Integração de Projetos na Fase de Engenharia


Josie de Fátima Alves Almeida

Engenheira Civil e MBA em Gestão de Projetos pelo IETEC 

RESUMO


O presente artigo visa discorrer sobre assuntos tratados de forma deficiente durante a etapa de integração de projetos de engenharia, como a falta de planejamento para essa tarefa, ausência e/ou falha de comunicação e padronização, e a não utilização de recursos tecnológicos disponíveis no mercado que facilitam a execução, unificação e/ou consolidação das diversas e diferentes áreas de projeto e que culminam em erros graves na implantação de empreendimentos, atrasos em cronograma, e consequentemente gastos excessivos nas correções e improvisos durante a execução da obra.

Palavras-chave: Compreensão de escopo, Integração de projeto, compatibilização de projetos, comunicação e controle de mudanças.


1 INTRODUÇÃO

Na Construção Civil Brasileira a concentração maior de esforços ainda permanece na obra, apesar de hoje existirem diversas plataformas tecnológicas na área da informática que visam a facilitação de contato entre as disciplinas, a cultura da construção civil ainda é uma barreira além de adaptar as inovações tecnológicas no dia a dia, utilizá-las de forma correta e carregar o conceito de Compatibilização de Projetos desde o início da concepção do projeto.

A compatibilização de projetos é uma forma de analisar os diversos projetos, procurando solucionar interferências que não devem ser resolvidas durante a execução da obra, de maneira a permitir a integração das soluções adotadas para os diversos subsistemas. Tem por função principal a integração das soluções adotadas no projeto arquitetônico e os demais projetos complementares (Topografia, Arquitetura, Estruturas, instalações hidros sanitárias e elétrica, Ar Condicionado, Luminotécnica e Paisagismo).

É na fase de desenvolvimento da engenharia que se torna extremamente relevante desenvolver o projeto de forma multidisciplinar onde os profissionais envolvidos trabalhem de forma integrada, pensando não apenas na sua especialidade, mas interagindo entre equipes, tendo como principal objetivo a qualidade do projeto, atendendo os requisitos do cliente e as informações necessárias para a execução da obra. Além disto, é nesta fase que devem ser consideradas as informações necessárias para fundamentar e subsidiar as definições gerais de cada projeto, aspectos como a tecnologia disponível no local da obra, o conhecimento tecnológico da empresa que executará a obra, bem como a disponibilidade e facilidade de obtenção dos insumos para a construção. A consideração destas proporcionará oportunidades de redução de custos e implantação em prazo estipulado.


2 INTEGRAÇÃO DE PROJETOS NA FASE DE ENGENHARIA


O projeto na fase de engenharia deve ser tratado como elemento fundamental na concepção de um empreendimento (SOUZA et al., 1996), a fim de otimizar e agregar valor ao empreendimento como produto final. Para isto, alguns itens tornam-se relevantes no processo de integração para o sucesso do projeto.

A. Compreensão do escopo

O escopo deve estar bem elaborado e com objetivos nítidos, possibilitando a todos os envolvidos a definição dos trabalhos que devem ser realizados para a entrega dos serviços. Além disto, tem como objetivo fundamental prover a orientação consistente e realista do que deve ser gerado pelo projeto e de como isso deve ser executado e controlado (SOTILLE et al, 2007 apud BORN et al, 2009).

Um escopo bem definido a todos envolvidos no projeto, principalmente os líderes das disciplinas e seus projetistas, culmina em um desenvolvimento com maior facilidade e entendimento, aumentando a possibilidade do sucesso do projeto (MEDEIROS, 2011).

Durante o desenvolvimento da fase de engenharia, é importante o alinhamento continuo do escopo, como definida na elaboração e na documentação da Declaração do Escopo utilizada para o desenvolvimento do trabalho (XAVIER, 2005).

B. Previsão da etapa de integração do projeto

Para que os trabalhos sejam realizados em equipe e seja desenvolvido de forma sistêmica, é necessário que os serviços sejam realizados de forma associadas, apoiada e liderada por uma boa coordenação. Além disto, os cronogramas não devem prever somente a elaboração do projeto em cada disciplina, sem no entanto, a inclusão de prazos para que sejam realizados os devidos ajustes, comunicações, adaptações, discussões, identificações de incompatibilizações e consequentemente as soluções, evitando erros graves e custos maiores na fase de execução. Silva (2004) afirma que a falta de qualidade do projeto, decorre de um processo não planejado, segmentado e sequencial, sem uma visão abrangente integrada entre projeto e execução de obra, com evidente ausência de integração e comunicação entre diversos agentes envolvidos. Mas as reuniões de coordenação de projetos contribuem para esse trabalho em equipe, além de subsidiam a compatibilização dos projetos, a sua coordenação dimensional e as análises críticas dos diversos projetos e soluções propostas.

