Feedback

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Na semana passada, eu trouxe para vocês alguns pontos e reflexões sobre o trabalho em equipe. Falei também sobre como devemos, tanto quanto empresa, quanto como colaboradores, criar um ambiente seguro para que as pessoas consigam ajudar umas às outras. Porém, não tem como pensarmos em criar um ambiente seguro se nesse ambiente não há clareza, transparência e abertura e é sobre esse tema que falarei hoje.


Se você ainda está em dúvida de como pode ser criado um ambiente desta maneira, por onde começar, vou trazer uma palavra que pode te dar mais clareza ou te deixar ainda mais confuso: o feedback. Muitas pessoas amam ele, outras odeiam e isso acontece pela maneira que ele é aplicado na maioria das organizações.


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Se você leu o meu último texto, sabe que eu abordei como nós somos criados para viver em competição no ambiente de trabalho, essa competição pode ser tanto com nossos colegas, quanto com nós mesmos, quando ao invés de sermos honestos sobre o que sabemos e o que não sabemos, tentamos disfarçar as nossas falhas e pontos de melhoria. Quando isso acontece, nós criamos uma barreira que não deixa transparecer quem realmente somos e nessa hora, se recebemos um feedback, essa barreira acaba sendo estremecida.


É bem verdade que se você não está em um ambiente seguro, quando você recebe um feedback pode se sentir totalmente reprimido por ter uma possível "fraqueza" sua colocada à mostra. Se você não confia no lugar e nem na pessoa que te deu o feedback, muito possivelmente a chance de você absorver o que foi te falado será muito baixa, afinal mil desculpas virão, como "ah, essa pessoa não gosta de mim, por isso me falou isso"; "ela quer meu lugar, não concordo com o que ela disse". Por isso, mais uma vez volto a frisar que se queremos um ambiente com trocas de feedback bem sucedidas, precisamos criar segurança para todos que ali estão.


Se essa segurança existe, não achamos que a pessoa que nos deu o feedback está querendo nos fazer mal e muito pelo contrário, conseguimos ver uma chance de crescimento e melhoria a partir do feedback que foi dado. Eu sempre disse que devemos enxergar feedback como um presente, afinal, aquela pessoa que deu o feedback tirou um tempo da vida dela para te observar, te apontar algum lugar de melhoria - que você pode ainda não ter acessado - e passar isso para você, para que você consiga crescer e ser melhor.


Mas para fazermos o feedback funcionar, não devemos aplicá-lo apenas upside-down e apenas em avaliações de desempenho, precisamos que seja uma prática contínua, do dia a dia, sempre que vermos algo que pode ser melhorado no comportamento ou trabalho de uma pessoa e que, além disso, possa ser feito por qualquer pessoa, para qualquer pessoa - independente de ser um chefe ou não.


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Depois que já existe um ambiente seguro e a prática do feedback é feita diariamente e não apenas em situações específicas, precisamos aprender a dar um bom feedback. Existem diversos métodos e maneiras para que isso seja feito, mas a maneira que mais funcionou para mim e para minha antiga equipe foi um método que aprendemos em um curso de Accountability que fizemos com a Lumen.


Basicamente, a primeira coisa que precisamos pensar é:


  • Não usar juízo de valor no feedback (ex: você é preguiçoso)
  • Devemos focar na atitude ou comportamento que deve ser melhorado
  • Temos que ouvir com o ouvido e a cabeça abertos para absorver o máximo possível, por mais duro que o feedback possa ser
  • O momento do feedback não é um momento de discussão, afinal é a opinião daquela pessoa a respeito de algo que ela acredita que possa ser melhorado
  • Todo feedback é válido, mesmo quando não concordamos no início. Nós devemos sempre entender mais sobre ele e buscar o que consigamos tirar de melhoria à partir do que foi nos falado


O método que nos foi ensinado é bem fácil e consiste em 4 passos:


  1. Pessoa 1: "Qual feedback você tem para mim?"

A importância de perguntar "qual" ao invés de "você tem um feedback pra mim?" é que se perguntamos se a pessoa tem um feedback, ela pode falar não, quando perguntamos qual ela irá pensar o que pode nos dizer.

2. Pessoa 2: "Tenho notado você chegando atrasado nas últimas reuniões, acredito que você possa melhorar sua organização e pontualidade."

Note que aqui não foi trazido juízo de valor dizendo que a pessoa é desorganizada e sim, que poderia melhorar em sua organização. É uma sutileza que faz a diferença.

3. Pessoa 1: "Obrigado pelo feedback."

Aqui é o momento de agradecer e não discutir. A dica é se tiver algo que você não entendeu ou não concorda, procure a pessoa em outro momento, após ter absorvido e refletido o que ela te disse.

4. Pessoa 2: "E qual feedback você tem pra mim?"

A intenção é que seja recíproco e que ambos consigam olhar pontos de melhoria um no outro e se ajudar.


Não é sempre que teremos feedback para dar para alguém, mas a grande maioria das vezes teremos o que dizer. Quando acontecer de você não saber o que falar, não invente na hora, fale para a pessoa que irá pensar e que trará para ela em um novo momento. Se comprometa com a prática do feedback e tenha uma equipe mais segura, confiando um no outro e crescendo a partir do conhecimento de suas falhas.


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Além do método do feedback exposto acima, há algumas atitudes que podemos adicionar às nossas rotinas para cada vez mais aplicarmos essa soft skills tão importante e que pode enriquecer nossos times e carreiras:


  • Quando for dar um feedback, dizer de forma honesta, porém respeitosa, tendo atenção às palavras e tom de voz usado
  • Quando receber um feedback, absorvê-lo e entender como pode melhorar naquele ponto que foi observado pela outra pessoa
  • Quando notar que há um desalinhamento de comportamento em alguém, não deixar de falar e muito menos falar pelas costas. O caminho ideal é chamar a pessoa para uma troca de feedback
  • Quando dar um feedback para alguém, entender se a pessoa está conseguindo evoluir no que foi dito e ver se precisa de ajuda
  • Não deixar feedback para "momentos importantes", fazer com que ele seja uma prática do dia a dia, assim, não haverá medo ao redor desse assunto


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Abaixo estão alguns livros que podem te ajudar com essa prática e com o entendimento de um bom feedback:


Comunicação Não Violenta - Marshall B. Rosenberg

Um livro que nos ajuda a entender melhor como nos comunicarmos e fazer essa comunicação ser mais efetiva. As técnicas trazidas no livro podem ser aplicadas no momento do feedback.


Thanks For The Feedback - Douglas Stone e Sheila Heen

Um livro que nos ensina como lidar melhor com os feedbacks que recebemos.


A Coragem De Ser Imperfeito - Brenée Brown

Um livro que fala como podemos nos tornar vulneráveis de forma consciente e como pode trazer benefícios para as nossas vidas. Com certeza ajuda em momentos que recebemos um feedback.


A Coragem De Não Agradar - Ichiro Kishimi e Fumitake Koga

Um livro que assim como "A Coragem De Ser Imperfeito", fala sobre expor nossas vulnerabilidades e sermos quem realmente somos.


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Conta nos comentários como você lida com feedback e quais experiências já teve. Já vivenciou algo que foi trazido neste artigo?

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