A Jornada do Herói: De Romântico Príncipe idealista A Real Feiticeiro Alquimista.
Uma idílica Poesia escrita no Livro dos Mortos, entoa que a Vida Começa Quando o Medo termina. Portanto, após ouvir essa inspiradora récita oralmente grafada, podemos inferir que, absolutamente todas as doenças e infortúnios, são forjados justamente no relacionamento entre as partes, do mesmo modo como as estrelas circulam em torno do ponto central da galáxia, estabelecendo toda a física sidérea daquele conglomerado estelar. Dessa mesma forma, esse processo inevitavelmente ocorrerá, no instante em que um relacionamento; seja com o meio, com algo ou com alguém; se abalizar através do medo; medo este, oriundo de qualquer tipo de insegurança, relativa a perdas ou ganhos, dentro dessa mesma relação.
Nesse caso, essa poesia está impecavelmente exata. Não porque devamos simploriamente basear as nossas relações numa ou outra poesia qualquer, mas sim, porque qualquer relação, como um axioma, deveria ser a própria poesia vivida em si mesma. É como deixar que a flor ostente o seu olor e exponha a sua beleza naturalmente, sem que haja qualquer necessidade (egoísta) de colhe-la, tomando-a somente para si; visto que esse ato contínuo, determinará a morte da sua beleza e esplendor, extinguindo toda a química estabelecida na física dessa relação.
Essa é uma situação análoga à de uma criança: ela, a criança, não necessita se esforçar para ser alegre; pois ela, já é a própria alegria, vivendo absolutamente sem nenhum medo de ser feliz; sem as adultas bengalas das culpas e desculpas; ela apenas é. Ou seja, essa criança só aprenderá os pecados da vida quando passar pela sabatina da religião e da escola, como nós passamos, ao nos tornar produto desse meio adestrador e manipulador de corações e mentes. Inegavelmente, essa foi a pérfida forma com que a educação e a religião, sequestraram o nosso subjetivo, ao enclausurar a nossa criatividade e originalidade, nos obrigando a repetir todos os vorazes autores-predadores da narrativa dos povos.
Dessa maneira, nos transformaram em papagaios do futuro, que sempre repete o passado inventado e narrado como história dominante, nos forçando a entrar num letárgico looping robótico, sem que a gente se dê conta da condição submissa e subserviente, que sinceramente acabamos por normatizar, naturalizar e nos tornar multiplicador dessa pérfida realidade.
Sendo assim, uma vez inseridos nesse histórico contexto doentio como cobaias laboratoriais voluntariosas; as nossas relações também adoecem, sem que possamos conhecer as causas da moléstia. De tal modo que, passamos pela assunção de um processo de culpa interior, gestando um predador em nosso estômago, que nos tornaram amargamente discricionais conosco mesmo.
Logo, em meio a gravidade dessa doença terminal a qual fomos forçosamente acometidos, a única forma de cura, seria a da remição espontânea, instigada a partir do momento em que passamos a observar homeopaticamente os nossos medos, em vez de combate-los, como se estivéssemos defendendo um importante título numa arena de MMA. Então, atuando deste modo; como testemunhas de nós mesmos, e de nossos atos em si; em qualquer relação que se revele tempestuosa, teremos a consciência de que, todas as consequências por nós vivenciadas, nós fomos e somos a própria causa.
Depois de vencer com galhardia essa homérica luta hercúlea conosco mesmo, lançaremos uma polinizadora poesia pelo ar, trovando festivamente sobre o heroico ato de se enfrentar os terríveis monstros das sombras; monstros estes que foram forjados em nossa própria escuridão, durante essa incrível jornada relacional do herói de folhetim, que se transtornou em Senhor do Destino.
Todo esse autêntico aprendizado da história real, se encontra ocultado no fundo da nossa Memória, aguardando ansiosamente ser cutucado, e regado pela silente observação de si mesmo, enquanto um ser que deseja ser o que é. Essa longa jornada para se descobrir todas as pessoas existentes dentro da mesma pessoa, só pode ser percorrida pela pessoa que busca a si mesma; pois essa é uma jornada que não termina, até que essa pessoa reúna todas as pessoas que existe dentro dela numa só.
Portanto, enquanto o dito-cujo optar pelo duelo contra o seu semelhante, abrigando e acobertando os seus próprios monstros, ela jamais terá a oportunidade de iniciar a jornada do herói, a fim de ter a faculdade de escolha do próprio destino, visto que continuará servindo como entretenimento, sendo joguete dos mitos e dos arquétipos traçados pela intelectualidade discricionária.