C. Compatibilização de projetos entre disciplinas

Segundo Rodriguez (2008) apud Miszura (2013) a compatibilização de projeto pode ser definida como: análise, verificação e correção das interferências físicas entre as diferentes soluções de projetos. Assim, cabe dizer que a compatibilização é uma parte do trabalho de coordenação de projetos, pois identifica as falhas e/ou conflitos entre os projetos das diferentes disciplinas, facilitando a coordenação, que pode ocorrer em outras localidades.

Segundo Melhado e Violani (1992) apud Vanni (1999) um fluxo de informações entre as equipes de projeto e de execução da obra é de fundamental importância para a implementação de sistemas de garantia da qualidade durante a etapa de construção No entanto, é visto que o distanciamento entre as equipes de projeto e de construção tem gerado grandes despesas para as construtoras e clientes, uma vez que os ajustes são resolvidos na obra, a custo de alterações feitas em cima de algo já executado. Dessa forma, a compatibilização e coordenação dos projetos passaram a ser requisito indispensável na fase de engenharia.

D. Comunicação entre os envolvidos

A comunicação é de fundamental importância para que todo o conjunto de informações seja disponibilizado dentro do prazo necessário e da melhor forma para cada um dos envolvidos no processo de elaboração de projetos e execução da obra, e cujo gerente ou responsável pela coordenação do projeto tem a responsabilidade pelo desempenho de todo esse processo.

Atualmente com a internet torna-se fácil a comunicação entre os participantes de um empreendimento mesmo que estejam em diferentes partes do mundo, mas cabe ao gerente de projetos verificar, analisar e gerenciar de forma eficiente este fluxo de informações. Cada vez mais aumenta a importância de comunicação clara e eficiente. A Tecnologia da Informação aparece como potencial solução para a necessidade de comunicação e integração (AHMAD et al, 1995; TANG et al., 2001 apud MIKALDO e SCHEER, 2007), já que a troca de informações e a integração entre os envolvidos no processo de projeto têm grande influência no desenvolvimento do produto final.

A gestão da comunicação nos projetos deve promover uma comunicação integrada e eficiente entre todos os participantes, determinando procedimentos para a geração, classificação, registro e troca de informações, tanto gerais quanto técnicas, durante todo o processo de desenvolvimento dos projetos. A necessidade de uma comunicação eficiente e eficaz entre todos os agentes envolvidos no processo, bem como o usuário final que contribui para a validação das expectativas previamente definidas no início do desenvolvimento do produto (FABRíCIO, 2002).

E. Controle integrado de mudanças

As mudanças em projetos são eventos frequentes ao decorrer do desenvolvimento dos mesmos, podendo ser de origem interna (equipe de projeto) ou externa (cliente ou pelas demais partes interessadas). Independentemente da origem da mudança, um sistema de controle integrado de mudanças deve ser implementado, e enraizado na cultura da empresa para que situações em que normalmente criam conflitos sejam menos traumáticas para todas as partes envolvidas. De acordo com o Guia PMBOK 4ª Edição (2008), o sistema de controle integrado de mudanças consiste em manter a integridade das medidas básicas de desempenho, assegurar que as mudanças no escopo do produto estejam refletidas na definição do escopo do projeto e coordenar as mudanças entre as áreas de conhecimento.

Os gerentes de projetos assim como os demais membros da equipe devem estar preparados para enfrentar situações em que as mudanças são apresentadas, seja para rejeitá-las de forma adequada reportando a parte interessada ou aceitá-las de maneira sistêmica, ou seja após estudos de riscos, impactos financeiros e nas demais etapas e sucesso do projeto.

F. Utilização de softwares

O notável crescimento tecnológico revolucionou o modo de produção de documentos, e a troca de informações entre as pessoas. Nos dias atuais essa evolução é também presente nas empresas de engenharia e arquitetura, através de computadores e da tecnologia de informação. Entretanto, segundo Scardoelli et. al (1994), a indústria da construção civil sofre de um grande atraso tecnológico em relação aos outros setores. Esse atraso ocorre principalmente devido à resistência às inovações tecnológicas, emprego de métodos de gestão ultrapassados, excessivo esforço físico e condições adversas de mão de obra e a falta de incorporação de uma nova base de organização de trabalho a partir do uso da Tecnologia da Informação.

