Fim de Ano, Natal, Crise Politica e Econômica, Fé e Esperança.
Diz-se que a crise por que passa o país tem a índole fincada na política. Em termos. Se a economia vivesse tempos saudáveis, a política seria mais amena e menos conturbada. E a razão é simples : a economia é a locomotiva que puxa o trem, com todos os vagões da sociedade e da política. Daí a triste negociação : a locomotiva está emperrada. Seus eixos estão tortos. E o pior é que não há perspectiva de arrumação das peças tortas no curto prazo. Que eixos são estes ? Vejamos.
O desemprego ameaça a cada dia mais e mais brasileiros. A taxa se aproxima perigosamente dos dois dígitos. Desempregada, a pessoa entra em desespero. Baixa a auto-estima. Sabe que vai faltar dinheiro no bolso, comida na geladeira, leite para os filhos, aperto no estômago. Pois bem, cerca de três milhões de brasileiros, entre os 30 milhões que chegaram à classe C, descem à classe D. A equação BO+BA+CO+CA (Bolso, Barriga, Coração, Cabeça) se desfaz. A situação tende a se agravar nos próximos meses.
Da mesma forma que o desemprego, a inflação também se aproxima dos dois dígitos. Quer dizer : as compras nas feiras e supermercados são modestas ; para manter os suprimentos na normalidade, os consumidores terão de desembolsar mais. Ocorre que falta o "mais" ? A inflação das feiras livres beira os 12%. Esta praga, aliada ao desemprego, deixa o fogo alto queimando a imagem do governo Dilma. Imaginem se o Brasil perde a condição de investimento com a nota de uma terceira Agência de Classificação de Risco. O pior está por vir.
Os dados são desalentadores : o PIB de 2015 ficará entre 3% e 3,5% e o de 2016, segundo as projeções, ultrapassará a casa dos 2%. O quadro é ruim. Ante o despenhadeiro que se enxerga, a projeção de institutos é de que a renda dos brasileiros em 2020 seja igual à renda de 2010. Já se fala em década perdida.
Dilma Rousseff era considerada, no início da gestão, um perfil técnico de respeito. Perdeu o eixo de sua identidade. Mostrou-se ineficaz. Sem grandes realizações para mostrar, a presidente tateia na escuridão. Tenta incrementar a articulação política, agora distribuindo cargos no segundo e terceiro escalões. Os políticos aceitam as recompensas, mas tão logo vejam as coisas se complicarem, pularão fora do barco. Há uma questão central fustigando a administração : como fazer ajuste fiscal sem causar sacrifício ? Como fazer uma agenda positiva se o ajuste entra na agenda negativa ? Lula só pensa em agenda positiva. Lula mostra como se faz. [...] andando na contramão do governo, fazendo críticas que acabam sendo vazadas para a imprensa. O que se lê, quase todos os dias, é sua discordância sobre a condução da economia pelas mãos de Levy. Lê-se que prega a retomada do crescimento com a vitamina do crédito, luta aguerridamente pelo não esmaecimento dos programas sociais, com Levy desgastado e cada vez mais isolado, Lula tenta trazer Henrique Meirelles para ocupar a vaga e dar uma injeção na economia. A questão é como fará isso se não há dinheiro para um novo ciclo de crédito e abertura da economia. O momento é grave!! A retomada do crescimento com a vitamina do crédito é tarefa impossível quando o orçamento se apresenta cheio de rombos.
E não se pode dizer que o Congresso passa por momentos tranquilos. O ambiente nas duas casas é tenso. O governo vê seu pacote fiscal criando atritos por todos os lados. A Comissão de Orçamento do Senado aguarda a defesa das pedaladas fiscais. Na frente do impeachment, até se pode enxergar certo alívio por parte da presidente. Houve um refluxo nos últimos dias. Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, se esforça para esticar seu tempo na presidência da Casa. Mas espera, a qualquer momento, o pedido do PGR, Rodrigo Janot, para que o STF o indicie. Se o fizer, a Suprema Corte deverá fazer a solicitação ao Parlamento. O Conselho de Ética instala processo para apurar se Cunha mentiu aos deputados. É possível que o relator seja favorável a ele. O ambiente é tenso. O PSDB decidiu sair da esfera de Eduardo Cunha, passando a lhe fazer oposição. A razão ? Os tucanos esperavam que o presidente da Câmara acolhesse o pedido de impeachment de Dilma. Ao passo que hoje, a vida política de Cunha está nas mãos de Dilma e do PT, pois este partido pode contar com uns 10 votos no Conselho de Ética. Ora, se Cunha acolher o pedido de impeachment de Dilma, o PT votará em peso contra ele na Comissão de Ética. O PT dá demonstrações de que está, hoje, a favor dele. Claro, enquanto ele não acolhe o pedido de impeachment.
