FASES DE UMA TRANSIÇÃO
Entender as fases de uma transição faz com que essa jornada seja ainda mais rica

FASES DE UMA TRANSIÇÃO

Transição é um percurso que exige dedicação. Mesmo com muito trabalho e suor, ainda traz dores e a sensação de fracasso em diversos momentos. Por isso, muitos temem iniciar esse processo e deixam a vida, com seus compromissos, amortecer a vontade de sair de uma condição para chegar a outra.

O ponto é que o adiamento da transição traz ainda mais angústias e não resolve o problema, sendo mais um gatilho para a Síndrome de Burnout, como aconteceu comigo.

Mas é possível tornar esse percurso mais doloroso? Minha experiência de transição de carreira diz que sim! É possível fazer essa trajetória com mais leveza, tornando o processo rico e potencializando ainda mais o autoconhecimento.

Por isso, afirmo que basicamente a transição de carreira pode ser comparada às fases da adolescência. Essa comparação me ajudou a entender algumas angústias e a ultrapassar barreiras, que eram entendidas como intransponíveis. A ideia de fazer esse paralelo surgiu ao assistir um episódio do Café Filosófico, da TV Cultura, com a psicanalista Diana Corso (clique aqui para assistir) em que ela explica o porquê dessa fase parecer tão conturbada, em que tudo está fora do eixo.

A interpretação dos conceitos defendidos pela Diana Corso é livre, baseada na minha própria experiência e pode não fazer sentido para todo mundo. No entanto, esse paralelo contribuiu para compreender que eu já havia feito a maior das transições da minha vida: da fase infantil para fase adulta. E que - se eu já havia passado por aquilo -, já conhecia ferramentas individuais que poderiam ser usadas novamente.

A adolescência não é uma fase é uma transição

A adolescência é uma ponte entre a infância e a fase adulta. É a transição que todos somos obrigados a fazer, sem escolha. Deixamos um corpo, uma voz, uma mente, um tipo de comportamento que conhecíamos para se transformar em um adulto totalmente desconhecido. A adolescência é uma viagem sem que possamos escolher o destino, totalmente no escuro. Por isso, ela é descrita como um momento em que tudo está fora do eixo.

Pela semelhança entre a adolescência e a transição de carreira, listei 5 etapas muito características da puberdade que aparecem com muita força nesse momento da carreira. A transição pode ser assumir um cargo de liderança, mudar de setor ou segmento, mudar a área de atuação ou se arriscar no empreendedorismo. No meu caso, foi uma combinação de tudo isso: mudei de área de atuação, de setor e estou empreendendo. O importante para usar a nomenclatura "transição de carreira" é assumir que será preciso estar fora do eixo antigo para encontrar um novo eixo, um novo ponto que trará o equilíbrio e a satisfação.

Então vamos lá descrever essas etapas, que podem ser longas ou curtas. Que podem aparecer com bastante força ou não. Tudo depende do quanto você irá usufruir dessa adolescência profissional para se tornar alguém ainda mais potente.

