Favelas & Others
WILLIAN FAGIOLO
Nossas cidades, que nunca foram referências históricas dos assentamentos humanos e das permanências humanas, constituem-se hoje no espaço da mobilidade, do movimento incessante de pessoas, mercadorias e serviços. Por causa disso, os espaços urbanos se transformaram. E se transformaram para pior: as inúmeras tentativas de planejamento foram vencidas pela atrocidade do fenômeno urbano. Sabemos que o tamanho das nossas cidades e que a quantidade dos problemas urbanos tornaram a noção de ordenamento um fato quase ingênuo, inócuo e desacreditado. Aqui entre nós: quem acredita em Plano Diretor? Violência, crescimento desordenado, desequilíbrio de infra-estrutura, desequilíbrio ambiental, favelas, transporte público deficiente e falta de saneamento são apenas alguns dos problemas óbvios que só confirmam nossa sensação de impotência diante destas magnitudes. A responsabilidade de interferir no processo de planejamento das nossas cidades deveria ser dos arquitetos e urbanistas, porém não é o que acontece. O que vemos, geralmente, são pessoas sem a menor qualificação e conhecimento do assunto decidindo sobre as mais importantes questões da ocupação territorial e do desenvolvimento urbano em nossas cidades.Pessoas sem a menor qualificação e conhecimento do assunto, por mais bem intencionadas, ficam constantemente diante de perguntas de difíceis respostas. Os clássicos instrumentos de ordenação do território – planos ortogonais, sistemas binários, eixos, hierarquias espaciais e funcionais, densidades – precisam ser revistos e não apenas substituídos. Mesmo um instrumento tão contestado como zoneamento monofuncional e de uso do solo, deve, nessa conjuntura de desarticulação territorial, ser objeto de séria e urgentíssima revisão. (publicado em VEJA, 40 Anos, 29/08/2009)