A máquina, os meios de comunicação e as políticas  públicas de "inovação" na educação

A máquina, os meios de comunicação e as políticas públicas de "inovação" na educação

Perspectiva Histórica

A evolução da tecnologia educacional é caracterizada por um ciclo de esperanças e falhas. Esforços repetidos para introduzir novos dispositivos em escolas públicas muitas vezes enfrentam resistências que são negligenciadas ou absorvidas por gerações subsequentes de tecnologias. Este padrão realça a importância de aprender com experiências passadas e reconhecer que, apesar da evolução tecnológica, desafios significativos de integração e aceitação permanecem. A história nos ensina que o sucesso da tecnologia educacional não depende apenas da inovação tecnológica, mas também da capacidade de adaptar-se e responder às necessidades educacionais e contextos culturais específicos. Altas somas de dinheiro público no decorrer de mais de um século são e foram investidos nas instituições de ensino em nome da modernidade e do progresso. A parafernália tecnológica muitas vezes vira sucata antes até de mediar relações de ensino e aprendizagem.

Na década 20 do século passado, havia salas nas secretarias de educação para reposição das válvulas dos rádios, depois para a reposição das baterias, reposição das peças da televisão, computadores e, assim, por diante. Bem antes, do ipad, iphone e notebooks, as instituições de educação sempre foram um promissor mercado para as empresas de tecnologias. O lobby das feiras, dos influencers, dos políticos, representantes, dentre outros, sempre foi bastante convincente. É injusto afirmar que a escola não se "moderniza", caso esteja inserido nessa modernização compras de equipamentos e contratos bilionários com fornecedores.

Tradições Temáticas na Educação Tecnológica

A história da tecnologia educacional é moldada por três tradições temáticas principais, cada uma destacando um aspecto diferente da interação entre tecnologia e educação.

A Tradição Centrada na Máquina

A primeira tradição temática é a centrada na máquina. Ela foca nos aspectos tangíveis da tecnologia educacional, como os inventores e suas inovações, dispositivos criados e a infraestrutura necessária, como hardware e software. Esta perspectiva permite uma compreensão da evolução física das ferramentas tecnológicas e de como elas foram aplicadas para impactar o processo de aprendizagem. Desde o ábaco até os computadores modernos e tablets, esta tradição ilustra a "contínua inovação e adaptação de ferramentas" para educar e engajar estudantes.

Aqui está uma imagem representando um anúncio da máquina de ensinar de B.F. Skinner, do meio do século 20. O anúncio apresenta uma ilustração da máquina e destaca seus benefícios para aprendizado automatizado e personalizado, típico do progresso e inovação educacional da época. Os anúncios da máquina de aprender na década de 50 usavam as mesmas palavras que hoje usamos para enaltecer as plataformas adaptativas.

A Transformação dos Meios de Comunicação

A segunda tradição aborda como os meios de comunicação são transformados no contexto educacional. Esta análise vai além dos livros didáticos tradicionais para incluir recursos digitais interativos como vídeos, jogos educativos e plataformas de aprendizagem adaptativa. O foco aqui é em como diferentes formas de mídia influenciam o processamento da informação e a compreensão dos alunos, destacando também o papel das indústrias de materiais didáticos e software educacional na normalização e na eficácia percebida desses recursos.

As indústrias de materiais didáticos e software educacional desempenham um papel crucial na normalização e na eficácia dos recursos digitais interativos. Estas indústrias não apenas desenvolvem e distribuem esses materiais, mas também estabelecem padrões de qualidade e eficácia educacional. A colaboração com educadores para o desenvolvimento de conteúdo poderia assegurar que os materiais sejam pedagogicamente válidos e alinhados com os currículos educacionais vigentes.

Diversas narrativas normalizam os diferentes discursos sobre como as mídias têm impactos variados no processamento da informação pelos alunos. Vídeos e simulações, por exemplo, afirmam que podem facilitar a compreensão de conceitos complexos por meio de visualizações e representações dinâmicas que textos sozinhos talvez não consigam transmitir. Jogos educativos, por outro lado, afirmam que incorporam elementos de gamificação que podem aumentar a motivação e o engajamento dos alunos, promovendo ao mesmo tempo o aprendizado através da prática e repetição em um contexto lúdico.

Um dos maiores programas do governo federal é o PNLD ( programa nacional do livro didático), com pesquisadores na área de multimidias e interatividade.

Configurações Institucionais

A terceira tradição examina as configurações institucionais e o papel de conselhos escolares, organizações internacionais e políticas públicas. Essencial para a implementação e disseminação de tecnologias educacionais, esta perspectiva revela como as estruturas e sistemas educacionais existentes podem facilitar ou obstruir a adoção de novas tecnologias. Este olhar institucional é vital para entender as barreiras e as oportunidades na integração de tecnologias inovadoras no ambiente educativo.

Os governos federal e estaduais têm um papel crucial na formulação de políticas públicas que promovam a adoção de tecnologias educacionais. Eles são responsáveis pela criação de normas e regulamentos que podem incentivar ou dificultar a implementação de novas tecnologias. Além disso, podem fornecer o financiamento necessário para aquisição de equipamentos, formação de professores e manutenção de infraestrutura tecnológica nas escolas.

As secretarias de educação, tanto no nível estadual quanto municipal, são essenciais para a aplicação das políticas em uma escala prática. Elas são responsáveis pela implementação de programas e projetos educacionais, supervisão de currículos e apoio ao desenvolvimento profissional dos educadores. A integração de tecnologias educacionais deve estar alinhada com as diretrizes curriculares nacionais e adaptada às realidades locais, algo que as secretarias podem coordenar eficientemente.

As escolas e os educadores são os usuários finais das tecnologias educacionais e têm um papel vital na sua implementação prática. Os professores, em particular, precisam de formação contínua para poderem integrar novas tecnologias em suas metodologias de ensino de maneira eficaz. Além disso, a gestão escolar pode ajudar a adaptar o uso de tecnologia às necessidades específicas de seus alunos, garantindo que a tecnologia seja um complemento e não um substituto para o ensino de qualidade.

A comunidade e as famílias dos estudantes também devem ser consideradas como partes interessadas importantes. A tecnologia educacional pode estender a aprendizagem para além da sala de aula, e o envolvimento dos pais e da comunidade pode reforçar o uso da tecnologia e promover uma cultura de aprendizagem contínua.

Os acadêmicos e pesquisadores podem contribuir com estudos e avaliações que informem sobre as melhores práticas e os impactos reais das tecnologias educacionais. Essa análise crítica é essencial para ajustar estratégias e garantir que as intervenções tecnológicas sejam efetivas e promovam equidade educacional.

Olhando para os atores das políticas públicas para o setor da educação até hoje, é lastimável a ausência de diversos atores, principalmente daqueles que entendem do funcionamento da Escola pública lá na ponta.

Para entender mais sobre como funciona a política pública de educação no Brasil, recomendo a leitura do livro do Antonio Gois "O ponto a que chegamos".

A escola mudou aos trancos e barrancos, mas política para a educação mudou quase nada: os de cima mandam e os de baixo cedem.

Mas, enquanto existir docente...ele ou ela sempre será o culpado.

Góis, A. (2022). O ponto a que chegamos: Duzentos anos de atraso educacional e seu impacto nas políticas do presente. [Capa comum]. 12 de julho de 2022.


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