E os movimentos sociais, onde estão ? Hoje, a fotografia mostra que o movimento maior é o dos caminhoneiros. Que tentam parar o país. O governo decide multar pesadamente os grevistas. Quase todos os sábados ocorrem passeatas na avenida Paulista. Sem grande barulho. Os movimentos não estão unidos. Ciúmes e divisões estão por trás das ações e motivações. Sem ruas movimentadas, não haverá pressão suficiente para fazer o Parlamento avançar. Não seria a hora de deixarmos os egos e objetivos pessoais de lado e unirmos a um só e coro e voz, visando apenas o bem do “povo” e de nosso amado país? Ou nas palavras do 35° presidente dos Estados Unidos (1961–1963) John F. Kennedy ou Jack Kennedy por seus amigos e popularmente como JFK, que é considerado uma das grandes personalidades do século XX: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país!" Ele também pediu a todas as nações que lutassem juntas contra os "inimigos comuns do homem": a tirania, doenças, pobreza e a guerra em si. "Finalmente, se vocês são cidadãos dos Estados Unidos como se eles estão no mundo, exijam de nós a mesma generosidade de força e sacrifício que pedimos a vocês." Então parafraseando JFK; Se vocês são cidadãos Brasileiros, unam as forças e a um só coro e voz, gritem e exijam, assim como nos é exigido, o cumprimento do sacrifício, seja pela redução dos gastos do estado, diminuição do gigantesco paquiderme estatal, ou o Impeachment. Um só povo, uma só nação, aqui hoje não tem espaço para egos ou desejos pessoais, é o bem comum que está em jogo.
As lupas do Parlamento e do Judiciário continuam a jogar luzes sobre a escuridão dos jogos de poder. O MPF e a PF fecham o cerco à família Lula da Silva. Há um procedimento investigativo criminal no DF ; a operação Zelotes investiga Luís Cláudio, o filho de Lula, por tráfico de influência ; a CPI da CARF, no Senado, analisa pedido para ouvir Lula e seu filho ; a operação Lava Jato investiga o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, de fazer intermediação para compra de um navio sonda da Petrobras ; são investigados os pagamentos feitos à LILS, empresa do ex-presidente, pelas palestras que proferiu mundo afora ; a COAF (uma bomba) descobre transações bancárias de quase meio bilhão de reais nas contas de Lula, Palocci, Erenice Guerra e Fernando Pimentel. Essa história ainda vai render por muito tempo.
As comportas são abertas em todas as instâncias. No Congresso, a CPI do HSBC continua a investigar contas de brasileiros na Suíça. O STF, a par da possibilidade de indiciar o presidente da Câmara, investiga parlamentares, entre eles, os deputados Roberto Goes (PDT-AP) e Bernardo Santana (PR-MG), além do senador Ivo Cassol (PP-RO). O juiz Sérgio Moro, que acaba de condenar a quase 20 anos de prisão o herdeiro da empreiteira Mendes Junior, vai ouvir o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque. Pode vir mais bomba deste depoimento. O TSE deve escolher Gilmar Mendes como relator do processo contra a chapa Dilma/Temer. A revista Veja também enfrenta processo. O procurador Reginaldo Pereira Trindade processa a revista no STJ. A paisagem mais se parece uma briga de foice entre cegos no escuro.
O clima de litigiosidade que se observa no país certamente continuará por tempo. A política passou a ser um empreendimento que anima novos contendores. Além disso, estamos caindo no imenso vácuo de lideranças. Os maiores líderes nacionais pertencem à geração de 64. O país se ressente da falta de quadros que expressem grandeza e respeito. Na paisagem, quem sobressai é o Poder Judiciário, que começa a assumir o papel de redentor moral da nação. O Parlamento está no fundo do poço em matéria de credibilidade. O Executivo está na lona. O que esperar ? Pelos tempos de amanhã. O Brasil só será potência no longo prazo.
