Independência profissional: perder, vender ou lutar?
Se você pudesse citar uma característica que identificasse a profissão médica há 15 anos atrás, qual seria? Muitas ditas, e, com certeza, uma delas seria a independência profissional. Porém, esta particularidade está sendo cada vez mais perdida. Algo está acontecendo dentro do mercado de saúde, que muitos médicos nem percebem. O pior é que aqueles que notam esta tendência vivenciando ela, sentem ou veem-se sem opções. Não encontram formas alternativas ou acreditam que lutar é perda de tempo. Mas o que será que realmente vale a pena? Perder, vender ou lutar por esta independência?
Ao longo dos últimos 5 anos, houve uma grande mudança nos modelos de prática médica. Aquelas administradas pelo próprio médico, que foram consideradas padrão nos últimos anos, têm se reduzido drasticamente neste período. Isto nos faz despertar uma incógnita: o que estaria acontecendo no setor de serviços em saúde para que cada vez mais, menos médicos trabalhem nas práticas administradas exclusivamente por eles? Ao mesmo tempo, para onde eles estariam indo? Para responder isso, vamos analisar as que já foram as 2 principais formas de prática médica no Brasil.
Aquelas administradas pelo próprio médico, que foram consideradas padrão nos últimos anos, têm se reduzido drasticamente neste período.
Os consultórios particulares sempre foram, e ainda são, um dos maiores sonhos dos médicos. Realizar a prática a sua maneira e ainda receber bem por isso, qual profissional de saúde não quer? O grande problema é que, continuar conduzindo esta prática do jeito que se fazia nos anos 80 (da máquina de escrever), não tem gerado bons resultados. O motivo para fechamento de consultórios se dá pelo óbvio: aumento dos custos de manutenção, redução de pacientes, descredenciamento, aumento do número de glosas, concorrência acirrada, enfim, os motivos que todos nós já vivenciamos em maior ou menor grau. Assim, cada vez mais abate-se nos médicos que realizam esta prática a sensação de que este não é um bom negócio. Ao meu ver, a mais indicativa falta de perspectiva dos nossos colegas que ainda lutam por este modelo é a sensação de que continuar trabalhando desta forma é cansativo e ineficaz. Escuto isso de alguns clientes de Executive Coach. Triste, pois com o trabalho certo, como o que temos desenvolvido, existem muitas alternativas para se obter sucesso. E acredite, na revolução tecnológica da Medicina, o modelo de consultório particular será onde os médicos mais encontrarão oportunidades.
O grande problema é que, continuar conduzindo esta prática do jeito que se fazia nos anos 80 (da máquina de escrever), não tem gerado bons resultados.
Outra tendência que está se realizando de forma cada vez mais ineficaz e conflituosa é a sublocação ou divisão física de práticas. Evidente vantagem econômica por si só, ela também pode ser extremamente arriscada sem as orientações e cuidados devidos. E médicos são um dos profissionais mais vulneráveis para cairem em armadilhas que esta prática apresenta. Nos nossos serviços de consultoria, ao fazermos diagnóstico empresarial e avaliação de fragilidades da clínica, posso afirmar que em 100% delas os erros são o mesmo! Um exemplo é a constituição da sociedade ou parceria. Os médicos se juntam por amizade de residência, plantão, especialidade e não por suas crenças e valores. Resultado: conflitos! Em momentos de crise, os sócios demonstram suas opiniões e crenças em suas verdades que, muitas das vezes, estão embasadas em dados distorcidos ou de noções empresariais teóricas, mas sem aplicabilidade para seus negócios. Como se cegos brigassem para qual caminho tomar na estrada. Dessa forma, o diálogo torna-se cada vez mais difícil e improdutivo. Infelizmente, alguns acabam nos tribunais. Nossas estatísticas demonstram um aumento de 12%, no último semestre, desses tipos de casos. Na minha análise, como consultor, o mais grave desta situação é que dentro destas sociedades, alguns cedem, perdendo sua voz e liderança (normalmente os ponderados e com maior chance de fazerem a coisa certa!) para outros que vão levando o grupo a erros de decisão empresarial. Perda de dinheiro e da oportunidade de ser líder do mercado. Consequentemente, desilusão nesta forma de prática ou dissolução! Então, será que teria algo melhor? Uma alternativa mais certa?