Etapas Emocionais da Transição de Carreira

  1. Luto: o adolescente sabe e sente que precisará se tornar um adulto. Ele anseia e deseja ter liberdade de escolha, tornando assim o dono de suas próprias decisões. Esse convite é o canto da sereia, o chamado para uma vida nova, cheia de possibilidades. No entanto, ele sente saudades da criança, das brincadeiras, da proteção, do ninho. Nessa etapa, o puber (ainda não é um adolescente) fica muito instável, irritado com sua própria necessidade de ser ainda uma criança. O paralelo com a transição de carreira é certeiro. Quando começamos o trajeto, sentimos saudades do que fomos. Da segurança que tínhamos naquela outra vida. Mas o canto da sereia para uma nova carreira é inevitável. Já não conseguimos voltar atrás, mas ainda não vemos com clareza o que seremos no futuro. Essa etapa é de grande instabilidade emocional.
  2. Recolhimento: é o momento em que o adolescente já não sente mais prazer em brincar com os objetos e com os amigos da fase anterior. Se sente deslocado tanto em relação às brincadeiras quanto às pessoas que o rodeiam. Tudo é chato e não tem conexão. É uma fase de revisão das crenças, da queda do castelo de cartas. Na carreira é bastante parecido. Os colegas da antiga vida já não se conectam. As atividades que fazíamos com conhecimento e propriedade já não fazem mais parte do nosso dia-a-dia. A gente se sente sozinho e sem uma rede de proteção, por isso é bastante comum existir um recolhimento para revisão do que consideramos essencial, que será mantido para a próxima fase, e o que realmente deixaremos para trás.
  3. Novas tribos: em seguida ao recolhimento, os adolescentes passam a buscar as novas tribos. É uma etapa fundamental, mesmo que considerada perigosa pelos pais. O adolescente que não testa novos grupos, está preso a fase anterior, que representa o grande risco. Afinal é com as tribos que o jovem fará sua autoavaliação sobre quais fazem sentido e com quais ele se reconhece, se conecta e se sente acolhido. Esse teste é também fundamental na transição de carreira. É preciso estar disposto a entrar em novos grupos, comunidades, entidades para testar essas novas conexões. Esse é o famoso networking. Muitas conexões serão voláteis. Outras ficarão pelo caminho. Mas algumas conexões serão a porta e a sustentação para a nova fase da vida.
  4. A revolta: quando encontra a nova turma, o adolescente passa a questionar tudo e todos que fizeram parte das tribos anteriores, incluindo a família. É o momento de firmar suas próprias bases, criar sua própria sustentação com a ajuda das novas conexões. É a fase dos questionamentos e embates. Ao focar a carreira, podemos dizer que é a fase mais chata para quem está a nossa volta. É quando a gente se sente empoderado da nossa decisão e quer que todo mundo esteja no barco. Se a decisão é empreender, a gente tende a achar que todo mundo deveria pedir demissão. Se a gente assume uma posição de liderança, acredita que todo mundo QUER ser líder também. É tanto entusiasmo que passamos a carregar a bandeira da nossa causa, mesmo que o outro não queira.
  5. Do outro lado: a adolescência saudável vai transformar aquela criança em um jovem adulto. Mesmo com suas inseguranças e incertezas, esse adulto está disposto a enfrentar desafios porque percebe que valeu a pena fazer esse percurso. Gosta do que sente e do que vê. Tem alegria em viver e sabe que terá obstáculos, mas que tem ferramentas para ultrapassá-los. Reconhece a família e os antigos amigos, como uma rede de proteção. E recebe as contribuições dos novos amigos como algo rico na construção da sua personalidade. Na transição de carreira, esse é o ponto em que as coisas começam a acontecer de verdade. A gente passa a ter carinho pelo novo profissional que surgiu dessa jornada. Tem curiosidade pelo novo, sem ter medo de perder o que ficou para trás. Aprecia a nova rotina e tem amor pelo profissional daquela outra vida.

É preciso estar disposto a entrar em novos grupos, comunidades, entidades para testar essas novas conexões.

Tanto a adolescência quanto a transição de carreira trazem desafios gigantes. No entanto o maior risco desse percurso é paralisar e ficar preso em uma dessas etapas. É comum ver adultos mais velhos presos em alguma das fases da adolescência, como também é possível encontrar profissionais que não chegaram a lugar nenhum com a transição.

Por isso é fundamental, aceitar e entender que é importante viver cada momento desse percurso com entrega. A transição, no meu caso, tem muitos altos e baixos. Quando acho que já passei para a próxima etapa, me vejo regredindo com medo de não dar conta. Por isso, entendo conto com a experiência de quem já passou por isso. Alguém que é referência para mim, que sente o que eu sinto e que diz: "É Possível".

Esse é o papel do mentor. Alguém que está a sua disposição para percorrer esse trajeto com você, que conhece curvas, pontes e atalhos.

Se você quer saber mais sobre a minha transição de carreira, veja a entrevista gravada para o perfil Grisalhas Assumidas e em Transição (clique aqui).

Kátia Marim Treviso tem 49 anos e está em transição de carreira há 2 anos. É jornalista e está fazendo o trajeto entre a executiva de marketing e a desenvolvedora de pessoas. Atualmente atua como mentora, instrutora de treinamentos comportamentais e escritora.

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