As eleições do próximo ano propiciarão a abertura de um ciclo mais radical de renovação política. Veremos perfis assépticos, não contaminados pelo vírus das mazelas tradicionais. Teremos uma campanha mais enxuta, racional e participativa. E modesta no capítulo dos recursos. Mas não se espera por reformas estruturantes no curto prazo. A semente de nova cultura política deverá frutificar. Em condições de influir em 2018.
O PT será devastado, mas não a ponto de desaparecer. Lula o ícone do partido e maior liderança popular, hoje, no Brasil, apesar de amargar 55% de rejeição, segundo pesquisas; menos carismático e bombardeado, Lula pode, até, se recuperar. Se a economia de Dilma melhorar e as margens voltarem a ser contempladas com programas assistencialistas. Qual a chance de 0 a 10 ?
E por fim, segundo projeções, o fundo do poço é mais embaixo. Ainda não apareceu. Acredita-se que a situação tende a piorar nos próximos dois a três meses com o aumento da inflação, do desemprego e do Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O recesso do final e início do ano será angustiado. Papai Noel deverá circular, pobre e contido, o que por sua vez, talvez nos de tempo para refletir e pensar sobre o verdadeiro “espirito do natal”, ou seja, para todos os cristãos, "espírito natalino" é sinônimo de "advento", isto é, celebração de um acontecimento radicalmente singular que marcou a história dos homens. Deus que, antes de querer nos elevar à grandeza divina, assume, torna sua a natureza, a existência humana! E a redime, isto é, a reconduz à sua nobreza e grandeza originais. No Natal, recordamos e celebramos este acontecimento. Muito mais que cronológico, o Natal é histórico, isto é, presença permanente e eficaz do divino no humano, presença que molda pessoas, povos, culturas e civilizações.
Celebrar o Natal é celebrar com otimismo o fato de sermos seres humanos. É assumir o viver humano com um viver no qual é possível fazer uma história grande e nobre, divina. Este otimismo embutido no Natal talvez explique uma face surpreendente: a alegria, uma alegria generalizada que contamina a todos, que podemos definir como espírito natalino!
Por isso, "espírito natalino", é sempre uma busca, um se dispor ao novo, um encontro capaz de transformar aos poucos nossa existência, tornando-a de fato fonte mais capaz de bondade real e inteligente, mais atenta e sensível aos outros, mais sobriamente alegre e jovial. Ou ainda podemos chegar ao limiar da visão de um poeta “Imagine não existir países, Não é difícil de fazer, Nada pelo que matar ou morrer, E nenhuma religião também, Imagine todas as pessoas, Vivendo a vida em paz; Você pode dizer, Que sou um sonhador, Mas não sou o único, Tenho a esperança de que um dia, Você se juntará a nós, E o mundo será como um só (...)”.
Um clima de sonho se espalha no ar, Pessoas se olham com brilho no olhar, A gente já sente chegando o Natal, É tempo de amor, todo mundo é igual, Os velhos amigos irão se abraçar, Os desconhecidos irão se falar, E quem for criança vai olhar pro céu, Fazendo pedido pro velho Noel, Se a gente é capaz de espalhar alegria, Se a gente é capaz de toda essa magia, Eu tenho certeza que a gente podia, Fazer com que fosse Natal todo dia, Se a gente é capaz de espalhar alegria, Se a gente é capaz de toda essa magia, Eu tenho certeza que a gente podia, Fazer com que fosse Natal todo dia, Um jeito mais manso de ser e falar, Mais calma, mais tempo pra gente se dar, Me diz porque só no Natal é assim, Que bom se ele nunca tivesse mais fim; Que o Natal comece no seu coração, Que seja pra todos, sem ter distinção, Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for, O melhor presente é sempre o amor...
E refletindo sobre o “verdadeiro espirito natalino”, enchamos nossos corações e espíritos dele, e distribuamos o melhor presente, “o amor”, nas suas mais diversas formas.
“Há dois mil anos, não havia frase que se dissesse com mais orgulho do que civis Romanus sum ("sou um cidadão romano"). Hoje, no mundo da liberdade, não há frase que se diga com mais orgulho que "Ich bin ein Berliner"... Todos os homens livres, onde quer que vivam, são cidadãos de Berlim e, portanto, como um homem livre, eu me orgulho pelas palavras 'Ich bin ein Berliner'! - John Kennedy”.
Fontes: Porandubas nº 468 e 469 por Gaudêncio Torquato; Vivendo o espírito natalino; Por: Dom Fernando Mason, Bispo Diocesano de Piracicaba.
Adriano Frede Hauber