Estante da Sofia entrevista: Adnajara
Olá, leitores! Tudo bem?
Dia de mais um bate papo cheio de livros por aqui! A entrevista de hoje é super especial para mim! Conheci a Ad no Instagram e logo ela passou a ser além de uma inspiração como criadora de conteúdo, mas também como profissional.
A Ad atua na área em que eu pretendo atuar após me formar em Publicidade e Propaganda e poder bater um papo com ela sobre esse universo foi extremamente importante para mim! Vamos conferir?
Agora, me fale um pouco sobre você. Qual seu nome, sua idade e que área atua no momento.
Me chamo Adnajara, mas pode me chamar de Ad. Tenho 32 anos e sou designer editorial e encadernadora. Trabalho com o livro do início ao fim: do projeto gráfico à impressão e encadernação. Meus clientes em geral são pequenas editoras, fotógrafos e artistas que costumam fazer pequenas tiragens e produções independentes.
Falando um pouco sobre livros, você sempre pensou em atuar na área da literatura?
Não exatamente da literatura. Mas os livros sempre estiveram em minha vida, especialmente através de minha mãe que é psicopedagoga e foi professora de educação infantil por muitos anos.
Por causa dela, aprendi a ler antes mesmo de entrar na escola. Cheguei a pensar em ser ilustradora de livros infantis, mas acabei enveredando pelo design.
O que mais te encanta e mais te desanima na área que você trabalha hoje?
O que mais me encanta é esse poder de pegar algo que estava engavetado na mente de alguém e transformar em matéria, algo palpável que vai ser lido por muita gente e, muito provavelmente, de diferentes maneiras.
O que mais me desanima é a falta de incentivos públicos para a área. Imprimir um livro é muito caro aqui no Brasil e o sistema de consignação entre livrarias e editoras já está levando o mercado à um caminho bem ruim. Não que isso afete os meus clientes diretamente, mas faz com eles nem pensem num cenário nacional, imprimindo e distribuindo seus livros por todo o país. E nessa, a gente aqui do Nordeste (Norte e Centro Oeste também sofrem do mesmo mal), vamos ficando à margem de um mercado que já é muito difícil e, pra piorar, dá maior destaque ao eixo Rio-São Paulo.
Se você pudesse dar uma dica para quem deseja trabalhar na sua área, qual seria?
Acredito que para trabalhar com design de livros é primordial gostar de livros. Não só de ler, mas da experiência como um todo: analisar o livro enquanto um objeto também. Enxergar as mensagens que estão sendo transmitidas não só pelas palavras escritas, mas pela capa, pela fonte escolhida, pelas ilustrações ou interferências gráficas...
Você acredita que a área de mercado editorial é muito concorrida ou que na verdade faltam pessoas com interesse em atuar no ramo?
Nem um nem outro. Acho que o mercado editorial ainda tem muito espaço que pode ser ocupado por profissionais da área, mas ao mesmo tempo, percebo que poucas pessoas entendem que essa é uma possibilidade. Durante minha graduação, quando se discutia em que áreas um designer gráfico poderia atuar, o mercado editorial não era levado em consideração, talvez por falta de conhecimento dos meus professores, talvez por ser uma área menos valorizada do que publicidade, branding e afins onde muita gente trabalha "por amor" (entre aspas porque não gosto desse discurso romantizado de "trabalhe com o que você ama". Hehe!) e ganhando muito menos do que colegas em outras áreas.
Na hora de pensar na edição de um livro, quais requisitos essenciais você acha que esse livro precisa ter para chamar a atenção do leitor?
Essa é uma pergunta bem difícil porque cada leitor tem uma prioridade... Enquanto designer, posso responder que capa e projeto gráfico com certeza são essenciais (veja o trabalho maravilhoso que a Darkside e a Aleph têm feito com suas edições! Difícil resistir a livros tão lindos...), mas enquanto leitora, acho que outros fatores que também são fundamentais para uma boa edição precisam ser levados em conta, como uma boa tradução ou uma revisão minuciosa (a mesma Darkside é péssima nesse quesito).
O Brasil é um país com uma taxa muito baixa de leitura por pessoa, o que você acha que poderia ser feito para mudar esse cenário?
Mais uma pergunta difícil, hein?!! Hehe! Pra mudar esse cenário precisamos pensar no que nos leva até ele: o principal canal incentivador da leitura, nosso sistema educacional, é falho (evasão de 4,8% para o ensino fundamental e 13,2% para o médio, sem contar nas metodologias aplicadas dentro das escolas), o estímulo à produção cultural ainda é extremamente baixo (pior agora com nosso atual governo) e o livro é o último nesse filão do que consumimos como cultura, com tv, cinema e internet muito na frente. Livro é caro e poucas são as campanhas pra se ter acesso a eles sem precisar comprá-los usando bibliotecas (sucateadas e desatualizadas em sua maioria), por exemplo. Isso sem contar com o que já mencionei acima sobre produzir um livro no Brasil. Ou seja, temos uma grande cadeia aí que precisa ser mudada. Falar que isso ou aquilo pode mudar esse cenário seria muito prepotente porque é bem mais complexo do que a gente imagina.
Mas enquanto nada disso acontece, é importante continuarmos com nosso trabalho de formiguinha como produtoras de conteúdo, estimulando a prática da leitura e mostrando que sim, ler pode ser tão incrível quanto assistir a um filme.
Por último, gostaria de saber um livro que marcou a sua vida, que você recomendaria para os leitores do Estante e por que.
Tenho muitos livros que marcaram minha vida em diferentes momentos: Pollyanna durante a infância, Alice no País das Maravilhas e A Insustentável Leveza do Ser na adolescência, Amor nos Tempos de Cólera, Vítimas Algozes e As Crônicas de Gelo e Fogo mais tarde... Por isso vou indicar uma leitura recente e que tem muito a ver com nosso cenário atual. É um livro da editora Dublinense que se chama Vamos Comprar um Poeta, do autor Afonso Cruz, uma distopia onde conhecemos uma família que vê seu mundo materialista e quantificado ser questionado depois da compra (literal mesmo) de um poeta. Além de ser uma curiosa visão do capitalismo vivido ao extremo, é lindo demais e super curtinho! Recomendo muito!
Olha, eu não sei vocês, mas que troca linda! Ad, muito obrigada por ser sempre disponível, por produzir um conteúdo lindo, por sempre me ajudar quando eu to com uma dúvida sobre esse mercado que somos tão apaixonadas!
Leitores, espero que com esse bate-papo vocês tenham aprendido e refletido mais sobre o mercado editorial que é tão importante para que os nossos livros continuem sendo produzidos. Não se esqueçam de valoriza-lo sempre!
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Instagram: @letraepapel
E nos vemos na próxima sexta! : )