Essa maravilhosa jornada de Alice é composta de intermináveis oitavas, numa escala de um a dez, aonde tudo é perfeitamente imperfeito; e em cada oitava percorrida, resgatamos um de nossos Eus pelo caminho, até chegarmos ao naipe aonde nos tornamos nosso próprio herói. É nesse ponto que descobrimos que, somos uma estrela de extrema grandeza, encarnado numa nano célula Cósmica, em meio ao mar universal do enigmático Omnverso. Em outras palavras, somos uma gota d’agua frente ao interminável oceano cósmico, como aquele singelo rio, que suavemente deslizou em direção ao Grande Calunga, quando repentinamente uma de suas pequeninas gotas, que não acreditava na existência desse tão comentado oceano, e boquiaberta, se deparou com aquele tremendo e misterioso Mar se fim.
Dessa maneira, podemos fazer dessa caminhada, uma brilhante aventura entre os verdejantes vales de um bucólico paraíso, ou podemos arrastar violentamente as margens que delimitam nosso caminho, como faria um emotivo tsunami, ou um raivoso touro frente a um ousado toureiro. O fato a ser observado é que, todo caminho se faz caminhando. Sendo assim, podemos escolher entre caminhar o caminho alheio, ou fazer o próprio caminho aonde ainda não há caminho. Ou seja, Ser o que se é, ou aceitar ser aquilo em que fomos transformados, eis a questão.
No final da jornada, veremos que não existe caminho certo nem errado, percebendo enfim, que tudo simplesmente se resume a escolhas e consequências: a primeira, nós dominamos e a segunda nos domina. É nessa nota da oitava que, aquele príncipe moldado por Maquiavel, se transmuta no Alquimista três vezes grande, vivido por Toth; é nessa perfeita jornada imperfeita, que se forja o herói da verdade.
Enfim, o silente oceano, de braços abertos, recebeu em seu regaço aquele minúsculo pingo, que, finalmente percebeu a sua grandeza, ao ver que, absolutamente tudo o que existia naquela imensidão, sempre esteve dentro dele. Dessa forma, aquela pequena gota compreendeu quanto tempo perdeu zombando dos peixinhos que não acreditavam em mundos que fossem diferentes do seu ambiente aquático, pois não admitiam que algum ser pudesse ser capaz de respirar fora d’agua.
Foi assim, que esse inaudito pingo; intrépido herói sem medo; passou a dar as boas-vindas a todas as gotas recém chegantes, com o coração, a mente e os braços abertos; enquanto dos seus olhos nasciam águas de regozijos, formando extensos oceanos de felicidade sobre aquele mar de profunda alegria. Dessa forma, o seu candeeiro pode iluminar as profundezas abissais nas gotículas do seu próprio ser, revelando o mar de beleza ocultado pelas sombras ulteriores.
Destarte, enquanto o ser humano continuar a desconhecer absurdamente o seu admirável mar interior, perdendo tempo em duvidar daquele que flutua e anda sobre as suas águas, a sua beleza continuará ocultada por suas sombras abissais. Para isso, é necessário construir um processo diferente do método de Narciso; um processo que nos possibilite mergulhar em nosso próprio mar, e jamais num tecnológico lago holográfico, que, como uma sedutora arapuca, ilusoriamente reflete a nossa imagem pré-fabricada; esta imagem falseada que absorve e transfere o nosso amor-próprio para o objeto de pulsão de morte.
A jornada poderá ser longa, até chegar o momento do caminho em que se faça mister andar sobre as próprias águas. Nessa hora, o medo deverá ser colocado numa embalagem a prova d’água, existente nos escaninhos do alforje, embutido nessa pesada bagagem carregada a ser descartada. Após essa caminhada sobre a Terra, sobre o Fogo e a Água, o cavalheiro ou a Dama, poderá alçar o voo da Liberdade plena, para observar do alto a longa jornada percorrida.
Assim, a transformação do herói se dará naturalmente, partindo daquilo que é imposto como ideal, até aquilo que se revela na plenitude do ser que ele realmente é. Dessa forma, ele verdadeiramente se conscientizará de que, Liberdade é não ter medo; e nesse ponto, sua vida começará de fato; quando o medo for abolido e a sua idílica poesia se iniciar em meio ao silêncio repousado, finalmente o relacionamento entre as partes se harmonizaram, como as estrelas que giram em torno do Sol galáctico; somando sempre, sem perdas ou ganhos; sendo tudo aquilo que se deseja ser.