A Estratégia da Cordialidade Distante
Preservar a cordialidade com distância emocional. Foto Unsplash.

A Estratégia da Cordialidade Distante

Hoje em dia, todos já ouvimos falar de pessoas tóxicas - em toda a parte, em todo lado. Virou até moda. Parece-me muito importante deixar clara a diferença entre:

Imperfeição vs Toxicidade

Mantenhamos presente que os conflitos surgem pelas falhas e erros das outras pessoas às nossas expectativas.

Quando ouvi este conceito, pela primeira vez, em uma aula do Professor DeRose - foi um momento de disrupção, uma epifania que criou novas lentes sobre como percepcionar os conflitos.

Muitas vezes, quando alguém classifica determinada pessoa de tóxica, deve-se na realidade, à incapacidade pessoal dessa pessoa, em ser assertiva, empática e autêntica. Trata-se das imperfeições que todos temos, que nos embates da vida, geram atrito, e, como todo o atrito, gera movimentos emocionais e cognitivos e adaptaçōes nos relacionamentos.
Se não tenho capacidade de adaptação nos meus relacionamentos, posso acabar a achar que todas as pessoas são tóxicas, quando sou eu que estou em falta com a maturidade da minha comunicação.

Por exemplo, o Amor, com A grande, não nasce pronto, ele desenvolve-se com o tempo e fortalece-se nas imperfeições, nos obstáculos superados, que criam a confiança, a amizade e a compaixão dessa palavra, com A maiúsculo.

Antes de pensar em toxicidade, é dramaticamente importante, assumir a liderança das suas atitudes - refiro-me às ações, emoções e pensamentos, senão, fica à espera que o mundo lhe dê o que você quer - que as outras pessoas mudem os seus comportamentos - que a vida se adapte a si - lamento informar, não é assim, e, esse ponto de vista vai, com muita probabilidade, ser uma fonte de infelicidade crónica.

É necessário criar as suas regras, os seus limites, assumir as rédeas da sua vida. É necessário uma boa autoestima, sem dúvida, e, caso seja necessário, fortalecê-la.


Imagine que alguém é mal-educado para si.        

Se preferir, pode trocar a palavra mal-educado por invasivo, ou agressivo, ou desrespeitador, mal humorado ou outra que tenha um impacto mais forte.

Se o seu foco for a atitude dessa outra pessoa, o seu comportamento vai ser reactivo. O foco está no lugar errado.

Obviamente, tem de ter em conta o comportamento dos outros, até para se adaptar a cada momento, circunstância e pessoa. Porém:

O foco deve estar na sua atitude, na que irá adoptar para se posicionar perante o ocorrido.

Foco no seu comportamento - contribuindo para agir por convicção e não pela conveniência fácil, no momento, mas cara, no longo prazo.

Este processo envolve mudança de ponto de vista, liderança emocional e saber comunicar sofisticadamente, que é a proposta do curso Beyond Words que dá suporte a esta newsletter - com isso desenvolve-se muito a habilidade de relacionamentos humanos e a elegância de comportamento.


Porém, perante essa comunicação mais autêntica, empática e cordial, não significa que o outro dance connosco, e, pode ocorrer, que a cada contato com determinada pessoa, sempre haja um contexto emocional adverso, criando uma relação sistémica assimétrica. Esse é o momento de aplicar a cordialidade distante.

Este pensamento do Professor DeRose ilustra bem isso:

Quando o limpo toca o sujo, não o limpa, suja-se.


A linha da imagem sinaliza o limite a partir do qual optamos por outra estratégia. Em vez da empatia - a cordialidade distante. Foto Adobe Firefly.


Como se aplica a cordialidade distante?        

Manter o respeito e a cordialidade, que são sagrados, pela pessoa em questão.

Porém, reconhecer que o carácter dos intervenientes tem incompatibilidades inconciliáveis naquele momento e que não está a compensar a interação entre ambos. Assim, a cordialidade distante consiste em:

Por um lado: manter a cordialidade, a educação, a simpatia - dar presentes, enviar mensagem no aniversário, tudo com muito carinho e educação.
Por outro lado: evitar todo e qualquer contato além das formalidades necessárias. Excluem-se especialmente as comunicações que envolvam intimidade. Intimidade é falar sobre os nossos relacionamentos, as férias, o que gostamos, as nossas preferências. Como vimos em um anterior artigo - intimidade dá poder. Não devemos dar poder a alguém que esteja a gerar toxicidade para a nossa vida.

No caso de pessoas que trabalhem juntas, ou com mais proximidade, para manter a cordialidade distante, será muitas vezes necessário uma comunicação evasiva, mudando de um assunto que tenha intimidade, por outro mais corriqueiro - recusar simpática e elegantemente um convite para jantar, mas enviar uma mensagem a agradecer.

Esta cordialidade distante não tem de ser para toda a vida, as pessoas eventualmente mudam, ou mudam as circunstâncias - é uma dança, em que, a cada momento, vamos adaptando-nos para gerar as melhores conexōes possíveis.

Uma pessoa tóxica, não é tóxica para todas as pessoas, com excepções. Ela só tenderá a ser tóxica para algumas pessoas - aquelas, cujas personalidades são conflitantes. Aquilo que eu tenho dificuldade em suportar, muitas vezes é visto com muita tolerância e relativização, por outra pessoa.


Relembro que não se trata de falsidade. É a diferença entre diplomacia e hipocrisia.

Como tudo, primeiro parece difícil de fazer, depois torna-se fácil.

É mais difícil de aplicar com familiares, pela intimidade natural que estes têm - mas não é impossível.

Em um relacionamento afetivo não faz sentido, afinal, afecto é intimidade. Há um momento certo para iniciar e outro para terminar os relacionamentos, embora cada caso, seja sempre único.


Grupo de amigas que contextualiza o exemplo abaixo. Foto unsplash.


Um caso real, entre muitos outros.

Tenho uma amiga que também é aluna, que me relatou um caso real ocorrido com ela.

Eram um grupo de várias amigas, em que uma delas mostrou-me notavelmente tóxica para a minha amiga. Como ela é aluna e está habituada ao treino, convívio e reflexões constantes, aplicou a cordialidade distante, mantendo a amizade com distância.

Com o passar do tempo, cada uma das outras amigas foi-se afastando daquela que tinha comportamentos invasivos e tóxicos, terminando a amizade. A minha amiga, é a única que mantém até hoje, a sua amizade com ela.

Uau, que civilidade!


A cordialidade distante é uma estratégia nobre de manter a amizade, que dignifica o outro e me dignifica a mim.


Deixe abaixo as suas sugestões, perguntas e dificuldades na gestão de conflitos - responderei em um dos próximos artigos.

Até para a semana.

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