A inovação deve ser necessariamente disruptiva? Bate papo com Gerente de Inovação da Natura.
Quando se fala em inovação, é comum que se confunda o conceito com o de tecnologia. Mas existem muitos tipos de inovação, e nem sempre ela tem a ver com tecnologia. Essa é apenas uma das possibilidades, assim como também não é regra que a inovação seja disruptiva, ou seja, aquela que muda completamente o paradigma existente, criando uma forma totalmente nova de agir.
Não é todo dia que conquistamos uma inovação como essa, e nem sequer é necessário que o façamos. No dia a dia, outros tipos de inovação são muito frequentes e possíveis. Uma delas é a incremental, que muito mais se parece mais com processos de melhoria contínua do que com inovação de fato.
Há ainda a inovação aberta, onde os gestores colhem as melhores ideias, de sugestões vindas de clientes ou colaboradores, e criam inovações a partir de um apanhado geral daqueles que destacaram como as melhores.
Em um dos nossos mais recentes episódios que gravei do CorpUp Talks junto com o nosso parceiro da Semente Negócios, tive a oportunidade de entrevistar Diana Guimarães, Gerente de Inovação Social na Natura, que lidera projetos com foco na melhoria do desenvolvimento humano das Consultoras Natura e da rede da Natura no Brasil. Nessa entrevista, ela nos contou um pouco sobre o movimento de inovação social na companhia, e explicou como funcionou o processo de disrupção dentro da empresa.
Sobre o início do movimento de inovação, Diana nos conta com isso funcionou, na prática:
“No começo a gente falava muito de conceitos de modelos ágeis e da própria concentração de times de squad. No meio do caminho, começamos a observar que isso virou moda e que, inclusive, começou a atrapalhar um pouco. A pessoa vem de lá da literatura para vir aplicar a metodologia, e a gente não estava seguindo exatamente o que a literatura dizia, nos moldes em que funciona lá no Vale do Silício. A gente adaptou para aquilo que funcionava aqui dentro, mas obviamente seguindo aquilo que era essencial da metodologia. E esse é um exemplo, no meio do caminho uma das coisas que a gente decidiu é que chamaríamos as nossas equipes de time, não íamos chamar de squad para não confundir a cabeça das pessoas.”
Disrupção nem sempre é sinônimo de sucesso. Nem tudo que é disruptivo dá certo. É um erro comum associar disrupção ao resultado que é alcançado e chamar qualquer empresa de sucesso de disruptiva. Uma trajetória disruptiva não significa triunfo, mas um caminho que permite uma disputa de mercado que evita o combate frente-a-frente com players existentes e com muito mais munição.
A Natura, como se sabe, é a maior multinacional brasileira do setor de perfumaria, cosméticos e higiene pessoal. Com um faturamento anual ao redor de R$ 5 bilhões, a Natura possui, além de no Brasil, operações próprias na França, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. A empresa conta, também, com distribuidores na Bolívia e em alguns países da América Central. Em 2010, a Natura investiu 2,8% de sua receita líquida em inovação. Passou a ter papéis negociados na BM&FBovespa em 2004, como participante do Novo Mercado, nível diferenciado que exige grau mais sofisticado de governança corporativa. Desde 2005, faz parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Quando já se é uma empresa consolidada no mercado, ser disruptivo a qualquer custo nem sempre é o melhor caminho. Quando você possui um negócio rentável você não deve direcionar bruscamente a sua trajetória para disrupção. Se o seu marketshare mudar e no horizonte seja possível ver pequenos players adentrando seu terreno, claro, é necessário se adaptar. Para isso, fortaleça as relações com os clientes que já possui oferecendo melhorias (sustaining innovation), enquanto isso, inicie uma operação secundária e comece a navegar na mesma direção que os players menores, se entender que isso é necessário para o seu negócio.
“A gente deve ter feito umas 15 iniciativas, 15 a 20, e eu diria que em poucas delas a gente foi disruptivo de fato. Eu também acho que tem uma confusão muito grande de que inovação tem que ser necessariamente algo disruptivo. O que a gente fez foi invocar dentro de soluções que estavam já à disposição, mas que não estavam à disposição de resolver aquela dor específica. Isso foi um aprendizado bem bacana, o que a gente fez foi validar soluções escaláveis, uma delas disruptivas, outras não. As outras a gente conseguiu resolver a dor e escalar e ter a solução do problema, mas não necessariamente trazendo uma coisa muito fora da caixa”, contou Diana.
Isso prova que a disrupção está longe de ser uma condição necessária para inovação. Com ideias muito simples, resultados gigantescos podem ser alcançados.
Para tornar a sua empresa mais inovadora, é necessário estar mais atento às necessidades dos seus clientes e aberto a propor novas soluções. Inovação nada mais é do que procurar respostas diferentes para perguntas que sequer foram feitas.
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2 aExcelente. Precisamos cada vez mais desmistificar, democratizar e simplificar a inovação para ser uma prática disseminada por toda organização e não ser responsabilidade de uma pessoa ou área. Só assim teremos uma empresa de fato inovadora, com diversos inovadores atuando em suas respectivas áreas e de forma sistêmica.