Os médicos se juntam por amizade de residência, plantão, especialidade e não por suas crenças e valores.
Para um número crescente de médicos, sim! Fica evidente que cada vez mais e mais médicos estão se tornando parte dos grandes sistemas hospitalares e grandes corporações, como nunca o fizeram antes. Entretanto, muitas vezes, ser parte deste tipo de sistema significa trabalhar como um empregado, não tendo o mesmo grau de independência que os médicos que trabalham em outras práticas (consultório e clínica), o que pode ser um conceito difícil para aqueles que não querem ter um chefe. "Vender" a independência profissional em troca de segurança, significa para alguns de meus clientes, a perda de liberdade de praticar medicina, a sua maneira, baseada nas suas escolhas do que é melhor para seus pacientes, sem a pressão de tomar decisões de saúde com base na lucratividade de um empregador. Os protocolos de conduta de cima para baixo, nos quais não há participação, em sua elaboração, dos médicos que executam; uma cultura empresarial que não é a sua; o cumprimento de políticas e normas do grupo de saúde que exigem comportamentos fora daqueles que você sempre acreditou ser sua característica; e o trabalho com time eficaz, mas cheio de egos e concorrências, são algumas das queixas que levam meus clientes de Executive Coach, que trabalham nestas corporações de saúde, a uma total frustração. Criando uma sensação neles do tipo "um mal necessário".
Fica evidente que cada vez mais e mais médicos estão se tornando parte dos grandes sistemas hospitalares e grandes corporações, como nunca o fizeram antes.
Além da sensação de segurança e estabilidade que estas marcas oferecem, ainda existe uma estratégia muito bem operacionalizada por elas. A aquisição hospitalar de práticas médicas, que tem se tornado cada vez maior, além de proteger a base de pacientes do hospital, fortalecendo as referências dentro do sistema, também cria uma concorrência desleal com as outras formas de prática. Aliada a isto, existe uma estratégia de marketing direcionada aos médicos prestadores. Para estes, a música que o flautista mágico das grandes corporações de saúde toca é a oferta de engrandecimento acadêmico dentro da marca. E qual médico não quer se sentir academicamente reconhecido? Sim, certamente será, mas a marca será muito mais! Pois nela trabalham médicos gabaritados, percebe?
E qual médico não quer se sentir academicamente reconhecido? Sim, certamente será, mas a marca será muito mais!
No entanto, a afiliação a um sistema hospitalar ou corporação de saúde está repleta de benefícios dentro deste cenário tão instável. Estes, ainda maiores, quando eles cumprem com suas obrigações financeiras, horários de atendimento e sala cirúrgica, dando a segurança e estabilidade profissional. Além disso, não há absolutamente nada de errado em se fazer parte destas corporações como um médico empregado. Nas minhas sessões de Executive Coach, sempre oriento os meus clientes que optaram por fazer parte de uma grande marca médica e que tem forte liderança com boas relações com o sistema, que primeiro certifiquem-se de que seus valores sejam compartilhados pelo grupo e que sua liderança seja escutada. Depois, que faça uma análise contratual minuciosa, focando em manter sua liberdade e segurança profissional ao máximo.
Portanto, não existe lutar, perder ou vender sua independência profissional, pois tudo continua sendo sua decisão. E todos escolhemos o que consideramos nossa primeira melhor opção. O problema se dá quando os médicos acreditam que, depois de ter escolhido, esta seria a única ou melhor opção. Não é! Médicos são geniais e criativos e, por isso, sempre poderão encontrar alternativas.