tem a ver com política, seja para qual lado for, sugiro não mexer com esse assunto até mudar de opinião, ou então seu trabalho não será para melhorar a organização, mas sim para defender seu próprio ponto de vista e acredite, não há nada mais nocivo do que uma cabeça fechada para novos pontos de vista.
#gestao #esg #sustentabilidadedonegocio
Consultor / Conselheiro Consultivo
6 mInteressante.
Gestor do Projeto Escola ESG | "não deixe ninguém para trás" | Empresas como Espaço de Aprendizagem (E2A)
6 mParabéns Luiz Goi , por mais esta aula! Através de conceitos bem concatenados fomenta prudência 👏🏻👏🏻 Antes de fazer uma pergunta mais direta, e como você fala de ética, gostaria de replicar aqui algo que tenho ensaiado propagar nas interações que faço por conta do #ProjetoEscolaESG. Tenho dito que minhas interações têm sempre Segundas Intenções - que são fortalecer relações em prol de conquistas para os estudantes. Então, se uma organização/colaborador(a) pode oferecer um momento ímpar, investindo para que os estudantes do ensino médio saiam da escola e aprendam "in loco" como a organização aplica/trabalha os ODS - irei virar "tiete" das boas práticas desta organização. Você falou no texto de limitações da ética e fiquei 🤔 Mas indo para a pergunta. No antepenúltimo parágrafo você fala das "práticas", que precisam estar alicerçadas na materialidade. Porém, quando o Projeto Escola ESG se aproxima de uma empresa/colaborador(a) sugerimos uma "prática". Arriscando uma linguagem mais técnica, nos colocamos como alternativa para a empresa diversificar suas ações com stakeholders comunidade (estudantes - escola), através do ISP para fortalecer a cultura ESG. Ou seja, estamos oferecendo uma "prática". Como "ofereço materialidade"?