Estudos realizados no Brasil por Nascimento e Santos (2002) e em outros países por Hugues (2000) mostram que, geralmente, a utilização da tecnologia da Informação (TI) no setor da construção civil é semelhante em todo o mundo, ficando restrita principalmente ao uso das tecnologias Computer Aided Design (CAD) e softwares para cálculo.

Atualmente é possível assegurar que todas as partes do projeto possam trabalhar de maneira unificada através de uma plataforma capaz de gerenciar essa integração, a fim de compatibilizar os projetos para que interferências entre os mesmos seja detectada antes de sua execução, podendo assim diminuir o prazo do projeto e evitar gastos desnecessário.

G. Responsável pela integração entre as informações

Observa-se na literatura diversas ferramentas que podem auxiliar na integração das equipes e tarefas, no entanto é de extrema importância a designação de um integrante da equipe de projeto que coordene todas as atividades do processo de projeto e interaja com todos os intervenientes do processo a fim de buscar soluções integradas: o gerente de projeto.

O gerente de projetos surge como agente fomentador não apenas da interação e cooperação entre todos os agentes envolvidos no processo de projeto, mas também do bom resultado do processo e das soluções adotadas. A competência do Gerente de projetos torna-se decisiva para a qualidade do projeto encaminhado à obra, e, de forma mais abrangente, o gerente de projetos tem grande importância para o sucesso do empreendimento e das empresas envolvidas no processo de construção.

Em relação às competências básicas, sabe-se que este deve possuir habilidades de liderança, facilitação, coordenação de tarefas, comunicação e ter uma formação abrangente com conhecimento o suficiente para compreender as questões intrínsecas aos projetos e conseguir discutir com os projetistas essas questões, além das responsabilidades como planejamento de custos, etapas e prazos do processo de projeto, contratação de projetistas e análise de projeto.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


É visto que é longa a tarefa para se desenvolver um bom projeto que satisfaça todos os quesitos de qualidade, prazo e custo tanto para clientes e usuários. Mas para isso, deve ser cada vez mais presente o conceito de compatibilização e integração de projetos para se evitar erros durante o processo de execução. Além disso, demandar mais tempo para o complexo processo de planejamento do empreendimento, principalmente os para a fase de integração, evitando assim possíveis desperdícios e retrabalhos. Outro quesito de fundamental importância é a comunicação, com a disponibilização do conjunto de informações dentro do prazo necessário através do emprego da mais indicada metodologia que cabe aos gerentes e coordenadores, ou ainda por responsável pela coordenação do projeto.

Os profissionais de gestão de projetos devem portanto, saber conduzir e integrar os projetos, inter-relacionando as distintas disciplinas que o compõe, buscando sempre novas tecnologias que possam ser agregadas as atividades a ser desenvolvidas.


REFERÊNCIAS

FABRÍCIO, M. M. O Projeto Simultâneo na Construção de Edifícios. (Tese, Doutorado em Engenharia), Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002.

Guia PMBOK . Quarta Edição. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos, 2008.

MEDEIROS, A. A.O Processo de Definição do Escopo do Projeto segundo o PMBOK. Revista Ciências Gerais, Vol.15. Nº.21, Ano 2011.

MIKALDO, J. J; SCHEER, S. Compatibilização de projetos ou engenharia simultânea: qual é a melhor solução? VII Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projetos na construção de edifícios, 2007, Curitiba, 2007.

MISZURA, L. Coordenação de projetos: a importância da comunicação e coordenação no processo de projeto de empreendimentos residenciais e comerciais. 2012, Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 5ª Edição nº 005 Vol.01/2013

RODRIGUEZ, M. A. A. Gestão de projetos de edificações: sua evolução ao longo dos 10 últimos anos no Brasil. II Encontro latino-americano de Gestão da economia e construção. 2008.

SILVA, M. V. M. As atividades de coordenação e a gestão do conhecimento nos projetos de edificações, (Dissertação, Mestrado em Construção Civil), São Carlos, 2004.

SOTILLE, M. A.; MENEZES, L. C. N.; XAVIER, L. F. S.; PEREIRA, M. L. S. Gerenciamento de escopo em Projetos. 6ed. ED.FGV, 2007.

SOUZA, A. L. R. O projeto para produção das lajes de concreto armado de edifícios. (Tese de Mestrado em Engenharia), São Paulo: Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 1996.

VANNI, C. M. K. Análise de falhas aplicada à compatibilidade de projetos na construção de edifícios, (Dissertação, Mestrado em Engenharia de Produção), UFMG, 1999.

XAVIER, C. M. Gerenciamento de Projetos – Como definir e controlar o escopo do projeto. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.


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